Entre os dias 06 e 10 de outubro/2008, grande parte dos estudiosos de filosofia deste país participarão em Canela-RS do XIII Encontro Nacional de Pós -Graduação em Filosofia da ANPOF. E eu não poderia deixar de fazer o mesmo. Abaixo segue o resumo do trabalho que apresentarei no evento:
DIVINDADE, IMPUTAÇÃO E MAL MORAL EM HUME
Nos Diálogos sobre a Religião Natural o personagem Philo argumenta que, dada a existência do mal, a existência de uma mente criadora do universo somente pode ser aceita se essa mente for ou impotente ou portadora de deficientes qualidades morais. Nesse sentido, Philo contundentemente declara: “As velhas questões de Epicuro permanecem sem resposta. A Divindade quer evitar o mal, mas não é capaz disso? Então ela é impotente. Ela é capaz, mas não quer evitá-lo? Então ela é malévola. Ela é capaz de evitá-lo e quer evitá-lo? De onde, então, provém o mal” (Diálogos X)? O apelo à evidência das falhas e imperfeições do mundo, abundantemente mencionadas na parte X dos Diálogos, serve a Hume não exatamente para refutar o argumento do desígnio, mas para interpor um limite às inferências que a analogia das mentes inteligentes tenta estabelecer, em especial, às inferências sobre os atributos divinos. Efetivamente, a hipótese de que o mundo teria sido planejado por um Deus bondoso é enfraquecida com o reconhecimento dos males naturais e morais. Ou seja, é até possível que o argumento do desígnio possa ser aceito, mas de modo algum ele poderia implicar a atribuição de perfeição, máxima bondade e justiça à divindade, tal como pretende a crença específica do cristianismo. Ora, se tais atributos se vêem enfraquecidos com o incontornável reconhecimento da existência do mal no mundo, uma possível base religiosa para a moralidade torna-se, assim, também enfraquecida. A partir desse aspecto da crítica humeana ao argumento do desígnio, meu objetivo será examinar a possibilidade que Hume oferece de discutirmos a moralidade sem qualquer apelo a noções teológicas e religiosas.