Eis o resumo da minha comunicação para o II Encontro Hume que acontecerá entre os dias 19 e 21 de maio de 2010 na UFPr.
Teologia e antropomorfismo nos Diálogos sobre a Religião Natural de Hume
De acordo Demea, a defesa do argumento do desígnio, levada a cabo por Cleantes, carrega consigo o antropomorfismo e, por essa razão, seria possível afirmar a sua improcedência. Para Demea, “ao representarmos a Divindade como sendo tão inteligível e compreensível, e tão similar à mente humana, tornamo-nos culpados da mais grosseira e tacanha parcialidade e nos arvoramos em modelo de todo o Universo” (D III §12: 53). Ao procedermos assim, ilegitimamente inferiorizamos a divindade e elevamos os atributos humanos. Demea argumenta em favor de que todos os materiais do pensamento são provenientes somente de duas fontes: sentidos internos e sentidos externos, os quais compõem toda a bagagem do entendimento humano (D III §13: 54). Sendo assim, os materiais do nosso pensamento não se assemelham em aspecto algum a inteligências tão distintas e distantes como as que separam as inteligências humanas da inteligência divina. Na visão de Demea, “a debilidade de nossa natureza não nos permite apreender quaisquer ideias que tenham a mínima correspondência com a inefável grandiosidade dos atributos divinos” (D III §13: 55). Por conseguinte, não podemos dizer que Deus raciocina como nós, visto que nossos pensamentos são fugazes, vacilantes e incertos. Nossos padrões de verdadeiro ou falso não se aplicam aos juízos que fazemos sobre os atributos divinos. Sendo assim, não podemos descrever Deus com as mesmas palavras que usamos para falar de criaturas tão limitadas e corruptas como os seres humanos. Ora, que opções teríamos, então? Como pensar ou falar sobre Deus? Isto considerado, minha comunicação se concentrará na crítica de Demea ao antropomorfismo empreendida nos Diálogos, não obstante eu esteja ciente de que na História Natural da Religião podemos encontrar consideráveis desenvolvimentos acerca do tema. Essa restrição aos Diálogos se justifica em virtude de meu propósito. Pretendo discutir o papel que a crítica ao antropomorfismo desempenha na discussão sobre a validade do argumento do desígnio promovida nos Diálogos. Convém esclarecer que discutirei este ponto tomando como referência a participação do personagem Demea, embora a expectativa comum fosse, talvez, tomar como referência o personagem Fílon. Nesse caso, minha pretensão é dupla, pois viso não somente discutir o antropomorfismo nos Diálogos, mas também dar voz a Demea procurando trazer à superfície sua importância como personagem dos Diálogos.