Hoje sinto no coração
um vago tremor de estrelas,
mas minha senda se perde
na alma de névoa.
A luz me quebra as asas
e a dor de minha tristeza
vai molhando as recordações
na fonte da ideia.
Todas as rosas são brancas,
tão brancas como minha pena,
e não são as rosas brancas
porque nevou sobre elas.
Antes tiveram o íris.
Também sobre a alma neva.
A neve da alma tem
copos de beijos e cenas
que se fundiram na sombra
ou na luz de quem as pensa.
A neve cai das rosas,
mas a da alma fica,
e a garra dos anos
faz um sudário com elas.
Desfazer-se-á a neve
quando a morte nos levar?
Ou depois haverá outra neve
e outras rosas mais perfeitas?
[...]
Se o azul é um sonho,
que será da inocência?
Que será do coração
se o Amor não tem flechas ?
Se a morte é a morte,
que será dos poetas
e das coisas adormecidas
que já ninguém delas se recorda?
Oh! sol das esperanças!
Água clara! Lua nova!
Coração dos meninos!
Almas rudes das pedras!
Hoje sinto no coração
um vago tremor de estrelas
e todas as coisas são
tão brancas como minha pena.
[Federico García Lorca | Canción Otoñal ]
[collageArt by Sara Shakeel]