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sábado, março 03, 2018

Notas sobre um acidente



Derrapou! E eis que salta a gigantesca abóbada do império. O automóvel toma vida própria, tal como se dissesse.

─ My lady, agora quem manda aqui sou eu. Adeus e passe bem, talvez mesmo desta para melhor. No freedom, no liberty, no power. Não há nada que possas fazer. Não há braço, cálculo, controle. Não há destreza, freio, câmbio, pneu ou direção. Testemos as engrenagens de tua vida. Vejamos se os gonzos estão bem ajustados. Testemos a tua sorte.

A estrada é perigosa. Não é à toa que a chamam de estrada da morte. Naquele minuto, a mente relê a história ─ a 120 quilômetros por hora. Dentro, tudo gira sobre si ao som de estilhaços. Fora, há o frio, a garoa, a neblina, a curva, o óleo na pista, o barranco, a vala, a lama.

Vê-se a viola em cacos. Os óculos, os sapatos, o notebook,  a tese. Livros, artigos, documentos, celulares ─ a vida  ─ tudo pelos ares.  Capotadas, piruetas, solavancos, hematomas e dores pelo corpo. But no cuts, no bloodno serious injuries, no broken bones. Lá se vai um brinco. Também um carro, um presente, um passado.


photo by © Tami Bone