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sexta-feira, janeiro 12, 2007

Operações do universo mental


"Nada, à primeira vista, pode parecer mais ilimitado que o pensamento humano, que não apenas escapa a todo poder e autoridade dos homens, mas está livre até mesmo dos limites da natureza e da realidade. Formar monstros e juntar as mais incongruentes formas e aparências não custa à imaginação mais esforço do que conceber os objetos mais naturais e familiares. E enquanto o corpo está confinado a um único planeta, sobre o qual rasteja com dor e dificuldade, o pensamento pode instantaneamente transportar-nos às mais distantes regiões do universo, ou mesmo para além do universo, até o caos desmedido onde se supõe que a natureza jaz em total confusão”.


Este belo trecho do § 4 da seção II da IEH de Hume me faz pensar que, aqui, o próprio pensar, isto é, o modo como ele se exerce, é aqui objeto de pensamento e explicação. 

Segundo Hume, nossa mente, “constituída unicamente de percepções sucessivas” (TNH 1.4.6.4), tem em seu aparato cognitivo duas fundamentais faculdades: a da imaginação e a da memória. Com elas, a mente opera da seguinte forma: copia as idéias fornecidas pelos sentidos, armazena-as na memória - que funciona como um arquivo de dados (que se oferecem à mente), no caso aqui, como um arquivo de idéias. Daí a faculdade da imaginação serve-se dessas idéias armazenadas (e também daquelas que a mente constantemente copia das sensações), estabelecendo certas relações que, num jogo de reflexões e/ou associações, mistura, combina, separa, divide, transpõe, reduz ou estende essas idéias que, por sua vez, dão origem a novas impressões e idéias. Assim, mas evidentemente não de maneira tão simples, Hume nos mostra como a mente opera na aquisição do conhecimento das coisas e do mundo e, ainda, como ela ultrapassa “os limites da natureza e realidade” criando deuses, formando anjos, dragões, demônios, cavalos alados e, se se quiser, as mais diversas barbaridades.


sábado, julho 15, 2006

Conhecimento em Hume e Kant

Por Nicolas Piocoppi

O texto a seguir consiste em observações elaboradas a partir do encontro do Grupo de Estudos sobre Kant, coordenado pela professora Marília Cortes de Ferraz, ocorrido em 25/06/2006.

Podemos afirmar que, quando pensamos nos conceitos “causa e efeito”, nossa mente cria um certo círculo vicioso de modo quase imperceptível. Para todo efeito existe uma causa e toda causa gera um efeito ─ o que significa que ambos os termos estão intimamente ligados um com outro. Porém qual seria esta ligação? Fatalmente Hume perguntaria ao sujeito quando este afirmasse a idéia da causa sobre o efeito observado. No exemplo da bola de bilhar Hume pergunta se a noção de impulso já está contida no simples movimentar da bola de bilhar sobre a mesa, e se dissermos que sim, que já está, fatalmente caberia indagar o que é que nos leva a afirmar tal coisa. Responder-se-ia, talvez: “ora a bola de bilhar precisa de um impulso para que possa se movimentar”, todavia esquece-se da possibilidade da mesa estar “torta” e haver uma certa inclinação de tantos graus de modo que cause o “movimentar da bola” ou, ainda, como disse Lebrun no texto “Hume e a astúcia de Kant”; “você poderá, vencido pelo cansaço, invocar a sua experiência passada e a de todos os homens” para justificar a idéia de impulso sobre a bola. Do mesmo modo pergunta-se se a cena que descreve uma explosão de uma casa contém já a idéia de bomba ou atentado. Hume diz que não, pois há tantas possibilidades de explosão quanto se pode imaginar e a de bomba é apenas uma delas. Desta forma, como é notório, a ciência em geral é praticamente reduzida à mera crença, pois trabalharia com as mesmas afirmações e o que diferenciaria uma simples crença de uma “crença científica” é que a ciência iria testar mais vezes o mesmo objeto antes de atribuir tal crença.
Kant ao descrever a idéia de um conhecimento sintético a priori parece retirar a ciência destes “maus lençóis” a que o ceticismo humeano a havia colocado e, portanto, perguntar-se-ia; é possível determinar a priori uma ligação de causa e efeito entre dois acontecimentos? Certamente que ao escrever um romance o sujeito que o escreve tem todo o conhecimento acerca das relações espaciais, cronológicas (condições físicas do ambiente em geral), psicológicas, etc, que as respectivas personagens da trama toda possuem. Deste modo qualquer relação de causa e efeito dita por este escritor sobre o romance tem completa valia, pois é ele quem determina todos os acontecimentos no mesmo. De forma análoga eu posso afirmar que um certo número “y” é igual a outro número “p” mais outro número “f” multiplicado por “x” e desta forma eu obtenho uma função simplória do primeiro grau de forma “y = p+ f.x”. A partir deste momento que estabeleço regras para a obtenção de y eu indico as relações necessárias para que se obtenha o mesmo – que nesse caso depende das incógnitas “f”, “x” e “p”. Como é uma função simples de uma única variável apenas, portanto, uma das três incógnitas citadas poderá ser entendida como sendo uma variável. Supõe-se que x seja a variável; “y” imediatamente torna-se uma “função” dessa variável x. Portanto, qualquer valor futuro de “x” acarretará imediatamente um efeito que neste caso será o de “dar valor a y”.
Deste modo, parece ser completamente possível que exista uma “ligação” entre “idéias” oriundas das observações acerca de dado objeto e assim é possível conhecer, por exemplo, a intensidade e dimensões de um campo elétrico, ou gravitacional ou eletromagnético a agir em determinado meio por simples questões de “causa e efeito” que têm a ver com as propriedades dos objetos que estejam a ser estudados.