Mostrando postagens com marcador antropomorfismo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador antropomorfismo. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, agosto 30, 2019

O Fideísmo Místico de Demea e sua crítica ao Antropomorfismo nos "Diálogos" de Hume




Sensação boa essa de chegar em casa e encontrar um 'packet' contendo aquele artigo publicado depois de tanto tempo guardado e aguardado.

Apesar da espinhosa especificidade do tema, foi escrito no espírito segundo o qual "as decisões filosóficas nada mais são do que as reflexões da vida ordinária, sistematizadas e corrigidas" (EHU 12 | Hume | 1711-1776).

acesso em

Síntese: Revista de Filosofia da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia.





Hume, nos Diálogos sobre a religião natural, faz com que o personagem Demea defenda algumas teses que, a meu ver, podem ser formuladas do seguinte modo: i) a assimilação dos tradicionais atributos divinos depende de argumentos místico-religiosos, pois nossa razão, embora seja potente para provar a existência de Deus, não tem poderes para nos dizer qual a sua natureza; ii)  o antropomorfismo implicado na tese de Cleanthes é inaceitável; e iii) a existência de Deus pode e deve ser demonstrada por um argumento formal ou prova a priori. Pretendo, neste artigo, examinar conjuntamente as duas primeiras teses, uma vez que as entendo como teses solidárias, isto é, uma implica a outra. Defendo que o fideísmo místico (ou misticismo religioso) de Demea está circunscrito à sua concepção religiosa cristã e que seu compromisso mais forte em sua crítica ao argumento do desígnio é com a teologia racional subjacente à prova da existência de Deus. Para tanto, faço um exame dos argumentos que Demea oferece contra o antropomorfismo implicado no argumento do desígnio e suas relações com aquilo que chamei de fideísmo místico.

Palavras-chave: Religião Natural, Existência de Deus, Natureza Divina, Fideísmo Místico, Antropomorfismo.


quarta-feira, setembro 13, 2017

Considerações sobre o princípio de proporcionalidade entre a causa e o efeito nos Diálogos de Hume


Transcrevo abaixo o resumo de meu trabalho apresentado no VI Encontro Hume, em agosto de 2017, na UFMG/BH. Devo dizer que pela primeira vez fui com o texto prontinho, redondinho, sem uma vírgula sequer a mexer, devidamente calculado para o tempo programado de 30 minutos. Fechei o texto em 9 páginas e constatei que poderia lê-lo em 25', ou seja, com 5 minutos de sobra para uma introdução e comentários no meio da leitura.

Em geral, sempre vou a eventos com o texto inacabado e, por isso, viajo preocupada com a apresentação, especialmente porque depois que a gente sai de casa e chega ao evento fica difícil retomar a concentração e trabalhar ainda no texto. Mas dessa vez foi diferente. Não havia mais nada a mexer, cortar ou acrescentar.

Tal texto é uma pequena parte (9 pgs) do segundo capítulo (60 pgs) de minha tese de doutorado (195 pgs). Há tempos não a lia. Gostei do que li rs. Mas tive que ler, reler, treler, cortar, reler, alterar, reler, cortar, putz, é um sofrimento. Mas valeu. Cheguei em BH na quinta-feira anterior ao evento (que começava na segunda). Pude comemorar com uma de minhas filhas (que também foi para lá) o aniversário dela, passear pela bela Belô e também conhecer Inhotim (o must), relax, sem nem precisar tocar no texto. O conforto, a tranquilidade e a segurança de já tê-lo pronto não têm preço.

Eis o resumo

Woman Writing | Picasso | 1934 | Oil on canvas

O tema central dos Diálogos sobre a Religião Natural dirige-se a uma análise do argumento do desígnio, defendido pelo personagem Cleanthes, segundo o qual a existência de um criador sumamente inteligente, justo, poderoso e benevolente pode ser inferida a partir da ordem e da beleza que observamos no mundo. Este argumento reclama uma resposta para a questão acerca de se temos fundamentos razoáveis para acreditar numa divindade (entendida como princípio originário do universo ou causa primeira) dotada de suprema inteligência, atributos e intenções morais, e procede por analogia explorando as similaridades entre os artifícios da natureza e certos artefatos humanos, a fim de provar que a mente divina é de algum modo similar à mente humana. Na seção 11 da EHU e também nos Diálogos, Hume, em sua investida contra o argumento do desígnio, recorre ao princípio de proporcionalidade entre a causa e o efeito. Ali, o personagem amigo epicurista de Hume estabelece que “quando inferimos qualquer causa particular de um efeito, devemos guardar a proporção entre eles, não sendo jamais permitido atribuir à causa quaisquer qualidades que não sejam precisamente aquelas suficientes para produzir o efeito. [...] e que se a causa atribuída a algum efeito não for suficiente para produzi-lo, devemos ou rejeitar essa causa ou acrescentar-lhe qualidades que a tornem corretamente proporcional ao efeito” (EHU 11 § 12: 190). Fiel a este princípio, Philo, o principal crítico do argumento do desígnio, afirma nos Diálogos que “quanto maior a semelhança dos efeitos que são vistos, e a semelhança das causas que são inferidas, mais forte é o argumento, e que, portanto, qualquer afastamento diminui a probabilidade e torna o experimento menos conclusivo” (D 5 § 1: 67). Com essa regra em mãos, Philo vai extrair algumas consequências inconvenientes que se seguem dos princípios que Cleanthes assumiu (like effects prove like causes) em defesa de seu próprio argumento, isto é, em defesa do argumento do desígnio. É sobre a relevância de tais princípios e consequências para a hipótese do desígnio que pretendo aqui discutir. (e foi o que eu fiz). C'est fini!

sexta-feira, abril 09, 2010

Teologia e Antropomorfismo

Eis o resumo da minha comunicação para o  II Encontro Hume que acontecerá entre os dias 19 e 21 de maio de 2010 na UFPr.

Teologia e antropomorfismo nos Diálogos sobre a Religião Natural de Hume

De acordo Demea, a defesa do argumento do desígnio, levada a cabo por Cleantes, carrega consigo o antropomorfismo e, por essa razão, seria possível afirmar a sua improcedência. Para Demea, “ao representarmos a Divindade como sendo tão inteligível e compreensível, e tão similar à mente humana, tornamo-nos culpados da mais grosseira e tacanha parcialidade e nos arvoramos em modelo de todo o Universo” (D III §12: 53). Ao procedermos assim, ilegitimamente inferiorizamos a divindade e elevamos os atributos humanos. Demea argumenta em favor de que todos os materiais do pensamento são provenientes somente de duas fontes: sentidos internos e sentidos externos, os quais compõem toda a bagagem do entendimento humano (D III §13: 54). Sendo assim, os materiais do nosso pensamento não se assemelham em aspecto algum a inteligências tão distintas e distantes como as que separam as inteligências humanas da inteligência divina. Na visão de Demea, “a debilidade de nossa natureza não nos permite apreender quaisquer ideias que tenham a mínima correspondência com a inefável grandiosidade dos atributos divinos” (D III §13: 55). Por conseguinte, não podemos dizer que Deus raciocina como nós, visto que nossos pensamentos são fugazes, vacilantes e incertos. Nossos padrões de verdadeiro ou falso não se aplicam aos juízos que fazemos sobre os atributos divinos. Sendo assim, não podemos descrever Deus com as mesmas palavras que usamos para falar de criaturas tão limitadas e corruptas como os seres humanos. Ora, que opções teríamos, então? Como pensar ou falar sobre Deus? Isto considerado, minha comunicação se concentrará na crítica de Demea ao antropomorfismo empreendida nos Diálogos, não obstante eu esteja ciente de que na História Natural da Religião podemos encontrar consideráveis desenvolvimentos acerca do tema. Essa restrição aos Diálogos se justifica em virtude de meu propósito. Pretendo discutir o papel que a crítica ao antropomorfismo desempenha na discussão sobre a validade do argumento do desígnio promovida nos Diálogos. Convém esclarecer que discutirei este ponto tomando como referência a participação do personagem Demea, embora a expectativa comum fosse, talvez, tomar como referência o personagem Fílon. Nesse caso, minha pretensão é dupla, pois viso não somente discutir o antropomorfismo nos Diálogos, mas também dar voz a Demea procurando trazer à superfície sua importância como personagem dos Diálogos.