sexta-feira, maio 26, 2017

Diálogos sobre a religião natural


"No caso dos raciocínios teológicos [...] 
somos como forasteiros numa terra estranha,
aos quais tudo parece suspeito" (D 1 § 10: 37).

[ William Blake | O primeiro dia |1794 ]

Os Diálogos Sobre a Religião Natural, escritos entre 1751 e 1755 e publicados em 1779, constituem-se num dos mais importantes e influentes textos filosóficos de Hume, bem como num dos mais belos e engenhosos exemplos de diálogo filosófico. E embora a obra seja voltada para a temática da filosofia da religião, ela é uma contribuição de primeira grandeza para investigações filosóficas mais gerais como, por exemplo, metafísica, teorias do conhecimento, e também para a própria filosofia moral ou ciência da natureza humana que Hume pretendeu fundar. Nesse sentido, o texto dos Diálogos é um clássico filosófico amplamente reconhecido que figura entre as obras mestras de Hume.


Acesso ao cronograma do evento em http://filosofia.ufsc.br/

I'll be there...


quarta-feira, maio 24, 2017

A um ausente


Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.

Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu,
enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
por que o fizeste, por que te foste.


Carlos Drummond de Andrade | 'A Um Ausente' | In: Farewell | Poesia Completa | Editora Nova Aguilar | Rio de Janeiro | 2007



Qualquer ser humano que conhece o amor e a dor da perda de um amor, ou de um amigo, sentir-se-ia, creio eu, profundamente tocado por esse belíssimo e penetrante poema. Mas nem todos, talvez, procurassem saber a trágica história que ele conta. A quem interessar possa, deixo aqui o link que a conta, por Marcelo Bortoloti:

http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2015/07/1659927-a-homossexualidade-na-vida-e-na-obra-de-carlos-drummond-de-andrade.shtml


quarta-feira, maio 17, 2017

Dia Internacional contra a Homofobia




"[...]  Mesmo coberto de lama, eu te louvarei; dos abismos mais profundos, clamarei por ti. Na minha solidão estarás comigo. [...] O que a sabedoria representa para o filósofo, o que Deus representa para o santo, tu és para mim. Manter-te na minha alma, tal é o objetivo dessa dor que os homens chamam de vida. Ó meu amor, que eu amo acima de todas as coisas, narciso branco no campo agreste, pensa na dura tarefa que te compete, tarefa que só o amor pode tornar mais leve. Mas não te entristeças por isso, antes sê feliz por ter enchido de amor imortal a alma de um homem que agora chora no inferno, mas leva o céu no coração. Eu te amo, eu te amo, meu coração é uma rosa que teu amor fez florescer, minha vida é deserto arejado pela brisa deliciosa do teu hálito e cujas fontes frescas são teus olhos; a marca de teus pezinhos cria vales de sombra para mim, o aroma de teus cabelos é como a mirra; por onde passas, exalas o perfume das acácias.

Ama-me sempre, ama-me sempre. Foste o amor supremo, o amor perfeito da minha vida; não pode haver outro.

[...] 

Ó mais doce dos meninos, mais amado dos amores, minha alma busca a tua, minha vida é tua vida e em todo o mundo de dor e prazer, és meu ideal de admiração e alegria." 

[ De Oscar Wilde para Lorde Alfred Douglas | 1895 ]


[ Cartas de amor de homens notáveis | Editado por Ursula Doyle | Tradução de Doralice Lima | Rio de Janeiro | BestSeller | 2010 | p.140-141 ]

terça-feira, maio 09, 2017

Ausência


"Antes, tu estavas. Agora, tu não estás mais. O agora é um agora sem ti. Lá fora, tão mansamente cai a chuva. Mas é uma chuva sem ti, e não importa quão mansamente ela caia, não importa nem mesmo que seja ela ou não a chuva, porque ela, assim como todas as outras coisas, são coisas sem ti. E eu mesmo – eu respiro sem ti, meu coração pulsa sem ti em algum lugar fora do lugar do coração, eu me olho no espelho e verifico que sou uma face sem ti, meus olhos sem ti são dois buracos ocos sem serventia, já que a única serventia que eles tinham era olhar-te e agora, sem ti, eles miram estupidamente o vazio. Não me encontro alegre nem triste. Alegria e tristeza eram somente possíveis por ti, ou em teu louvor. Agora que te foste, não há razão alguma pela qual possa eu alegrar-me ou entristecer-me. Há apenas esse apático e despovoado e monótono agora sem ti e, dentro dele, lágrimas que verto sem razão."


[ Ygor Raduy | Pequeno Manual de Coisas Absolutamente (Ir)Relevantes ]




art by Mantha Tsialiou 

sexta-feira, maio 05, 2017

Onde não vive o adeus




"Não é apenas um vago, modulado sentimento
O que me faz cantar enormemente
A memória de nós. É mais. É como um sopro
De fogo, é fraterno e leal, é ardoroso
É como se a despedida se fizesse o gozo
De saber
Que há no teu todo e no meu, um espaço
Oloroso, onde não vive o adeus.

Não é apenas vaidade de querer
Que aos cinquenta
Tua alma e teu corpo se enterneçam
Da graça, da justeza do poema. É mais.
E por isso perdoa todo esse amor de mim

E me perdoa de ti a indiferença."


Hilda Hilst | Dez Chamamentos ao Amigo | Poema X | In: Obra Poética Reunida | 1950-1996