segunda-feira, janeiro 25, 2016

Ossos do Ofício


[Man Ray. Anatomies, 1929]


                        O que se pensa não é o que se canta.
                        Difícil sustentar um raciocínio
                        com a rima atravessada na garganta.
                        
                        [...]


[Paulo Henrique Britto. Tarde. São Paulo: Companhia das Letras, 2007].

segunda-feira, janeiro 04, 2016

The bath


Há tempos guardei essa foto em meus arquivos. Volta e meia olhava pra ela e me perguntava: mas por quê? Por que guardei essa foto? Ora bolas, porque achei bonita. Não há nenhum mistério nisso. Nenhuma explicação profunda ou abstrusa, como dizem os filósofos. 

Agradam-me, simplesmente, a beleza e a circunspecção da moça. Sua pose, suas luvinhas pretas, suas pulseiras e seu cigarro na mão esquerda; a mão direita apoiada no queixo, uma certa aridez na paisagem desfocada ao fundo, silenciosa; os fartos cabelos loiros presos no coque, o discreto brinquinho na orelha direita, os braços fortes, a tatuagem, o olhar de soslaio, o fato de estar nua, de costas, a contemplar tal paisagem, talvez o horizonte perdido, o nada, ou mesmo a si mesma. Não se sabe. Não se sabe o que ela vê para além dos limites da foto em branco, preto, e seus diversos tons de cinza.

O título desta foto, de Alexander Malchev, é The Bath. Porém, por mais que eu tente, não consigo ver água nessa banheira. Se ela está a tomar um banho, deve ser, ou ao menos parece ser, um banho de espera: aliás, um belo banho de espera, diga-se de passagem.