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domingo, maio 03, 2009

Uma pitada de irreverência


Quando eu era pequena (e boazinha) e mesmo adolescente (e rebeldíssima) sempre fui ótima aluna (percebe-se que não acalento falsas modéstias rsrs). Depois, quando entrei na faculdade, continuei a ser boa aluna, mas era cada vez mais indisciplinada. Se eu não gostava ou não concordava com algo, toda a minha petulância vinha à tona. Aos 17 anos (1979), quando terminei o colegial, resolvi sair de casa depois de uma briga com meu pai. Na verdade, eu queria sair muito antes, logo que me tornei rebelde (aos 12 anos) e achava que sabia o que queria . Eu tinha ânsia de viver com liberdade, mas meu pai era extremamente repressor. Nesses três anos que vivi fora de casa até entrar na faculdade, só eu sei as poucas e boas (na verdade são muitas e boas) que aprontei até voltar pra casa, claro, depois de levar uns bons tombos e aqueles tapas que a vida dá. Resolvi tentar ser normal (não sabia que isso seria tão difícil) e entrar na faculdade como toda boa moça bem educada. Tinha, então, exatamente 20 anos.

No final de 2008, ao fazer uma bela limpa em minha casa, armários e maleiros, encontrei muitos cacarecos e coisas que guardava há anos. Uma dessas tantas coisas foi uma monografia (que hoje eu a qualifico de um tanto irreverente) que me vi obrigada a fazer para a disciplina de biblioteconomia, quando cursava o 2º. Período (primeiro ano) de Comunicação Social na Universidade Estadual de Londrina. Entrei no curso em 1982, disposta a ser jornalista, e saí em 1984, ou seja, não concluí o curso (vê-se que minha disposição se arrefeceu com o passar dos anos: jornalismo não era a minha praia).

Bom, quando a professora solicitou, sem me dar qualquer tema específico, que eu fizesse uma monografia para a tal disciplina, querendo apenas que a monografia correspondesse às normas formais exigidas, eu fiquei a pensar: sobre o que vou escrever? Na verdade eu não imaginava qualquer conteúdo apropriado (e monografia soava como um "palavrão"). Naquela fase da minha vida eu era uma hedonista incorrigível (hoje sou uma hedonista corrigível rsrsr). Embora gostasse de ler, estudar, e tivesse muita vontade de escrever não sabia ainda bem o quê, eu queria mesmo era namorar, e só pensava em satisfazer meus desejos. Esse seria o tema mais apropriado à ocasião, mas minha autocensura não permitia que eu me expusesse assim. Resolvi, então, escrever a http://mariliacortes.blogspot.com.br/2009/04/monografia-do-pensamento-no-exato.html que se segue logo abaixo (encontrei-a escrita à mão, em forma de rascunho, num papel já bem amarelado pelos 27 anos em que ficou guardada numa caixa de cartas e outros papéis).

domingo, abril 26, 2009

Monografia do Pensamento no Exato Momento do Ato




MONOGRAFIA DO PENSAMENTO
NO EXATO MOMENTO
DO ATO

Sob a
orientação do tempo

Resumo

A disciplina I BIB 129 solicita uma monografia para poder avaliar a distribuição da forma dentro dos padrões que a UEL determinou. Para isso, apenas escrevo o que penso procurando encaixá-lo nas normas exigidas.

Introdução

Imagino que minha professora está lendo e não entendendo muito bem o que estou escrevendo. Então, sinto a necessidade de explicar, já que tenho a perfeita consciência de que o tema esperado não tem nada a ver com isso aqui. Mas como o tema que deveria ser abordado não estará terminado até o prazo exigido para a entrega, imaginei que poderia montar uma monografia com algum outro tema, pois a disciplina exige analisar apenas a sua forma. O conteúdo a ser avaliado não pertence a ela [ao objetivo da disciplina]. Portanto, improviso um.


I. Paro, penso e escrevo

É extremamente gratificante sentir a necessidade de escrever sem ter um objetivo predeterminado que não seja o escrever. Sem querer, a gente pára e pensa: o que vou escrever? Daí a gente percebe... mas por que tenho que pensar no que vou escrever se já estou escrevendo? E o que é melhor ainda. Escrevendo porque estou pensando que quero escrever. Só isso.

Mas só? (penso) (escrevo)
Só!
Por quê? (penso) (escrevo)
Porque devo escrever.
Mas por quê? (penso) (escrevo)
Ora, porque tenho que distribuir palavras que no todo tomem a forma de uma monografia.
Mas por quê?

Porque eu curso o II período de Comunicação Social e nele está incluída uma disciplina que ensina muitas coisas referentes à bibliotecoMANIA, entre as quais, inclusive, fazer monografias.
Como foi ensinado, o sistema exige que se avalie o aprendizado. E eu me comprometi a mostrar o que aprendi. Por isso tento escrever livremente para preencher o espaço, ou seja, dar a forma exigida. Pois é, nessa de escrever o que penso, pensei: preencher o espaço: o que significa isso? Pode ser tanta coisa... Como? por exemplo?

Preencher o espaço vivendo a vida.
Preencher o espaço existindo simplesmente
Preencher o espaço comunicando algo.
Preencher o espaço pensando...
E por que não, escrevendo, simplesmente?

É, realmente nada está a me impedir. Nem o (pré)conceito que faço, ao imaginar o que minha professora está pensando. Imagino que ela está surpresa, pois tudo que não é esperado surpreende! Oh...! Imagino que ela pode não considerar esta monografia e, ao mesmo tempo, que pode perfeitamente, desde que isto esteja tomando a forma de uma. Ainda não sei se está. Penso que devo dar uma olhadinha no manual para conferir. Só que constatei que no momento não tenho o manual à mão, e como pretendo continuar a aproveitar o tempo que está me orientando a fazê-la, arriscarei continuando a escrever.

Lembro-me que a mais simples das mais simples monografias exige que se anuncie o assunto resumidamente, introduza-o depois que se define o tema e, posteriormente, tem-se que apresentá-lo e discuti-lo, a partir de um determinado ângulo para, finalmente, fazer uma análise crítica conclusiva do tema tratado.

Pois é, onde parei?
Acho que parei na apresentação. Devo, portanto, determinar o ângulo a partir do qual estou vendo. Tento olhar agora, não a partir do ângulo, mas para o ângulo a partir do qual estou vendo.
O que vejo?
Vejo que meu ângulo só está determinado pelo tempo no qual me proponho a escrever.
Que tempo?
O tempo que passa me fazendo pensar para escrever.
No caso não poderia ser pensar “e” escrever?
Não, porque no momento penso só “para” escrever.
Depois que penso isso, naturalmente começo a analisar o que escrevi para poder criticar e concluir.

II. Análise crítica do pensamento colocado

Ao analisar os pensamentos acima descritos, verifico que está sendo apresentada uma proposta de poder cumprir uma exigência de forma, que não necessariamente preencha as tais solicitadas. Não se pode negar que esta forma é nova. E tudo que é novo pode ser bem ou mal aceito. Pois é, pelo que foi apresentado, vê-se que quem escreve está tentando dar um nó em quem está lendo.
Como é possível cumprir exigências sem cumprir exigências?
Como é a própria pensadora que escreve, infelizmente, não se pode fazer nada para ela parar com isso.
Isso o quê?
Isso de tentar cumprir sem cumprir?
Ué, mas não era impossível?
Diz-se que sim. Mas a pensadora insiste em tentar.
Nessa, ela só está escrevendo e enrolando. De qualquer forma, tudo o que foi escrito pode não ser aceito, mas é impossível negar: não se pode apagar. Tomara que o escrito chegue lá.
Onde?
Lá... naquele lugar que tem forma de monografia.

III. Conclusão

De tudo o que foi pensado só posso concluir que pensar para escrever livremente faz com que a mente se torne mais livre... 

FIM

Pergunto: onde é que eu estava com a cabeça? Sinceramente não me lembro o resultado... se entreguei o trabalho, se ele foi aceito, se tive uma boa nota. Mas não importa, o que importa é que agora eu me divirto lendo e lembrando disso.