domingo, novembro 02, 2014

Sou-te como tu me és

"Vou deixar-te levar-me até à fecundidade da destruição. Por isso me atribuo um corpo, um rosto e uma voz. Eu sou-te como tu me és. Cala o fluxo sensacional do teu corpo e encontrarás em mim, intactos, os teus medos e as tuas penas. [...] Sai do papel que te atribuis e descansa no centro dos teus verdadeiros desejos. Por um momento deixa as tuas explosões de violência. Renuncia à tensão furiosa e indomável. Para de tremer, de te agitar, de sufocar, de amaldiçoar, e reencontra o teu fundo que eu sou. Descansa das complicações, destorces e deformações. Por uma hora serás eu; ou antes, a outra metade de ti... Aquela parte de ti que tu perdeste. O que queimaste, partiste, estragaste, encontra-se entre as minhas mãos. Eu sou guarda de coisas frágeis e preservei de ti o que há de indissolúvel."


(NIN, Anaïs. A Casa do Incesto. Tradução de Isabel Hub Faria. Porto: Assírio & Alvim, 1997, p.15-16)

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