Sem querer ir muito fundo na questão (pois ela não
caberia nesse tempinho que tenho agora, tampouco no espaço desse mero post), sempre que me debato com as
dificuldades de levar a cabo a árdua tarefa de concluir minha tese, lembro de
uma passagem em que Philo (o personagem cético dos Diálogos de Hume), ao discorrer sobre as quatro circunstâncias das
quais “dependem todos ou a maior parte dos males que afligem as criaturas
sensíveis” (D 11 §§ 5-13: 107: 113), afirma que, para remediar esses males, ele
não exigiria que os seres humanos possuíssem as asas da águia, a velocidade do
cervo, a força do boi, as garras do leão, a couraça do crocodilo ou do
rinoceronte; e muito menos a sabedoria de um anjo ou querubim. Ele diz que
ficaria contente em escolher a intensificação de um único poder ou faculdade de
suas almas, ou seja, uma maior propensão para a operosidade e o trabalho, uma
motivação e atividade mental mais vigorosa, e uma inclinação mais constante
para o desempenho e a concentração (D 11 § 10: 110).
Caramba! Eu também ficaria bem contente. Sinto que o maior demônio da produção acadêmica é a inclinação natural à
dispersão da mente (motivos não nos faltam), e que um poder maior de
concentração seria uma verdadeira dádiva para as mentes daqueles que se
encontram diante da necessidade de realizar tal tarefa.
[Hume, David. Dialogues Concerning Natural Religion. Edited by J. C. A. Gaskin. New York. Oxford University Press, 2008]