Daqueles manuscritos que a gente encontra guardados naquela pasta escondidinha bem no fundo da gaveta da escrivaninha
em meio à agonia do excesso da tua ausência que me dilacera há dias,
encontro-me entre o agir e o permanecer na inércia,
entre o falar e o silenciar
entre ir até aí te encher de beijos, carinhos e cuidados
ou te falar poucas e boas que podem ferir e magoar
enfim
encontro-me entre a generosidade e miséria do meu coração.
toda essa dor faz com que eu me sinta como um animal acorrentado pelo tornozelo da pata traseira.
e me vem uma louca vontade de sair correndo de dentro de mim mesma, como se ao abandonar meu corpo pudesse também libertar minha alma.
ora me encontro num inferno gelado
ora no seio da cratera de um vulcão
neste, me sinto malévola, pronta pra espalhar minhas lavas e destruir tudo, inclusive você!
naquele, me sinto frágil, desprotegida, doente e só na minha dor.
e me vem uma vontade louca de te implorar socorro
e aí eu choro, perdida, intemperada, dissoluta
transitando entre o amor e o ódio,
o céu e o inferno.
o céu e o inferno.
[24/01/2000]