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quinta-feira, fevereiro 25, 2021

Namorados do Mirante


Eles eram mais antigos que o silêncio
A perscrutar-se intimamente os sonhos
Tal como duas súbitas estátuas
Em que apenas o olhar restasse humano.
Qualquer toque, por certo, desfaria
Os seus corpos sem tempo em pura cinza.
A Remontavam às origens — a realidade
Neles se fez, de substância, imagem.
Dela a face era fria, a que o desejo
Como um hictus, houvesse adormecido
Dele apenas restava o eterno grito
Da espécie — tudo mais tinha morrido.
Caíam lentamente na voragem
Como duas estrelas que gravitam
Juntas para, depois, num grande abraço
Rolarem pelo espaço e se perderem
Transformadas na magma incandescente
Que milénios mais tarde explode em amor
E da matéria reproduz o tempo
Nas galáxias da vida no infinito.

Eles eram mais antigos que o silêncio...


[ Vinicius de Moraes | 1913-1980 | Nova antologia poética | Cia de Bolso]


by Shira Barzilay

quarta-feira, setembro 23, 2009

Relíquia de Amor

Toda vez que faço arrumações em meu quarto – que agora virou quarto de estudos ─ acabo revendo cartas e papéis que há muito estavam guardados ali. Sempre encontro umas coisinhas interessantes... relíquias, eu diria, que marcaram a minha vida.

Abri uma gaveta e encontrei hoje, pela milésima vez em tantos anos que guardei daqui pra lá e de lá pra cá, um livrinho pequenininho (desculpem-me a redundância, leiam como pura ênfase no tamanhinho dele), de capa dura, intitulado Amor Total.

Este Amor Total é, na verdade, um pequeno soneto de Vinicius de Moraes que, neste caso, apresenta-se numa edição ilustrada (com flores, folhas, pássaros e borboletas coloridas) por Joan Berg - Editora Record.

Eis o soneto:

Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.

Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

(Vinicius de Moraes)


Bom, este soneto ganhei de presente de um outro poeta.

Ao abrir o livro, encontrei uma dedicatória assim:

Marília:
Mostra teu desenho do amanhã
(por certo colorido e em paz)
que eu assisto:
raiando o dia colorido
como teu desenho vivo.

Ao final, depois do soneto, mais algumas palavras daquele que me presenteou:

Nossa vida
um dia despertará
em uma imensa primavera

Sei esperar
sem precisar dormir
o vôo da andorinha
que me foge
como você

mas estou aqui
te esperando
como quem nunca separou

(Antônio Thadeu Wojciechowski, em 23/07/80).

[Agui... não precisa ficar com ciúmes, pois nosso amor já mudou de folhas, pétalas e plumagens, mas continua (um) presente!!!].