sexta-feira, junho 09, 2006

Para ilustrar...


Para ilustrar o que disse, caros ex-alunos, vale citar uma carta que o filósofo John Locke (1632-1704) escreveu a Philippe de Limborch [em 12 agosto 1701].


“Assim como você, eu penso que convém evitar toda obscuridade e ambigüidade no uso das palavras; mas gostaria de acrescentar que mesmo aqueles que querem isso não conseguem sempre evitar a obscuridade. As idéias que se observam no espírito dos homens – e sobretudo daqueles que procuram a verdade – são, com efeito, muito mais numerosas que as palavras de qualquer língua que dispomos para exprimi-las. Disso se segue que os homens (a quem não é próprio inventar à vontade palavras novas a cada vez que eles têm necessidade de dar significado a idéias novas), utilizam a mesma palavra para designar idéias diferentes, sobretudo quando estas lhes são vizinhas. É isto que faz com que, no discurso, a obscuridade e o sentido incerto não sejam raros, quando é necessário alcançar a precisão e a exatidão. E não é somente o espírito daqueles que escutam que é vítima, mas também o espírito daqueles que falam”.

Bom, moçadinha, é claro que o velho e bom Locke pega pesado aqui. Não precisamos ser tão rigorosos assim. Mas vamos ao menos tentar seguir seus conselhos de modo a não nos tornarmos vítimas da obscuridade e do sentido incerto, nem vitimar aqueles que nos escutam.

segunda-feira, junho 05, 2006

Curso sobre Kant

Segue o programa do curso sobre Kant para graduandos e pós-graduandos da UEL. O curso está aberto para interessados.

Curso sobre Kant 
Por Marília Côrtes de Ferraz 
Mestre em Filosofia pela UNICAMP

1. PROGRAMA
1.1. Introdução ao pensamento de Kant Análise dos prefácios A e B da Crítica da Razão Pura (CRP) 1.2. A distinção entre conhecimento empírico e a priori Análise da Introdução da CRP (seções I-III) 1.3. Juízos sintéticos a priori. Análise da Introdução da CRP (seções IV-VII) 
1.4. A terceira antinomia da Crítica da Razão Pura. Dialética transcendental. Antinomia da razão pura. Terceiro conflito das idéias transcendentais 
1.5. Análise da Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Boa vontade. Dever. Imperativos em geral. Imperativo categórico. Liberdade.

2. CRONOGRAMA (HIPOTÉTICO)

* encontros semanais Junho 2006: 
  1. Introdução ao pensamento de Kant, Julho 2006: 
  2. A distinção entre conhecimento empírico e a priori, Agosto 2006: 
  3. Juízos sintéticos a priori, Setembro 2006: 
  4. A terceira antinomia da CRP, Outubro 2006: 
  5. Análise da Fundamentação da Metafísica dos Costumes, Novembro 2006: 
  6. Análise da Fundamentação da Metafísica dos Costumes, Fevereiro 2007: 
  7. Análise da Fundamentação da Metafísica dos Costumes, Março 2007: 
  8. Análise da Fundamentação da Metafísica dos Costumes, Abril 2007: 
  9. Análise da Fundamentação da Metafísica dos Costumes, Maio 2007: 



3. BIBLIOGRAFIA

ALQUIÉ, Ferdinand (s/d): La morale de Kant. Centre de Documentations Universitaire, Place de la Sorbonne Paris V. 
BECK, Lewis White (1966): A Commentary on Kant’s Critique of pratical reason. Chicago: The University of Chicago Press. 
ESTEVES, J C Ramos (2000): “Kant tinha de compatibilizar natureza e liberdade no interior da filosofia crítica? Studia kantiana 2 (1): 53-70. 
HÖFFE, Otfried (1993): Introduction à la philosophie pratique de Kant. La morale, le droit e la religion. Tradução de Francois Rüegg e Stéphane Gillioz. Paris: Vrin. 
KANT, Immanuel. (FMC): Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Tradução de Paulo Quintela. São Paulo, Abril Cultural, 1980. 
KANT, Immanuel (CRP): Crítica da Razão Pura. Tradução de Manuela Pinto dos Santos e Alexandre Fradique Morujão. Lisboa, Calouste Gulbenkian, 1994.

domingo, junho 04, 2006

Liberdade e Imputabilidade Moral em Hume


Eis o resumo da minha dissertação de Mestrado, defendida na UNICAMP em 2006



A dissertação examina a análise de Hume dos conceitos de liberdade e imputabilidade moral. O texto de referência para a pesquisa é a seção VIII da Investigação sobre o entendimento humano. Mostro, a partir do estudo dessa seção, em que sentido os conceitos de liberdade e necessidade são compatíveis para Hume. Para tanto, analiso o compatibilismo humeano enfatizando a unidade explicativa que o autor esposa claramente na obra citada. De fato, Hume, em seu exame das noções de liberdade e necessidade anuncia introduzir novidades que prometem ao menos algum resultado na decisão da controvérsia entre a doutrina da necessidade e a doutrina da liberdade (da vontade). Ele propõe um ‘projeto de reconciliação’ (reconciling project) que consiste em mostrar que liberdade e necessidade são perfeitamente compatíveis entre si, e que afirmar que as ações humanas são livres não é afirmar que estejam fora do âmbito da necessidade, mas apenas que se realizaram sem constrangimento. Em seguida, esclareço as razões que conduzem à crença na vontade livre, crença esta infundada, segundo Hume. Por fim, procuro estabelecer as conseqüências que o compatibilismo humeano traz para a noção de responsabilidade moral. Hume entende que não só é perfeitamente possível explicar os juízos morais pelo seu compatibilismo, como também que o seu compatibilismo é a única alternativa de fato consistente para dar conta dos ajuizamentos que fazemos acerca da moralidade. Entendo que a explicação dos juízos morais de imputabilidade oferecida por Hume representa uma hipótese altamente persuasiva e com vigor suficiente para responder a objeções geralmente apresentadas pelos incompatibilistas.