domingo, abril 26, 2009

Monografia do Pensamento no Exato Momento do Ato




MONOGRAFIA DO PENSAMENTO
NO EXATO MOMENTO
DO ATO

Sob a
orientação do tempo

Resumo

A disciplina I BIB 129 solicita uma monografia para poder avaliar a distribuição da forma dentro dos padrões que a UEL determinou. Para isso, apenas escrevo o que penso procurando encaixá-lo nas normas exigidas.

Introdução

Imagino que minha professora está lendo e não entendendo muito bem o que estou escrevendo. Então, sinto a necessidade de explicar, já que tenho a perfeita consciência de que o tema esperado não tem nada a ver com isso aqui. Mas como o tema que deveria ser abordado não estará terminado até o prazo exigido para a entrega, imaginei que poderia montar uma monografia com algum outro tema, pois a disciplina exige analisar apenas a sua forma. O conteúdo a ser avaliado não pertence a ela [ao objetivo da disciplina]. Portanto, improviso um.


I. Paro, penso e escrevo

É extremamente gratificante sentir a necessidade de escrever sem ter um objetivo predeterminado que não seja o escrever. Sem querer, a gente pára e pensa: o que vou escrever? Daí a gente percebe... mas por que tenho que pensar no que vou escrever se já estou escrevendo? E o que é melhor ainda. Escrevendo porque estou pensando que quero escrever. Só isso.

Mas só? (penso) (escrevo)
Só!
Por quê? (penso) (escrevo)
Porque devo escrever.
Mas por quê? (penso) (escrevo)
Ora, porque tenho que distribuir palavras que no todo tomem a forma de uma monografia.
Mas por quê?

Porque eu curso o II período de Comunicação Social e nele está incluída uma disciplina que ensina muitas coisas referentes à bibliotecoMANIA, entre as quais, inclusive, fazer monografias.
Como foi ensinado, o sistema exige que se avalie o aprendizado. E eu me comprometi a mostrar o que aprendi. Por isso tento escrever livremente para preencher o espaço, ou seja, dar a forma exigida. Pois é, nessa de escrever o que penso, pensei: preencher o espaço: o que significa isso? Pode ser tanta coisa... Como? por exemplo?

Preencher o espaço vivendo a vida.
Preencher o espaço existindo simplesmente
Preencher o espaço comunicando algo.
Preencher o espaço pensando...
E por que não, escrevendo, simplesmente?

É, realmente nada está a me impedir. Nem o (pré)conceito que faço, ao imaginar o que minha professora está pensando. Imagino que ela está surpresa, pois tudo que não é esperado surpreende! Oh...! Imagino que ela pode não considerar esta monografia e, ao mesmo tempo, que pode perfeitamente, desde que isto esteja tomando a forma de uma. Ainda não sei se está. Penso que devo dar uma olhadinha no manual para conferir. Só que constatei que no momento não tenho o manual à mão, e como pretendo continuar a aproveitar o tempo que está me orientando a fazê-la, arriscarei continuando a escrever.

Lembro-me que a mais simples das mais simples monografias exige que se anuncie o assunto resumidamente, introduza-o depois que se define o tema e, posteriormente, tem-se que apresentá-lo e discuti-lo, a partir de um determinado ângulo para, finalmente, fazer uma análise crítica conclusiva do tema tratado.

Pois é, onde parei?
Acho que parei na apresentação. Devo, portanto, determinar o ângulo a partir do qual estou vendo. Tento olhar agora, não a partir do ângulo, mas para o ângulo a partir do qual estou vendo.
O que vejo?
Vejo que meu ângulo só está determinado pelo tempo no qual me proponho a escrever.
Que tempo?
O tempo que passa me fazendo pensar para escrever.
No caso não poderia ser pensar “e” escrever?
Não, porque no momento penso só “para” escrever.
Depois que penso isso, naturalmente começo a analisar o que escrevi para poder criticar e concluir.

II. Análise crítica do pensamento colocado

Ao analisar os pensamentos acima descritos, verifico que está sendo apresentada uma proposta de poder cumprir uma exigência de forma, que não necessariamente preencha as tais solicitadas. Não se pode negar que esta forma é nova. E tudo que é novo pode ser bem ou mal aceito. Pois é, pelo que foi apresentado, vê-se que quem escreve está tentando dar um nó em quem está lendo.
Como é possível cumprir exigências sem cumprir exigências?
Como é a própria pensadora que escreve, infelizmente, não se pode fazer nada para ela parar com isso.
Isso o quê?
Isso de tentar cumprir sem cumprir?
Ué, mas não era impossível?
Diz-se que sim. Mas a pensadora insiste em tentar.
Nessa, ela só está escrevendo e enrolando. De qualquer forma, tudo o que foi escrito pode não ser aceito, mas é impossível negar: não se pode apagar. Tomara que o escrito chegue lá.
Onde?
Lá... naquele lugar que tem forma de monografia.

III. Conclusão

De tudo o que foi pensado só posso concluir que pensar para escrever livremente faz com que a mente se torne mais livre... 

FIM

Pergunto: onde é que eu estava com a cabeça? Sinceramente não me lembro o resultado... se entreguei o trabalho, se ele foi aceito, se tive uma boa nota. Mas não importa, o que importa é que agora eu me divirto lendo e lembrando disso.

terça-feira, abril 21, 2009

Apetite de viver e vontade de potência

Caro Aguinaldo, obrigada pelo comentário... sempre provocador!!! E já que rendeu interpretações diversas, resolvi publicar minha resposta nesse outro post.

Não acho que você interpretou mal. Mas sim de uma perspectiva unilateral. Acredito que o desespero pode ser entendido negativamente e associado à ausência de esperança, como algo que retira o amor de viver, como você falou. Mas também pode ser associado à esperança desesperada de vida, ou desespero de viver, de amar, de desejar e de ser feliz.

Posso dizer que fiz a associação que você fez em raríssimas situações em minha vida. O que me chamou a atenção na frase de Camus (e que me fez concordar com ele, por entendê-la a partir da minha vida, e não da dele) é a perspectiva, bem ao gosto nietzscheano (sorry rs), da Vontade de Potência, e, às vezes, mas só quando estou pessimista, ao gosto schopenhaueriano. No caso de Schopenhauer, refiro-me àquela vontade de vida insaciável, autofágica, sem direção e fim que nos leva a pendular do tédio à necessidade numa insatisfação desesperada. É um apetite desordenado, um desespero, mas não no sentido que geralmente eu entendo.

Meus desesperos não foram e não são raros, mas são desesperos que, em geral, aumentam o meu apetite de viver. Por isso simpatizo-me mais com a teoria nietzscheana (e aqui não quero entrar no mérito ou demérito de se Nietzsche é filósofo, poeta, bufão, louco ou dinamite) da Vontade de Potência, segundo a qual viveríamos (desesperadamente, a meu ver, se o quantum de vontade de potência for grande e forte) para ultrapassar limites, vencer desafios, culpas e ressentimentos – um auto superar-se, mas não naquele sentido piegas que a gente vive criticando rs.

Sendo mais radical, penso num desespero de poder vencer a morte. Não só a grande morte, no caso de a vida estar em risco, devido a uma doença fatal, um acidente grave, uma catástrofe, tragédia, ou apenas uma depressão profunda que, no extremo, te leve ao suicídio; como as pequenas mortes que vivemos em vida, ou seja, toda e qualquer perda que nos custe caro - como a de um amor, por exemplo.

Antes de associar desespero à falta de esperança, associo-o à esperança desesperada de superar (ou não ter que passar por) tudo isso aí que eu falei. É a idéia do náufrago que diante da consciência da morte iminente, agonizante, agarra-se a uma palha (ou tábua) na esperança de permanecer vivo: é desespero, mas é desespero de vida, de amor pela vida e por si próprio.

Você mesmo já me falou em algumas situações: nossa! como você ama a vida! não se desespere! Numa dessas vezes eu estava mesmo desesperada... e de medo! Voltávamos de Passo Fundo e na estrada despencou aquela chuva torrencial que tornou a viagem extremamente tensa e perigosa. Não enxergávamos um palmo adiante do nariz, não dava pra parar nos acostamentos, verdadeiras correntezas se formavam nas baixadas e curvas.

Enquanto isso, do outro lado do Estado do Paraná, minhas filhas mais novas também estavam na estrada, voltando de São Paulo com o pai, e eu, ali, com aquele espírito terrivelmente trágico, sofria desesperadamente com a idéia de que eles poderiam estar numa mesma (ou pior) situação, e que, portanto, alguma tragédia poderia ocorrer, fosse com eles ou conosco. O que me restava? Uma esperança desesperada de ultrapassar tudo aquilo e viver (apesar de tudo, pra mim, la vita è bella rsrs).

Quero (e acho que todo mundo quer) viver bem, feliz, com satisfação e prazer. Mas você sabe... não me agrada viver mornamente (não que eu goste de passar pela situação acima descrita). Como sou imperfeita, transbordo pelas tampas e peco, naturalmente, e na maioria das vezes, pelo excesso: excesso de intensidade rsrs. É isso que faz com que eu me identifique com o apetite desordenado, desespero e amor de viver de que Camus fala. Tá certo que com a experiência consegui ordenar melhor esse meu apetite, mas ainda faço muita desordem nessa vida hehehe.

Um beijo.


domingo, abril 12, 2009

O apetite desordenado de viver


No prefácio que Albert Camus (1913-1960) escreve em O Avesso e o Direito, ele mesmo se refere à frase "Não há amor de viver sem desespero de viver", revelando que na época em que a escreveu (aos 22 anos), "não sabia a que ponto dizia a verdade" pois "não tinha atravessado, ainda, os tempos do verdadeiro desespero." A frase se encontra no ensaio Amor pela Vida.

É engraçado, a primeira vez que li essa frase (bom... eu já tinha 39 anos), meu coração disparou e nunca mais parou de disparar por ela.

Ela está duplamente grifada: no prefácio e no ensaio. Cada vez que a leio sinto-me profundamente tocada. Verdade ou não, ao rememorar meus 22 anos, lembrei-me que eu já havia experienciado sim, algumas vezes (e não poucas), o verdadeiro desespero, não só já aos 22 anos, como a todos os que se seguiram e se seguiam...

Alguém poderia pensar agora: NOSSA! O que será que ela viveu tanto assim para falar em verdadeiro desespero? Eu diria, eu vivi muitas coisas que não vêm aqui ao caso (uma hora dessas eu conto... rs, em partes, é claro!). O ponto não é o quê (o quid), mas como eu vivi cada segundo dessa minha vida, com que intensidade: dúvidas, incompreensões, erros, euforias, alegrias, dores e dilemas morais, desejos, frustrações, medo, amor, ódio, algumas dores físicas... ah... como briguei comigo e com o mundo, como quis que o universo se ajustasse aos meus desejos, como chorei, como virei do avesso, como tentei me endireitar (em algumas coisas eu consegui haha), como ri, como me regozijei, como me desesperei!

Camus diz que estes tempos chegaram e conseguiram destruir tudo nele, "exceto, justamente, o apetite desordenado de viver." Eis outra frase que me arrebata, pois isso nada mais é do que paixão, um tema que eu persigo e que me persegue: esse apetite desordenado de viver.

Camus revela ainda sofrer dessa paixão, "ao mesmo tempo fecunda e destrutiva, que explode até nas páginas mais sombrias de O Avesso e o Direito". Ele fala em "ardor esfomeado", no que a vida tem de melhor e pior. Isso me faz lembrar o amor fati de que Nietzsche fala, de seu reclame à retomada do espírito trágico. Depois, Camus cita Stendhal: "Mas a minha alma é um fogo que sofre se não arde."

Os ensaios reunidos em O Avesso e o Direito foram escritos entre 1935 e 1936 e publicados em 1937, na Argélia, em tiragem muito reduzida. A edição foi rapidamente esgotada e Camus se recusou a reimprimi-la por 20 anos. Quem quiser saber por que terá de ler o prefácio que o autor adicionou à sua reedição. Só o prefácio já vale a obra. E a obra... ah... a obra, você terá de ler também. E acho que não é preciso dizer por que...