Ella chegou ao clube desfilando aquele seu charme habitual ─
uma delicada mistura de graça, beleza e vivacidade. E ainda que Ella fosse uma mulher madura, do alto de seus 38 anos, conservava seus trejeitos de garota marota, dada uma discreta malícia em
seu sorrisinho de lado, e uma evidente irreverência em seu corpinho
de moça. Onde Ella entrava, e por onde Ella
passava, atraía olhares de admiração. Ella movimentava-se com a graciosidade e leveza de
quem está a bailar.
Ao caminhar toda formosa pela passarela que circunda a piscina, à procura de um
lugar ao sol, Ella avistou de longe um tipo asqueroso (que ela mesma certa vez já
havia observado com involuntária repulsa). Era um tipo chulo, excessivamente chulo.
Ella
pensou em dar meia-volta, mudar o caminho, só pra não ter de passar por aquele
sujeitinho bronco, visto que o cara, comme d’habitude,
já havia lançado a distância seu olhar ordinário de macho predador. Ella
percebeu aquele tipinho "eu sou o lobo mau" lamber os beiços e teve uma espécie de náusea. Controlou-se.
E achou que, uma vez dados os primeiros passos, era melhor não hesitar e voltar. Ia
dar muito na cara que desviava daquele caminho apenas para evitá-lo. Respirou fundo,
franziu o cenho e foi em frente.
Ella sempre via aquele sujeitinho vulgar por ali,
geralmente cercado de mais uns três tipos semelhantes a ele. Já o havia visto
também algumas vezes conversando sobre negócios com seu ex-marido (que raramente
aparecia). E pelo fato de vê-los às vezes conversando, Ella se sentia constrangida a cumprimentar aquele ser tosco e estulto sempre
que não havia como evitá-lo. Cumprimentava-o sempre com apenas um gélido movimento de cabeça, justamente pra não lhe dar espaço pra dizer nada.
Ora, o que Ella poderia esperar ouvir de um sujeitinho daquele?
Ao vê-la passar, o malandro de quinta, com ar de quem quer
puxar um papinho, adiantou-se e lhe perguntou: ─ o namorado não quis vir hoje? Ella bufou
diante de tal atrevimento. Ficou puta da vida, ao ponto de não conseguir
disfarçar o constrangimento que sentiu. Com um olhar sério e furtivo, não respondeu. Deu apenas um sorrisinho amarelo e sem graça. E continuou em frente, indignada, pensando:
“não é que esse beiçudo barrigudo teve a pachola de me fazer uma pergunta
dessa?”
A sorte dele foi que Ella
era educada. O sorrisinho glacial, seguido de um ar de desprezo,
disse tudo, mas certamente Ella desejou ser suficientemente grosseira para, soltando
fogo pelas ventas, lhe perguntar:
─ Por que o senhor acha que seria minimamente razoável me
fazer uma pergunta tão invasiva? Que relevância tem para você e/ou para a
humanidade se meu namorado quis ou não quis vir hoje? Quando é que lhe dei
espaço para o senhor se dirigir a mim, assim? Ah... faça-me o favor! A você, lobo mau com cara de bobo mau,
caberia apenas me observar passar, ou, no máximo, respeitosamente me cumprimentar com um brevíssimo aceno de cabeça. E mais nada! Vá lamber esses beições pra lá
e comer sua vovozinha ─ seu babaca ordinário! ou melhor: vá lamber sabão! como
dizia a minha avó!