Bom dia, deem uma viajadinha no tempo. Remontem aos anos
finais do século XVIII — contexto da Revolução Francesa — e vejam o que essa
mulher, Olympe de Gouges, ousou declarar em linhas que, dois anos mais tarde, entre
outras, custaram-lhe a cabeça.
“Homem, você é capaz
de ser justo? É uma mulher que lhe faz a pergunta — você não a despojará desse
direito, pelo menos. Diga-me, quem lhe deu o poder soberano para oprimir meu
sexo? A sua força? Os seus talentos? Observe o criador em sua sabedoria,
percorra a natureza em toda a sua grandeza, da qual você parece querer
aproximar-se, e dê-me, se você ousa, o exemplo desse império tirânico (n.1).
Retorne aos animais, consulte os elementos, estude os
vegetais, enfim, olhe todas as modificações da matéria organizada, e renda-se à
evidência, quando lhe ofereço os meios de fazê-lo. Procure, pesquise e
distinga, se você puder, os sexos na administração da natureza. Em toda parte,
você encontrará os sexos confundidos, em toda parte eles cooperam com um
conjunto harmonioso para essa obra prima imortal.
Somente o homem costurou para si um princípio dessa exceção.
Estranho, cego, inflado de ciências e degenerado, neste século de luzes e de
sagacidade, na ignorância mais abjeta, ele quer comandar como déspota sobre um
sexo que recebeu todas as faculdades intelectuais. Ele [este sexo] pretende
usufruir da Revolução e reivindicar seus direitos à igualdade, para nada mais
dizer.”
(N.1. De
Paris ao Peru, do Japão ao Senegal, o homem é, a meu ver, o mais tolo animal
(N.A.)).
[Acima, texto de abertura à Declaração dos direitos da mulher e
da cidadã, 1791].
Tal Declaração, dedicada à rainha Maria Antonieta, é composta por um preâmbulo, dezessete artigos, um epílogo e mais algumas linhas sobre a “Forma do contrato social entre o homem e a mulher.” Encontra-se traduzida in: ROVERE, Maxime (Org.). Arqueofeminismo: Mulheres Filósofas e Filósofos Feministas. Séculos XVII e XVIII. São Paulo: n-1 Edições, 2019.
Vale muito a leitura!