O FETICHISMO DOS NOMES
Tenho o fetichismo
dos nomes e o teu me empolga e me enlouquece. Rigoberto! É viril, é elegante, é
brônzeo, é italiano. Quando o pronuncio, em voz baixa, de mim para mim, uma
cobrinha me percorre as costas e se me gelam os calcanhares rosados que Deus me
deu (ou se preferires, descrente, a Natureza). Rigoberto! Risonha cascata de
águas transparentes. Rigoberto! Amarela alegria de pintassilgo celebrando o
sol. Onde estiveres, estou eu. Quietinha e apaixonada, bem ali. Assinas uma
letra de câmbio, uma conta a pagar, com teu nome tetrassílabo? Eu sou o
pontinho em cima do i, o rabinho do g e o chifrinho do t. A manchinha de tinta
que fica no teu polegar. Te alivias do calor com um copinho de água mineral?
Eu, a bolhinha que te refresca o paladar e o cubinho de gelo que arrepia tua
linguinha de víbora. Eu, Rigoberto, sou o cordão dos teus sapatos e a pastilha
de extrato de ameixa que tomas a cada noite contra a constipação. Como sei esse
detalhe de tua vida gastrenterológica? Quem ama sabe, e tem por sabedoria tudo
o que concerne ao seu amor, sacralizando o detalhe mais trivial da pessoa. Diante
de teu retrato, eu me persigo e rezo. Para conhecer tua vida tenho teu nome, a
numerologia dos cabalistas e as artes divinatórias de Nostradamus. Quem sou?
Alguém que te ama como a espuma à onda e a nuvem ao rosicler. Procura, procura
e encontra-me, amado.
Tua, tua, tua
A fetichista dos nomes
Llosa, Mario Vargas. Os cadernos de dom Rigoberto. Tradução de Joana Angélica d'Ávila Melo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009, p.22.