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segunda-feira, abril 06, 2020

A morte feliz

Compreendia que ter medo dessa morte que encarara com o desespero de um animal significava ter medo da vida. O medo de morrer significava um apego sem limites a tudo que está vivo no homem. E todos aqueles que não tinham feito gestos decisivos para empobrecer sua vida, todos os que temiam e exaltavam a impotência, todos tinham medo da morte, devido à sanção que traziam a uma vida em que não se tinham enredado. Não tinham vivido o suficiente, jamais haviam vivido. E a morte era como um gesto que privasse para sempre de água o viajante que procura em vão saciar a sede. Mas, para os outros, ela era o gesto fatal e terno que apaga e nega, sorrindo tanto para a resignação quanto para a revolta.
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(Albert Camus | In: A Morte Feliz | tradução de Valerie Rumjanek | Rio de Janeiro | Record | p.60).

Arnold Böcklin | Isle of the Dead |Die Toteninsel | 1883