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terça-feira, janeiro 29, 2019

Void





A tristeza irreparável
Daquele que sabe que nada serve nem vale,
Que o esforço é um absurdo desgaste,
Que a vida é um espaço vazio,
Porque a desilusão vem sempre através da ilusão
E parece que a Morte é o sentido da Vida...
É isto, mas não é só isto, que tu vês no meus rosto
E faz com que olhes para mim, de vez em quando, disfarçadamente...

Fernando Pessoa | in: Poemas de Álvaro de Campos | Editora Saraiva de Bolso | 2012.


quarta-feira, maio 17, 2017

Dia Internacional contra a Homofobia




"[...]  Mesmo coberto de lama, eu te louvarei; dos abismos mais profundos, clamarei por ti. Na minha solidão estarás comigo. [...] O que a sabedoria representa para o filósofo, o que Deus representa para o santo, tu és para mim. Manter-te na minha alma, tal é o objetivo dessa dor que os homens chamam de vida. Ó meu amor, que eu amo acima de todas as coisas, narciso branco no campo agreste, pensa na dura tarefa que te compete, tarefa que só o amor pode tornar mais leve. Mas não te entristeças por isso, antes sê feliz por ter enchido de amor imortal a alma de um homem que agora chora no inferno, mas leva o céu no coração. Eu te amo, eu te amo, meu coração é uma rosa que teu amor fez florescer, minha vida é deserto arejado pela brisa deliciosa do teu hálito e cujas fontes frescas são teus olhos; a marca de teus pezinhos cria vales de sombra para mim, o aroma de teus cabelos é como a mirra; por onde passas, exalas o perfume das acácias.

Ama-me sempre, ama-me sempre. Foste o amor supremo, o amor perfeito da minha vida; não pode haver outro.

[...] 

Ó mais doce dos meninos, mais amado dos amores, minha alma busca a tua, minha vida é tua vida e em todo o mundo de dor e prazer, és meu ideal de admiração e alegria." 

[ De Oscar Wilde para Lorde Alfred Douglas | 1895 ]


[ Cartas de amor de homens notáveis | Editado por Ursula Doyle | Tradução de Doralice Lima | Rio de Janeiro | BestSeller | 2010 | p.140-141 ]

terça-feira, maio 09, 2017

Ausência


"Antes, tu estavas. Agora, tu não estás mais. O agora é um agora sem ti. Lá fora, tão mansamente cai a chuva. Mas é uma chuva sem ti, e não importa quão mansamente ela caia, não importa nem mesmo que seja ela ou não a chuva, porque ela, assim como todas as outras coisas, são coisas sem ti. E eu mesmo – eu respiro sem ti, meu coração pulsa sem ti em algum lugar fora do lugar do coração, eu me olho no espelho e verifico que sou uma face sem ti, meus olhos sem ti são dois buracos ocos sem serventia, já que a única serventia que eles tinham era olhar-te e agora, sem ti, eles miram estupidamente o vazio. Não me encontro alegre nem triste. Alegria e tristeza eram somente possíveis por ti, ou em teu louvor. Agora que te foste, não há razão alguma pela qual possa eu alegrar-me ou entristecer-me. Há apenas esse apático e despovoado e monótono agora sem ti e, dentro dele, lágrimas que verto sem razão."


[ Ygor Raduy | Pequeno Manual de Coisas Absolutamente (Ir)Relevantes ]




art by Mantha Tsialiou 

sexta-feira, março 17, 2017

Rima


a tristeza
tem sua beleza
e ainda por cima
rima


[ Homeward Bound | by Catrin Welz-Stein ]

terça-feira, outubro 01, 2013

Da tristeza


Portrait of a Woman | by Anna Lea Merritt |1844-1930


"Falar está acima de minhas forças, minha língua engrola, uma chama sutil percorre-me as veias, mil ruídos confusos soam-me aos ouvidos e o véu da noite estende-se sobre os meus olhos" (Catulo apud Montaigne | Ensaios I).


segunda-feira, novembro 12, 2012

O tic-tac solitário do amor



Este é um daqueles momentos em que escrevo para evitar que uma granada exploda em meu peito. Yesterday, passei horas e horas a ler e escrever sobre as Cartas a um jovem poeta de Rainer Maria-Rilke [1875-1926]. Elas são de uma beleza e profundidade abissais. Tais Cartas (publicadas em 1929, três anos após a morte de Rilke) foram escritas originalmente como respostas às inquietações de um jovem, Franz Xaver Kappus, que ambicionava ser poeta. Rilke, após algumas observações prévias, responde à primeira carta começando do seguinte modo: “O senhor me pergunta se os seus versos são bons. [...] Agora (como me deu licença de aconselhá-lo) ...”

Sucedem-se daí dez cartas repletas de considerações sobre vários temas, dentre os quais, a arte a crítica o artista e o ato de criar; a quietude a solidão o silêncio e a grandeza; o amor o sexo e o instinto; a felicidade a beleza e a tristeza; a infância a inquietude do jovem e a maturidade; a coragem a covardia e a dúvida; a existência, Deus e a morte. What else?

Rilke fala das profundezas da vida com toda a densidade poética que o caracteriza.  Ao tocar nesses temas, Rilke oferece diversos conselhos a seu jovem interlocutor. Estes vão muito além da dimensão pessoal e interpessoal de suas Cartas ─ tocam qualquer ser racional sensível. E tocam ainda mais, creio eu, aqueles seres racionais sensíveis cujos corações ardem e explodem de amor.

E por falar em amor, transcrevo abaixo trechos da sétima carta, escrita em Roma (no dia 14 de maio de 1904). A propósito, precisamente 58 anos antes do exato dia de meu nascimento. Ao escrever esta carta Rilke tinha apenas 29 anos. Nela, ele estabelece uma indissociável relação entre amor e solidão. Pois bem...

“Não se deixe enganar em sua solidão só porque há algo no senhor que deseja sair dela. Justamente esse desejo o ajudará, caso o senhor o utilize com calma e ponderação, como um instrumento para estender sua solidão por um território mais vasto. As pessoas (com o auxílio de convenções) resolveram tudo da maneira mais fácil e pelo lado mais fácil da facilidade; contudo é evidente que precisamos nos aferrar ao que é difícil; tudo o que vive se aferra ao difícil, tudo na natureza cresce e se defende a seu modo e se constitui em algo próprio a partir de si, procurando existir a qualquer preço e contra toda resistência. Sabemos muito pouco, mas que temos de nos aferrar ao difícil é uma certeza que não nos abandonará. É bom ser solitário, pois a solidão é difícil; o fato de uma coisa ser difícil tem de ser mais um motivo para fazê-la.”


“Amar também é bom: pois o amor é difícil. Ter amor, de uma pessoa por outra, talvez seja a coisa mais difícil que nos foi dada, a mais extrema, a derradeira prova e provação, o trabalho para o qual qualquer outro trabalho é apenas uma preparação. Por isso as pessoas jovens, iniciantes em tudo, ainda não podem amar: precisam aprender o amor. Com todo o seu ser, com todas as forças reunidas em seu coração solitário, receoso e acelerado, os jovens precisam aprender a amar. Mas o tempo de aprendizado é sempre um longo período de exclusão, de modo que o amor é por muito tempo, ao longo da vida, solidão, isolamento intenso e profundo para quem ama. A princípio o amor não é nada do que se chama ser absorvido, entregar-se e unir-se com uma outra pessoa. (Pois o que seria uma união do que não é esclarecido, do inacabado, do desordenado?). O amor constitui uma oportunidade sublime para o indivíduo amadurecer, tornar-se algo, tornar-se um mundo, tornar-se um mundo para si mesmo por causa de uma outra pessoa; é uma grande exigência para o indivíduo, uma exigência irrestrita, algo que o destaca e o convoca para longe. Apenas neste sentido, como tarefa de trabalhar em si mesmo (‘escutar e bater dia e noite’), as pessoas jovens deveriam fazer uso do amor que lhes é dado" (Rilke 2010: 64-66). Tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac...


Rilke, Rainer Maria. Cartas a um jovem poeta. Tradução de Pedro Sussekind. Porto Alegre: L&PM, 2010.


[Saatchi Online Artist Patrick Palmer; Painting, "Crying Lightly"].

quinta-feira, fevereiro 18, 2010

Sem mais quê nem pra quê

The Mill | Van Rijn Rembrandt |1606-1669 | óleo sobre tela

Outro dia, quando trabalhava na tese, dei de cara com aquelas dúvidas cruéis acerca de como usar um termo ou como se escreve uma palavra. Era um simples que! Mas tive dúvidas se naquele contexto ele deveria levar acento ou não. Mais do que depressa me dirigi a um de meus dicionários. Abri meu Aurélio Eletrônico Século XXI:

E dá-lhe que daqui, dá-lhe que de lá: pronome interrogativo, pronome exclamativo, pronome relativo, advérbio, preposição, conjunção coordenada aditiva, alternativa, subordinativa, comparativa, conjunção subordinativa integrante, concessiva, causal, final... ufa! No final, partícula expletiva: expeli um PQP em alto e bom som de tanto que!

Mas o mais interessante disso tudo foi clicar num daqueles livrinhos do dicionário que mostram o uso desse monte de que, e ler ali nas conjunções coordenativas aditivas o seguinte pequeníssimo trecho do livro Despedidas do poeta português António Pereira Nobre (1867 -1900).

Passo os dias metido em meu moinho,
E mói que mói saudades e tristezas...

Tudo a ver... !