Um dia, no ano de 1987, ganhei de aniversário do meu pai uma agenda chamada Diário Poético de Mário Quintana. Cada página, de cada dia, trazia um poema, um verso, uma trova ou uma frase.
Bom, já se passaram 22 anos e eu nunca consegui me desfazer dessa agenda. Ao fazer uma arrumação geral na tranqueirada, encontrei-a esquecida numa velha prateleira, toda amarelada, carcomida pelo tempo, com a capa desmantelada (mas colada com papel contact), e, imagino, uma quantidade incalculável de inimigos invisíveis - colônias de fungos que se alimentam dos restos de cola e papel velho. Pensei: devo jogar fora? Talvez... mas imediatamente me convenci de que não.
Ganhei do meu pai (motivo mais do que suficiente).
E eu gosto dela... ponto final!
Ganhei do meu pai (motivo mais do que suficiente).
E eu gosto dela... ponto final!
Depois, vacilei novamente: puxa, mas está velha demais, carcomida demais! Tsts... deixa eu dar mais uma olhada. Sabia que a tinha guardado porque gostava, de vez em quando, de ler e refletir sobre um poeminha ou outro, em geral, tão simples e curtinho. Li vários novamente. Diversos me chamaram a atenção; outros não! Mas esse, ah... esse eu não resisti. Eis-o aí:
Epitáfio
Que importa restarem cinzas,
Se a chama foi bela e alta?
Epitáfio
Que importa restarem cinzas,
Se a chama foi bela e alta?
[Well... gosto pela simplicidade, pela impassibilidade, mas nem sou tão simples e impassível assim, aliás, não sou nada assim. Talvez, por isso, eu goste].