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sábado, maio 08, 2010

El taxista argentino



hola, que tal ?

Sempre ouvi dizer (e pude algumas vezes perceber diretamente) que o modo de ser argentino é único em seu gênero. Aliás, pode-se dizer que cada país, cada povo, cada cultura tem seu modo de ser sui generis (rs desculpem-me a observação trivial!) .

Well, dos argentinos dizem (e eu já pude constatar a veracidade dessa opinião comum): eles têm uma personalidade reservada, altiva, orgulhosa. Não são lá muito simpáticos (ou ao menos não sorriem à toa). Nem são muito amáveis e cordiais (ao menos na medida em que se pode dizer que os brasileiros, em geral, os são), exceto com aqueles que são da terra deles. O que não falta é nariz empinado (mas eu tenho uma certa simpatia por narizes empinados).

Não pude deixar de observar, num agradável passeio que fiz por Buenos Aires, certas características do povo porteño. Observei muitas outras coisas, pois, além da cidade ser linda e rica em detalhes, sou extremamente (e naturalmente) curiosa e interessada: quero absorver o máximo possível dos lugares em que passo e das pessoas que vejo.

Eu poderia falar um pouco de tudo que vi: dos bares e cafés, das ruas e lugares, da belíssima arquitetura, das praças, monumentos, tangos e tal... e também do modus operandi dos garçons ou garçonetes, dos recepcionistas do hotel em que me hospedei, dos vendedores ou balconistas de lojas e livrarias, enfim, falar um pouco de toda e qualquer pessoa com quem lá tive algum tipo de contato, e mesmo daqueles que observei a distância. Pessoas são sempre ricas fontes de informações.

Porém, não quero aqui me estender demais (muito menos escrever uma tese sobre a personalidade dos argentinos). Quero apenas tecer alguns comentários sobre El taxista argentino, a partir da experiência que tive ao pegar alguns táxis naquela bela cidade. Aliás, diga-se de passagem, táxi lá é o que não falta e, friso, custa bem barato.

Influenciados já pela opinião comum sobre o modo de ser argentino e de alguns breves contatos que já tínhamos feito com algumas pessoas; propensos a perceber os detalhes de tudo, eu e meu namorado tomamos um táxi para irmos jantar em algum bar-restaurante. Paramos, ao acaso, um táxi que descia a Rua Esmeralda, quase em frente ao hotel em que ficamos. Ao entrar, como sempre, digo um boa noite, um olá, ou qualquer coisa assim, num tom naturalmente simpático.

O taxista, um rapaz tipo rebelde daqueles que usam jaqueta de couro preta (que aqui a gente poderia chamar de “um cara invocado"), mal respondeu e mal tomou conhecimento de nossa presença. Tomou-a apenas na medida em que necessitava saber para onde gostaríamos de ir. E assim que dissemos, ele seguiu a seu modo, completamente indiferente a nós. Era como se não existíssemos. 

No carro, um som moderninho um tanto barulhento, mas perfeitamente tolerável.



Putz, o cara saiu dirigindo completamente calado, fechado em si mesmo, numa imprudência no trânsito que deixaria qualquer um com o coração a saltar pela boca. Andava “chutado”, pressionando a traseira de tudo quanto é carro que ele encontrava pela frente, tirava fininhas de arrepiar os cabelos. Acelerava, freava, acelerava e freava. A todo momento parecia que ia bater o carro. Ele exibia lá uma certa destreza, mas dirigia totalmente na ofensiva. E não estava nem aí para seus passageiros.

Registre-se que o trânsito de Buenos Aires funciona notadamente bem (ponto para os argentinos). Avenidas largas, com várias pistas e, ao que parece, um planejamento bem feito. Em tais avenidas o tráfego flui em alta velocidade. Apesar da alta velocidade, nos poucos dias que andei por lá, não vi nenhum acidente, nem indícios de acidentes, tais como agentes de trânsito e ambulâncias do tipo Siate que a gente vê muito (e todos os dias) por aqui.

No táxi, um silêncio mortal! Todos calados. Fiquei só observando (e bufando um pouco, um tanto apreensiva). Bom, como “ladies first”, geralmente entro primeiro no carro e daí faço questão de me sentar bem no meio do banco para poder observar tudo pelo espelho retrovisor, inclusive a expressão e olhar do motorista. Imagino que talvez isso incomode um pouco, pois ele, ao olhar para o retrovisor, provavelmente encontrará o meu olhar (no caso ali o meu olhar era grave).

É claro que normalmente procuro ser discreta e desviar o olhar para não intimidar o motorista, já que essa atitude minha é, em geral, devida à minha simples sede de observar e sorver tudo. Mas no caso ali, com aquele maluco dirigindo de modo arrogante, mortalmente indiferente e extremamente imprudente, não fiz a menor questão de ser discreta. Encarei o espelho com olhos dardejantes. My god, como ele era displicente, carrancudo e metido à besta!!!

Em vários momentos pensei em falar: PARE, por favor, O SENHOR PODE PARAR POR AQUI MESMO, e descer. Mas, por outro lado, achei aquela situação interessante (e até mesmo cômica). Profissionalmente, para um motorista de táxi, ele era o típico cara que faz a gente pensar: como é que ele sobrevive nessa profissão dirigindo e agindo desse jeito? Não é difícil chegar a alguma conclusão. Provavelmente ele não precise de clientes fixos. Pega passageiros ao acaso. Circula muita gente na cidade, a toda e qualquer hora (Buenos Aires praticamente não dorme). Então, ele sempre terá quem levar. E não tem a mínima importância se esse passageiro só for passageiro dele uma única vez. Desce um, sobe outro.

O trajeto foi todo assim: uma aventura periculosa. Eu e o Agui, calados, apenas nos olhávamos. Sabíamos que estávamos a pensar a mesma coisa. Entre um e outro olhar, uma observaçãozinha, um toque de mãos, um sarrinho audível apenas aos nossos ouvidos. Quando descemos não resistimos a metralhar o episódio com nossos comentários (sempre naquele velho e conhecido tom cheio de sarcasmo e graça).

Obviamente, na saída do carro eu disse um gélido boa-noite-e-obrigada. Ele mal abriu a boca. Ouvi apenas um ADIOS empedrado com um decisivo ponto final sem a menor chance de vírgula. Cheguei (com a minha imaginação) a ouvi-lo dizer: ADIOS, já vão tarde, desçam logo, não foi nenhum prazer, espero nunca mais encontrá-los.

Naturalmente alguém poderá pensar que esse taxista não retrata todos ou a maioria dos taxistas argentinos. É verdade. Conheço pessoas que viveram, nesse sentido, experiências completamente diferentes. Mas posso dizer que, embora eu não tenha tomado nenhum outro táxi com um taxista aloprado, os outros que peguei ao menos se apresentaram calados, fechados, indiferentes, pouco amáveis ou cordiais (com exceção de um que foi super simpático e comunicativo). Isso também se deu nos outros setores do comércio porteño.

Pode-se também argumentar (contra mim) que as pessoas que confirmaram a opinião comum sobre a personalidade deles representam apenas uma pequena parcela dos argentinos com os quais tive contato, e que estou, portanto, generalizando. Isso também é verdade. Estou sim generalizando, qual é o problema? Quem poderia falar sobre argentinos, brasileiros, ingleses, cariocas, persas ou capadócios sem generalizar?

Admito que não se possa taxar a personalidade de todos os argentinos do modo como apresentei aqui. Ademais, Buenos Aires é maravilhosa, e uma cidade maravilhosa deve, de algum modo, possuir um povo condizente com suas maravilhas. A meu ver, a altivez é, quando não empedernida, uma virtude. Tem a ver com nobreza de espírito. Donc, relaxem: aqueles que não se encaixarem nessa minha generalização não precisam ficar magoados nem fazer biquinhos. O que registrei aqui foi apenas uma curiosa faceta porteña, a partir de um episódio particular com um taxista argentino. Eu amei Buenos Aires.