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terça-feira, janeiro 29, 2019

Void





A tristeza irreparável
Daquele que sabe que nada serve nem vale,
Que o esforço é um absurdo desgaste,
Que a vida é um espaço vazio,
Porque a desilusão vem sempre através da ilusão
E parece que a Morte é o sentido da Vida...
É isto, mas não é só isto, que tu vês no meus rosto
E faz com que olhes para mim, de vez em quando, disfarçadamente...

Fernando Pessoa | in: Poemas de Álvaro de Campos | Editora Saraiva de Bolso | 2012.


sábado, julho 30, 2016

Canção da Partida



Pousa de leve
Inda que um breve
Momento, a tua mão de neve
Sobre meu triste coração
Ainda é cedo…
Guarda o segredo
E pousa leve, como a medo,
Sobre minha alma a tua mão.
Como é que na alma
Pousa uma palma
De mão e como é que a acalma
De toda a dor que não tem fim?
Não sei sabê-lo.
No meu cabelo,
Ao menos, pousa, com desvelo,
Tua mão leve, de marfim.
Que é a vida? Nada.
A sorte? Estrada
Que leva só a alma enganada
Por onde vai e onde não quer…
Que é a alma? Um sono?
Ser? O abandono
De ser, e as folhas que no outono
O ouvido sente anoitecer…

[Fernando Pessoa. In: Poesia 1918-1930. Assírio & Alvim, 2005]

quinta-feira, junho 12, 2014

Beijos, muitos beijos



[...]

Dá-me beijos, dá-me tantos
Que enleado em teus encantos,
Preso nos abraços teus,
Eu não sinta a própria vida
Nem minha alma, ave perdida
No azul-amor dos teus céus.

[...]

(Fernando Pessoa, in: Cartas para Ophélia)