quinta-feira, março 25, 2010

A arte de lidar com as mulheres



Quem lê o título desse pequeno tratado (A arte de lidar com as mulheres), “um florilégio de sentenças”, imagina que vai encontrar ali, no mínimo, percepções agudas e excelentes dicas de como lidar com as mulheres (já que se propõe a revelar uma arte).

De fato, para alguém falar com propriedade sobre as mulheres é necessário ter não só perspicácia como também um conhecimento elevado e profundo de sua natureza: é preciso saber como elas pensam, sentem e agem, não só em geral, mas também em determinadas circunstâncias.

Obviamente o autor, ao expressar ali suas opiniões sobre as mulheres, julgou-se bastante conhecedor delas. Porém, embora não se possa dizer que ele desconhecia totalmente as mulheres, na verdade, nesse tratado, ele atirou em seu próprio pé, pois não encontramos, salvo em algumas passagens, muita coisa sensata. Ao contrário, damos de cara com um festival de bobagens ditas pelo (nada mais nada menos) grande e admirável filósofo Schopenhauer (e isso não é nenhuma ironia; ele é, de fato, grande e admirável, mas até mesmo os grandes filósofos podem dizer e disseram algumas asneiras).

Franco Volpi, autor da introdução e notas da edição da Martins Fontes, 2004, adverte-nos de que “ao ler-se o presente tratado, devem ser levados em conta os condicionamentos e as circunstâncias, ou seja, o pesado fardo da tradição machista e os atávicos preconceitos que calcam a pena de Schopenhauer” (XIV) ─ apenas um entre tantos filósofos falidos no amor.

Ora, o que se passou na cabeça de Schopenhauer ao escrever sobre as mulheres não expressa todo o seu pensamento ou toda a sua filosofia que, por mais que traga algumas ideias indefensáveis, é de inestimável valor e matéria para muitas teses e discussões interessantes. No fundo, eu o tenho em alta conta. Tanto que já lhe rendi aqui mesmo (neste blog) muitos elogios e escrevi também um TCC sobre o tema da liberdade da vontade em Schopenhauer. Mas isso não me impede de exclamar:

my god, há aqui tantas bobagens (e carregadas nas tintas) que ao lê-las dá vontade de sair berrando!!! (lembrei-me de alguém dizendo isso diante de um absurdo patente).

Ainda segundo Volpi, não se pode também desconsiderar “a difícil relação que Schopenhauer teve com a figura materna”, relação esta que provavelmente causou a “exacerbada misoginia e indefensável, quase caricatural, imagem da mulher que, em sua obra, Schopenhauer pretendeu fundar em bases metafísicas” (XVII-XVIII)

Desculpas e justificativas da inépcia schopenhaueriana à parte, e a despeito de alguém que possa argumentar que todo autor paga, de um certo modo, um certo tributo a seu tempo, vamos ao que interessa, ou seja, às proposições ricas de “aspectos hilariantes, aptas ─ como um clássico hors d’âge ─ a divertir qualquer um” (XXIX). Talvez alguém dissesse mais: aptas também a indignar as mulheres (e alguns homens sensíveis e inteligentes). Mas, no fundo, não dá para levar muita coisa a sério.

Eis, então, algumas “pérolas” schopenhauerianas:


“As mulheres são o sexus sequior, o sexo que sob qualquer ponto de vista é o inferior, o segundo sexo, e em relação a cuja fraqueza deve-se, por conseguinte, ter consideração. Contudo, demonstrar-lhes veneração é extremamente ridículo e nos diminui aos olhos delas” (p. 4).

Ora, talvez alguém possa defender que aqui nem tudo é bobagem. Como bem me lembrou o Aguinaldo, Schopenhauer teve algumas intuições básicas em relação às diferenças biológicas entre as mulheres e os homens dignas de consideração. Porém, dear Aguinaldo, nem por isso elas são sob qualquer ponto de vista inferiores. Talvez pudéssemos dizer que em relação à força física ou a determinadas aptidões elas sejam, respectivamente, mais fracas e menos habilidosas, do mesmo modo que os homens também o são em relação a outras qualidades e aspectos.

“A mulher no Ocidente, particularmente aquela que é chamada de “dama”, encontra-se em uma falsa posição, pois a mulher, que os antigos com razão chamavam de sexus sequior, não merece de forma alguma ser o objeto de nosso respeito e veneração, trazer a cabeça mais erguida que a do homem e ter os mesmos direitos que ele. Vemos perfeitamente as consequências dessa falsa posição. Seria, por conseguinte, muito desejável que também na Europa esse número dois do sexo humano fosse recolocado em seu lugar natural, e que se desse um fim a esse monstro chamado dama, do qual não apenas toda a Ásia se ri, mas também a Grécia e Roma teriam se rido; as consequências, no aspecto social, burguês e político, seriam incalculavelmente benéficas. [...] A verdadeira “dama” européia é uma criatura que simplesmente não deveria existir; o que deveria sim haver são donas de casa e moças que tivessem a esperança de vir a sê-lo, de forma que não seriam educadas para a arrogância, mas para a vida doméstica e a submissão” (p. 97-98).

Uau, essa é de doer! Simplesmente indefensável...

“Com toda razão, poder-se-ia chamar o sexo feminino de não-estético. Nem para a música, nem para a poesia, tampouco para as artes plásticas as mulheres têm, real e verdadeiramente, talento e sensibilidade; quando, porém, elas afetam ou simulam essas qualidades, de nada mais se trata senão de pura macaquice voltada a seu desejo de agradar” (p. 85).

“Quando as leis concederam às mulheres os mesmos direitos dos homens, elas deveriam ter lhes dado também um intelecto masculino” (p. 79).

Bom, se tivessem me oferecido um intelecto masculino eu o recusaria sem titubear.

Mas curioso é que o próprio Schopenhauer em algum lugar (não me lembro onde, sorry) afirma que os filhos herdam do pai o caráter e da mãe o intelecto (ou a inteligência). Ora, com base em que ele afirma que do pai herdamos o caráter e da mãe o intelecto?

Ademais, se os filhos herdam o intelecto ou a inteligência da mãe, como podem possuir intelectos superiores aos das mulheres? Bom, alguém poderia argumentar que o intelecto materno, ao se unir a características específicas da genética masculina, produz intelectos superiores. Bom, aí o caldo engrossa... 

“O domínio natural da mulher sobre o sexo masculino por meio da sensação de satisfação dura cerca de dezesseis anos. Aos quarenta anos, a mulher não está mais apta para a satisfação sexual” (p. 47).

Tá aí a mulherada (e a história) que o faz mentir.

Talvez ele devesse ter dito que ela não está mais apta à procriação, embora hoje em dia, apesar de não ser propriamente desejável que as mulheres resolvam procriar aos quarenta anos, não há mais nenhuma contra-indicação relevante ou impedimento natural para isso (com algumas exceções, é claro). E os fatos atestam que as mulheres ainda e depois dos quarenta estão sim aptas à satisfação sexual. Quanto a isso, Schopenhauer pisa feio na bola.

“Quando a natureza dividiu o sexo humano em duas partes, não fez o corte exatamente na metade. Em toda polaridade, a diferença entre o pólo positivo e o negativo não é puramente qualitativa, mas também quantitativa. É assim que também os antigos e os povos orientais viam as mulheres e, consequentemente, reconheciam a posição adequada a elas muito melhor do que nós, com nossa galanteria francesa fora de moda e nossa veneração despropositada às mulheres ─ a mais fina flor da estupidez germânico-cristã ─, que só serviu para torná-las arrogantes e sem consideração, fazendo às vezes lembrar os macacos sagrados de Benares, que, por terem consciência de sua santidade e inviolabilidade, se permitiam tudo e qualquer coisa” (p. 9-10).

Ai... sem comentários!

“As mulheres, como pessoas que, por causa da fraqueza de seu intelecto, são muito menos capazes do que os homens de entender, reter e tomar como norma princípios gerais, ficam em regra atrás deles em relação à virtude da justiça e, portanto, também da probidade e da retidão; por isso, a injustiça e a falsidade são seus fardos mais frequentes e a mentira seu elemento real. [...] A idéia de ver mulheres exercendo a magistratura desperta risos” (p. 93)

Ora ora Schopenhauer, eu diria, é você quem, aqui, nos desperta risos.

Ok, ok... não nos esqueçamos das intuições schopenhauerianas básicas sobre a vontade de vida e do instinto sexual no interesse da espécie. Não nos esqueçamos também de suas idéias até que sensatas sobre o casamento, a monogamia e a poligamia, mas que falta fez, na época, um exemplar do rei Juan Carlos para dizer ao menos em alguns momentos: “por qué no te callas” Schopenhauer?

Uma última observação: o título aqui não é o original de Schopenhauer, pois este ensaio, contido na obra Parerga e Paralipomena (1851), traz apenas o título Sobre as mulheres, e não A Arte de Lidar com as Mulheres.

quarta-feira, março 17, 2010

From Hume to Kant: Towards a Semantic Interpretation of the Transcendental Analytic

Workshop
From Hume to Kant:
Towards a Semantic Interpretation of the Transcendental Analytic
Universidade Estadual de Campinas
3 a 6 de maio de 2010

Realização:
Departamento de Filosofia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas - UNICAMP
Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência - UNICAMP
Programa de Pós-Graduação em Filosofia – IFCH-UNICAMP
Seção de Campinas da Sociedade Kant Brasileira
GT/GP Criticismo e Semântica da ANPOF


Participantes confirmados:
Andrea Luisa Bucchile Faggion (UEM/UNICAMP)
Daniel Omar Perez (PUC-PR)
Eduardo Salles de Oliveira Barra (UFPR)
José Oscar de Almeida Marques (UNICAMP)
Júlio César Ramos Esteves (UENF)
Orlando Bruno Linhares (Universidade Mackenzie)
Robert Hanna (University of Colorado)
Zeljko Loparic (UNICAMP)

Chamada de trabalhos:
Os trabalhos, em extensão apropriada para uma comunicação de 30 minutos, devem ser enviados na íntegra para o endereço eletrônico andreafaggion@yahoo.com.br até o dia 31 de março de 2010. As propostas devem versar sobre as obras de Hume e/ou Kant. Os textos devem conter: título, nome do autor (e do orientador, quando for o caso), instituição, endereço eletrônico do autor, resumo, palavras-chave, desenvolvimento e referêncisa bibliográficas, sendo digitados em formato A4, espaço 1,5, fonte Times New Roman, 12. É desejável que haja também uma versão do texto em língua inglesa e será dada preferência aos autores que a providenciarem.

Observação: Embora a chamada de trabalhos solicite o texto completo serão aceitos também apenas os resumos.

segunda-feira, março 15, 2010

II Encontro Hume



O Encontro Hume visa a consolidar o campo da reflexão filosófica e o estudo da filosofia de David Hume no âmbito dos estudantes de graduação, mestrado e doutorado. O I Encontro aconteceu em Outubro de 2009 no IUPERJ e contou com a apresentação de 18 trabalhos de estudantes de diversos estados, entre os quais São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Fortaleza, Paraná, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, além dos professores Renato Lessa e César Kiraly (IUPERJ), Lívia Guimarães (UFMG) e Paulo Tunhas (Universidade do Porto, Portugal).

O II Encontro Hume acontecerá nos dias 19, 20 e 21 de maio de 2010 na UFPR em Curitiba. Os palestrantes convidados são: Eduardo Barra (UFPR), Isabel Limongi (UFPR), José Oscar de Almeida Marques (UNICAMP) e Lívia Guimarães (UFMG).

Haverá inscrições para apresentação de comunicações (graduandos, mestrandos e doutorandos) e para ouvintes. Para apresentar uma comunicação o proponente deverá enviá-la para o e-mail encontrohume@gmail.com juntamente com os seguintes dados:

• Nome
• E-mail
• Endereço e telefone
• Título do trabalho
• Resumo com no máximo 300 palavras
• Instituição de origem e titulação
• E realizar o pagamento da taxa de inscrição no valor de R$ 15,00

A data limite para o envio dos resumos é 30 de março de 2010 e o resultado será divulgado no dia 05 de abril. Os ouvintes deverão enviar os seguintes dados para o e-mail encontrohume@gmail.com

• Nome
• Email
• Endereço e telefone
• E realizar o pagamento da taxa de inscrição no valor de R$ 15,00.

O pagamento da inscrição deverá ser feito através de depósito bancário na conta corrente de Anice Lima de Araújo: nº 10948-7, Agência nº 3610-2 (Banco do Brasil) O comprovante deverá ser enviado para o email encontrohume@gmail.com (sugerimos scanner, foto ou o comprovante emitido pelo banco on-line) até o dia 30 de março. Haverá entrega de certificado para os apresentadores de comunicação e ouvintes devidamente inscritos.

Organização:

André Olivier (UNISINOS)
Andrea Cachel (IFPR)
Anice Lima (UFMG)
Marcos Balieiro (USP)
Marília Côrtes (USP/FAPESP)
Rogério Mascarenhas (UFBA)

Promoção: UFPR

quinta-feira, fevereiro 25, 2010

Liberdade e Vontade em Locke

Recentemente publicado (set/dez/2009) na Revista Filosofia da Unisinos (volume 10, número 3) um artigo meu sobre Liberdade e Vontade em Locke http://revistas.unisinos.br/index.php/filosofia/article/view/5027

Eis o resumo:

Este artigo visa à apresentação e análise interna do compatibilismo de Locke, ou seja, da tese lockeana de que a liberdade é compatível com a necessidade natural. Para tanto, é focalizado o capítulo Do Poder (cap. XXI, livro II do Ensaio sobre o Entendimento Humano), em que Locke examina os conceitos de liberdade e vontade. Este estudo pretende mostrar que, embora Locke, por vezes, pareça se comprometer com teses incongruentes com o compatibilismo, ele é, essencialmente, um compatibilista. A impressão de que Locke defende teses incompatibilistas é desfeita, quando ponderamos com atenção o seu argumento geral sobre vontade e liberdade. Locke defende textualmente que o voluntário não se opõe ao necessário. Como compatibilista, ele sustenta que a vontade não é livre. Assim, o homem livre não pode ser aquele que é livre para querer. Um homem considerado como agente livre é aquele que tem liberdade de ação e não liberdade da vontade.

Palavras-chave: liberdade, vontade, compatibilismo, escolha, necessidade

Resenha: Hume e a Epistemologia

Eis-me aqui para comunicar que já há algum tempo (final de 2009) foi publicada na Princípios Revista de Filosofia da UFRN (volume 16, número 25), uma resenha de minha autoria do livro Hume e a Epistemologia, de João Paulo Monteiro. Para acessá-la  é só clicar no link acima.

quarta-feira, fevereiro 24, 2010

I Jornada em História da Filosofia: Hume e a Modernidade‏

O Grupo Hume UFMG-CNPq, com apoio da FAFICH-UFMG e PROEX-PAIE/UFMG, promove a Primeira Jornada em História da Filosofia nos dias 03 e 04 de março de 2010, em Belo Horizonte.

PROGRAMAÇÃO

• 03 de Março

14:15 - 14:30 Abertura: Lívia Guimarães (UFMG)
14:30 - 16:30 Hume sem Indução: João Paulo Monteiro (USP-Universidade Nova de Lisboa)
16:30 - 17:00 Intervalo
17:00 - 19:00 O conceito de Ilustração Luso-Brasileira: Maria Beatriz Nizza da Silva (USP)

• 04 de Março

14:00 - 15:30 Hume e a Epistemologia: uma leitura: Anice Lima de Araújo (UFMG)
15:30 - 16:00 Intervalo
16:00 - 17:30 As várias vozes de Hume: Bruno Pettersen (UFMG)
18:00 - 19:00 Reunião Grupo Hume
Organização: Grupo Hume UFMG-CNPQ

quinta-feira, fevereiro 18, 2010

Sem mais quê nem pra quê

The Mill | Van Rijn Rembrandt |1606-1669 | óleo sobre tela

Outro dia, quando trabalhava na tese, dei de cara com aquelas dúvidas cruéis acerca de como usar um termo ou como se escreve uma palavra. Era um simples que! Mas tive dúvidas se naquele contexto ele deveria levar acento ou não. Mais do que depressa me dirigi a um de meus dicionários. Abri meu Aurélio Eletrônico Século XXI:

E dá-lhe que daqui, dá-lhe que de lá: pronome interrogativo, pronome exclamativo, pronome relativo, advérbio, preposição, conjunção coordenada aditiva, alternativa, subordinativa, comparativa, conjunção subordinativa integrante, concessiva, causal, final... ufa! No final, partícula expletiva: expeli um PQP em alto e bom som de tanto que!

Mas o mais interessante disso tudo foi clicar num daqueles livrinhos do dicionário que mostram o uso desse monte de que, e ler ali nas conjunções coordenativas aditivas o seguinte pequeníssimo trecho do livro Despedidas do poeta português António Pereira Nobre (1867 -1900).

Passo os dias metido em meu moinho,
E mói que mói saudades e tristezas...

Tudo a ver... !

sábado, fevereiro 13, 2010

Bendita curiosidade!

“There are many questions in philosophy to which no satisfactory answer has yet been given. But the question of the nature of the gods is the darkest and most difficult of all…. So various and so contradictory are the opinions of the most learned men on this matter as to persuade one of the truth of the saying that philosophy is the child of ignorance…” (Cicero The Nature of the Gods, Book I).

Well… essas são as palavras de abertura da obra acima citada. Citei em inglês porque dentre as traduções que tenho aqui, a portuguesa e a francesa, é a que me soa mais agradável aos ouvidos. E eu tenho uma relação afetiva com os meus ouvidos.

Chega a ser estranho eu dizer isso porque a língua inglesa por muito tempo enroscou em meus ouvidos. A necessidade sempre urgente de entendê-la, devido à quantidade de textos que tinha e tenho de ler nessa língua, causava-me um verdadeiro desconforto. Eu tive que aprendê-la na necessidade, numa espécie de casamento com os textos e os dicionários.

Em geral, sempre louvei a língua francesa, pela beleza sonora, a agradável melodia, e pela familiaridade e facilidade com que aprendi a lê-la. E ela continua a soar de modo muito agradável, mas acho que li tantos textos em inglês ultimamente (tomei um verdadeiro porre no bom sentido) dessa língua, que agora ela se tornou tão familiar que posso mesmo dizer que me deleito ao lê-la e ouvi-la. E isso, é claro, não tem nada a ver com qualquer desconsideração a respeito de minha amada língua-mãe. Essa é minha, e é mãe! 

Mas voltemos à citação.

Meu propósito em apresentar essa passagem de Cícero diz respeito à pergunta que faço a mim mesma todos os dias quando me debruço sobre o tema da Religião Natural em geral e, por implicação, o tópico tão delicado da natureza dos deuses.

Se, como diz Cícero, a “questão da natureza dos deuses é a mais obscura e a mais difícil de todas”, pergunto: onde eu estava com a cabeça quando resolvi mergulhar nesse pântano? Bem sei que ela estava no lugar certo, exatamente em cima do meu pescoço. Ademais, como diz Hume na voz de Panfilo ─ narrador dos Diálogos sobre a Religião Natural,

“estas questões sempre foram objeto de disputas entre os homens e, relativamente a elas, a razão humana jamais chegou a alguma conclusão segura. Apesar disso, trata-se de questões de tão grande interesse que somos incapazes de refrear nossa incansável curiosidade sobre elas, mesmo que nossas pesquisas mais acuradas não tenham produzido até agora senão dúvidas, incertezas e contradições” (DRN, introdução, p.5). Sendo assim, sinto-me justificada em meu interesse.

segunda-feira, fevereiro 01, 2010

Pensando no chuveiro


Toda vez que vou tomar banho penso como é bom pensar debaixo do chuveiro. Percebo que ali meus pensamentos pululam... e fluem... parecem acompanhar a intensidade, o calor agradável e o fluxo da água.

Pena que ainda não inventaram um laptop à prova d’água, nem uma cadernetinha, um caderninho, um bloquinho, putz, qualquer coisa sobre a qual eu pudesse escrever sem precisar sair de lá, pois muitos dos meus pensamentos acabam escorrendo pelo ralo. Uma pena! Lá se foram...

Que ninguém me dê a ideia, please, de levar um mp3 para gravá-los. Já adianto que não seria a mesma coisa...