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domingo, junho 14, 2020

Mortalha


Onde está o vento? Este peso nas costas, no pensamento – vem do teto ou das nuvens assim paradas, invisíveis me vendo.: sinto que estão ali paradas, AQUI, bem sobre o meu corpo também imóvel – eu e o meu corpo paralisado e talvez já morto: mas ainda eu.

Se ao menos houvesse o vento – nem que fosse o ruído do vento, o rumor do vento como há o rumor do mar ou da chuva, ou qualquer rumor que não seja este silêncio, o deste silêncio! – Mas apenas ouço, vejo, o peso destas nuvens e do que está ainda mais em cima, de todo esse ar que me falta e que me traz esta asfixia, esta paralisia – como se me houvessem enterrado e eu estivesse enterrado: dentro desta mortalha.

Mas ainda não estou morto, sei que não estou, SEI: isto é o importante. E este silêncio, e agora este frio – antes não havia este frio – este silêncio neste frio, e este peso sobretudo este peso sobre a minha cabeça, tudo isso então é que estou sendo a vítima de algum mistério, não de um engano ou de uma alucinação mas de algum mistério, nem mesmo de um sonho ou de um pesadelo, pois me conheço e sei que estou sonhando: SEI. 

"Campos de Carvalho | 1916-1998 | In: A Chuva Imóvel | Belo Horizonte | Autêntica | 2018


Igor Mitoraj [1944-2014]

quinta-feira, novembro 15, 2018

La mort de l'amour



"O amor nunca morre de morte natural. Ele morre porque nós não sabemos como renovar a sua fonte. Morre de cegueira e dos erros e das traições. Morre de doença e das feridas; morre de exaustão, das devastações, da falta de brilho." 



Anaïs Nin | In: 'Henry & June' | L&PM Pocket | Porto Alegre | 2007



Teseo Screpolato by Igor Mitoraj