Não sei se persigo o discurso amoroso ou se o discurso amoroso me persegue. Pensando bem, acho que perseguimos um ao outro: buscamos as mesmas coisas e, ao encontrarmo-nos, seguimos a mesma trilha. Não é à toa que encontro aqui ao meu lado, pela milésima vez, os Fragmentos de um Discurso Amoroso de Roland Barthes. Eu olho pra ele, ele olha pra mim. Estamos, mais uma vez, enamorados (e eu? completamente louca de linguagem!).
"A linguagem é uma pele: esfrego minha linguagem no outro. É como se eu tivesse palavras ao invés de dedos, ou dedos na ponta das palavras. Minha linguagem treme de desejo. A emoção de um duplo contato: de um lado, toda uma atividade do discurso vem, discretamente, indiretamente, colocar em evidência um significado único que é "eu te desejo", e liberá-lo, alimentá-lo, ramificá-lo, fazê-lo explodir (a linguagem goza de se tocar a si mesma); por outro lado, envolvo o outro nas minhas palavras, eu o acaricio, o roço, prolongo esse roçar, me esforço em fazer durar o comentário ao qual submeto a relação."
[Barthes, Roland. Fragmentos de um discurso amoroso. Tradução de Hortênsia dos Santos. Rio de Janeiro: F. Alves, 1989, p.64].