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sábado, outubro 04, 2008

Anpof 2008


Entre os dias 06 e 10 de outubro/2008, grande parte dos estudiosos de filosofia deste país participarão em Canela-RS do XIII Encontro Nacional de Pós -Graduação em Filosofia da ANPOF. E eu não poderia deixar de fazer o mesmo. Abaixo segue o resumo do trabalho que apresentarei no evento:


DIVINDADE, IMPUTAÇÃO E MAL MORAL EM HUME



Nos Diálogos sobre a Religião Natural o personagem Philo argumenta que, dada a existência do mal, a existência de uma mente criadora do universo somente pode ser aceita se essa mente for ou impotente ou portadora de deficientes qualidades morais. Nesse sentido, Philo contundentemente declara: “As velhas questões de Epicuro permanecem sem resposta. A Divindade quer evitar o mal, mas não é capaz disso? Então ela é impotente. Ela é capaz, mas não quer evitá-lo? Então ela é malévola. Ela é capaz de evitá-lo e quer evitá-lo? De onde, então, provém o mal” (Diálogos X)? O apelo à evidência das falhas e imperfeições do mundo, abundantemente mencionadas na parte X dos Diálogos, serve a Hume não exatamente para refutar o argumento do desígnio, mas para interpor um limite às inferências que a analogia das mentes inteligentes tenta estabelecer, em especial, às inferências sobre os atributos divinos. Efetivamente, a hipótese de que o mundo teria sido planejado por um Deus bondoso é enfraquecida com o reconhecimento dos males naturais e morais. Ou seja, é até possível que o argumento do desígnio possa ser aceito, mas de modo algum ele poderia implicar a atribuição de perfeição, máxima bondade e justiça à divindade, tal como pretende a crença específica do cristianismo. Ora, se tais atributos se vêem enfraquecidos com o incontornável reconhecimento da existência do mal no mundo, uma possível base religiosa para a moralidade torna-se, assim, também enfraquecida. A partir desse aspecto da crítica humeana ao argumento do desígnio, meu objetivo será examinar a possibilidade que Hume oferece de discutirmos a moralidade sem qualquer apelo a noções teológicas e religiosas.

terça-feira, julho 11, 2006

Bem-me-quer, mal-me-quer


Querido Aguinaldo

Penso que a discussão promovida, de fato, causa um grande impacto nas noções comuns de bem e mal, precisamente no ponto que você mesmo toca. Ora, na medida em que se assume a tese de que a origem do mundo e a ordem que nele pode ser observada provêm apenas de um princípio gerador e ordenador intrínseco à própria matéria, poder-se-ia prescindir da crença na existência de uma divindade ordenadora que deu origem e imprime movimento a essa imensa máquina chamada mundo. Certamente isso estremeceria as bases da moralidade, tal como concebida de um ponto de vista religioso, uma vez que a tese de que a moral está fundamentada em princípios religiosos é muito mais difundida e bem aceita do que a tese contrária. Aqueles que acreditam que nossas noções de bem e mal são, tanto quanto nós mesmos, criadas por Deus e que, portanto, a moralidade é ditada por Deus, provavelmente concordariam com o personagem de Dostoievski. Mas eu, embora não possa afirmar como verdadeira a hipótese da matéria, não penso que é preciso acreditar em Deus e crer na imortalidade da alma para ter motivos para agir moralmente. A meu ver não é preciso mergulhar em águas teológicas para fundamentar a moralidade, pois nossos juízos morais, para que sejam válidos, não pressupõem necessariamente padrões teológicos de bem e mal. Eles podem repousar simplesmente em nossos naturais sentimentos de aprovação ou desaprovação experimentados diante de certas ações, comportamentos e inclinações. Também não vejo a necessidade de pressupor um mundo pós-morte, no qual a alma sobreviveria, para agirmos moralmente. Podemos ter razões suficientes para agir moralmente nessa vida mesmo, como por exemplo, o desejo de uma convivência pacífica ou uma consciência tranqüila, mesmo que dessa vida nada possa restar no futuro.