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domingo, março 17, 2024

Filósofo feminista

"À querida e saudosa memória daquela que foi a inspiradora, e em parte a autora, de tudo que há de melhor em meus escritos - a amiga e esposa, cujo exaltado senso de verdade e justiça foi meu estímulo mais forte, e cuja aprovação foi minha principal recompensa - dedico este volume. Como tudo que escrevi por muitos anos, este livro pertence a ela tanto quanto a mim; mas esta obra, tal como está, teve em medida muito insuficiente o inestimável benefício da revisão dela; algumas das partes mais importantes haviam sido reservadas para um reexame cuidadoso, que estão agora destinadas a não receber jamais. Se fosse eu capaz de interpretar para o mundo metade dos grandes pensamentos e nobres sentimentos que estão sepultados em seu túmulo, eu seria o meio para um benefício maior do que o que se possa obter de qualquer coisa que escreva sem contar com e sem ser assistido por sua incomparável sabedoria." 

(In: Sobre a liberdade, obra de John Stuart Mill [1806-1873] dedicada à sua esposa Harriet Taylor [1807-1858]). 

Na verdade, H. Taylor foi o grande amor da vida de Mill, vale frisar, já que nem sempre a esposa (ou o marido) e o grande amor da vida andam juntas, quero dizer, coincidem na mesma pessoa. Mas eles têm uma bela história de amor, cumplicidade, companheirismo e parceria intelectual, tal como se pode perceber nas poucas linhas dessa tocante dedicatória. 

Quanto ao fato de Mill ser aqui chamado de filósofo feminista, isso pode ser verificado, entre outros escritos, a partir da leitura de seu ensaio intitulado A sujeição das mulheres. Há uma boa edição das duas obras aqui mencionadas, com uma ótima introdução crítica, publicada pela Penguin-Companhia.

Harriet Taylor
[tela de autoria desconhecida]

[a arte da primeira imagem é de Gail Campbell]

sábado, março 15, 2014

Dedicatória

Ouvi dizer que ontem,
14 de março
foi o dia da poesia.
ora bolas, e poesia lá tem dia?

Não seria todo dia dia de poesia?
dia de mais poesia
dia de menos poesia?

Digamos, pois, que hoje é um dia de mais poesia!

Destino, então, esta pequena poesia
ao meu amor poético

com esta breve
muito breve
dedicatória:

ao meu lírico amor
um beijo
um licor.


Tal dedicatória, que acabo de escrever, me fez lembrar de um verbete contido nos Fragmentos de um discurso amoroso, de Roland Barthes. Eis o verbete:

Dedicatória:  "Episódio de linguagem que acompanha todo presente amoroso, real ou projetado, e, ainda, mais geralmente, todo gesto, efetivo ou interior, pelo qual o sujeito dedica alguma coisa ao ser amado". Entre muitas outras coisas que não caberão aqui, diz, ainda, Barthes: "Não se pode dar linguagem (como fazê-lo passar de uma mão a outra?), mas pode-se dedicá-la [...]. Nada podendo dar, dedico a própria dedicatória, que absorve tudo que tenho a dizer" (pp. 66-67-68).


L'Altare della Patria ~ Rome, province of Rome LazioLeonardo Bistolfi
[1859-1933]

quarta-feira, setembro 23, 2009

Relíquia de Amor

Toda vez que faço arrumações em meu quarto – que agora virou quarto de estudos ─ acabo revendo cartas e papéis que há muito estavam guardados ali. Sempre encontro umas coisinhas interessantes... relíquias, eu diria, que marcaram a minha vida.

Abri uma gaveta e encontrei hoje, pela milésima vez em tantos anos que guardei daqui pra lá e de lá pra cá, um livrinho pequenininho (desculpem-me a redundância, leiam como pura ênfase no tamanhinho dele), de capa dura, intitulado Amor Total.

Este Amor Total é, na verdade, um pequeno soneto de Vinicius de Moraes que, neste caso, apresenta-se numa edição ilustrada (com flores, folhas, pássaros e borboletas coloridas) por Joan Berg - Editora Record.

Eis o soneto:

Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.

Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

(Vinicius de Moraes)


Bom, este soneto ganhei de presente de um outro poeta.

Ao abrir o livro, encontrei uma dedicatória assim:

Marília:
Mostra teu desenho do amanhã
(por certo colorido e em paz)
que eu assisto:
raiando o dia colorido
como teu desenho vivo.

Ao final, depois do soneto, mais algumas palavras daquele que me presenteou:

Nossa vida
um dia despertará
em uma imensa primavera

Sei esperar
sem precisar dormir
o vôo da andorinha
que me foge
como você

mas estou aqui
te esperando
como quem nunca separou

(Antônio Thadeu Wojciechowski, em 23/07/80).

[Agui... não precisa ficar com ciúmes, pois nosso amor já mudou de folhas, pétalas e plumagens, mas continua (um) presente!!!].