domingo, abril 23, 2023
Vazio
sexta-feira, abril 07, 2023
domingo, março 26, 2023
no need
tagarelar sobre
o óbvio.
exclamar pequenos
gastar sentimentos.
apenas instantes.
nem precisamos falar
desses segredos.
dos nossos amores.
só o silêncio e o vento
noite adentro.
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amiga que partiu,
assim,
de repente,
sem se despedir.
talvez por saber que,
na verdade,
sábado, março 11, 2023
Freud-se II
"Aí estão os elementos, que parecem zombar de toda coerção humana; a terra, que treme, se fende e soterra tudo que é humano e obra do homem; a água, que, em rebelião, inunda e afoga tudo; a tempestade, que sopra tudo para longe; aí estão as doenças, que apenas há pouco tempo reconhecemos como sendo ataques de outros seres vivos; por fim, o doloroso enigma da morte, para o qual até agora não se descobriu nenhum remédio e provavelmente nunca se descubra. Com tais forças, a natureza se subleva contra nós, imponente, cruel e implacável, colocando-nos outra vez diante dos olhos a nossa fraqueza e o nosso desamparo, de que pensávamos ter escapado graças ao trabalho da cultura."
[Sigmund Freud | In: O Futuro de uma Ilusão]
domingo, fevereiro 26, 2023
conversa de whats
olá...
como tem passado?
(e eu, pega de surpresa, respondi):
enlouquecida,
frisante,
cheia de vida,
enrolada em muitas vírgulas,
vinda de você, não poderia supor outra resposta que não fosse essa:
sexta-feira, fevereiro 10, 2023
Cogito
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível
eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos secretos dentes
nesta hora
eu sou como eu sou
presente
feito um pedaço de mim
eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranquilamente
todas as horas do fim.
[Torquato Neto | Cogito | In: Melhores poemas]
segunda-feira, janeiro 30, 2023
Plenitude
Estive vasculhando algumas velhas anotações e encontrei a seguinte passagem:
"só aquele que permanece inteiramente ele próprio pode, com o tempo, permanecer objeto do amor, porque só ele é capaz de simbolizar para o outro a vida, ser sentido como tal. Assim, nada há de mais inepto em amor do que se adaptar um ao outro, de se polir um contra o outro, e todo esse sistema interminável de concessões mútuas... e, quanto mais os seres chegam ao extremo do refinamento, tanto mais é funesto de se enxertar um sobre o outro, em nome do amor, de se transformar em um parasita do outro, quando cada um deles deve se enraizar robustamente em um solo particular, a fim de se tornar todo um mundo para o outro" (Lou Andreas-Salomé).
Não sei quando a anotei, nem de onde a extraí. Tenho duas biografias de Lou Salomé. Uma delas, li e grifei inteirinha (a que tem um prefácio da Anaïs Nin), cujo título é LOU, minha irmã, minha esposa, de H. F. Peters (Jorge Zahar). A outra, de Dorian Astor (L&PM Pocket), li e grifei boa parte, mas não a li inteira ainda.
Fiz uma rápida pesquisa e é certo que tal passagem se encontra aos borbotões na internet, todas sem referências pontuais, o que me faz desconfiar se a passagem é dela mesma, se a tradução é boa ("funesto de se enxertar um sobre o outro?" não soa bem, há termos melhores para designar o que se quer dizer), ou se se trata de mais uma daquelas imposturas que encontramos pelas nets. Mas isso, aqui, não tem importância. Importa o que a passagem diz, e o porquê desse trecho ter me chamado a atenção (provavelmente há uns 10 ou 15 anos).
Creio que desejava alcançar esse estado de vida, pois, naquele tempo, ao amar louca e apaixonadamente, não me sentia propriamente "eu mesma", ao menos em toda a minha inteireza, tal como me sinto hoje: plena, sem necessidade de me adaptar a ninguém, ou de fazer concessões que possam trair, em nome do amor, meus próprios princípios, opiniões e/ou sentimentos. Hoje, posso dizer que me encontro enraizada em meu solo particular, robusto e independente (ainda que não tenha garantia de que será sempre assim). Hoje, sou todo um mundo, seja apenas para mim mesma, ou mesmo para um outro amor, além do meu próprio. E isso não tem preço. Tem valor, mas não tem preço, se é que vocês me entendem...
sábado, janeiro 07, 2023
O seu santo nome
Não a empregue sem razão acima de toda razão (e é raro).
Não brinque, não experimente, não cometa a loucura sem remissão
de espalhar aos quatro ventos do mundo essa palavra
que é toda sigilo e nudez, perfeição e exílio na Terra.
Não a pronuncie.
sexta-feira, dezembro 30, 2022
Tecido de horrores
"É impossível passar os olhos por qualquer jornal, de qualquer dia, mês ou ano, sem descobrir em todas as linhas os traços mais pavorosos da perversidade humana [...] Qualquer jornal, da primeira à última linha, nada mais é do que um tecido de horrores. Guerras, crimes, roubos, linchamentos, torturas, as façanhas malignas dos príncipes, das nações, de indivíduos particulares; uma orgia de atrocidade universal. E é com este aperitivo abominável que o homem civilizado diariamente rega o seu repasto matinal".
Charles Baudelaire apud Susan Sontag
In: Diante da Dor dos Outros
sábado, dezembro 24, 2022
Artigos de luxo
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"... nós nos salvaremos pelos afetos. O mundo nada pode contra um homem que canta na miséria."
[Ernesto Sabato | A Resistência]
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[art by William-Adolphe Bouguereau | Pietà | 1876]
domingo, dezembro 04, 2022
In love
O amor,
Minha gente,
É um poema bem curtinho,
Que na sua incomensurável forma de ser,
Nos fode,
Sem a gente perceber.
sábado, outubro 29, 2022
Grito rubro que pulsa sob minha pele
Mesmo com a garganta
Perfurada pela lâmina do silêncio
O sangue pulsa vermelho
Mesmo que o carrasco
Arranque a língua insubmissa
O sangue grita vermelho
Mesmo sob a face do torturador
O corpo feito em pedaços
O sangue resiste vermelho
Mesmo com os olhos
Vagando na noite sem fim
O sangue brilha vermelho
Mesmo com rumores de ataques
Coturnos, bombas e tanques
O sangue da luta é vermelho
Mesmo com a corda no pescoço
Uma multidão pedindo nossas cabeças
O sangue permanece de pé, vermelho
Mesmo que os lábios toquem a lona
E sintam o gosto áspero da queda
O sangue levantará do chão, vermelho.
sábado, setembro 24, 2022
Les clés
"Minha querida, não há nem muros nem jardins secretos para você. Você tem as chaves para todas as portas."
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Albert Camus em carta a Maria Casarès, 12 agosto 1948, in Correspondance: 1944-1959. Paris: Gallimard, 2017.
sábado, setembro 10, 2022
Tríptico II
esplêndida e vasta.
Não sei o que dizer, quando longamente teus pulsos
se enchem de um brilho precioso
e estremeces como um pensamento chegado. Quando,
iniciado o campo, o centeio imaturo ondula tocado
pelo pressentir de um tempo distante,
e na terra crescida os homens entoam a vindima
— eu não sei como dizer-te que cem ideias,
dentro de mim, te procuram.
Quando as folhas da melancolia arrefecem com astros
ao lado do espaço
e o coração é uma semente inventada
em seu escuro fundo e em seu turbilhão de um dia,
tu arrebatas os caminhos da minha solidão
como se toda a casa ardesse pousada na noite.
— E então não sei o que dizer
junto à taça de pedra do teu tão jovem silêncio.
Quando as crianças acordam nas luas espantadas
que às vezes se despenham no meio do tempo
— não sei como dizer-te que a pureza,
dentro de mim, te procura.
Durante a primavera inteira aprendo
os trevos, a água sobrenatural, o leve e abstracto
correr do espaço —
e penso que vou dizer algo cheio de razão,
mas quando a sombra cai da curva sôfrega
dos meus lábios, sinto que me faltam
um girassol, uma pedra, uma ave — qualquer
coisa extraordinária.
Porque não sei como dizer-te sem milagres
que dentro de mim é o sol, o fruto,
a criança, a água, o deus, o leite, a mãe,
o amor,
que te procuram.
[Herberto Hélder, Tríptico II | in: A Colher na Boca | 1961]
quarta-feira, agosto 31, 2022
Tempo
"... queria te falar, te falar da morte de Ivan Illich, da solidão desse homem, desses nadas do dia a dia que vão consumindo a melhor parte de nós, queria te falar do fardo quando envelhecemos, do desaparecimento, dessa coisa que não existe mas é crua, é viva, o Tempo."
***
Hilda Hilst | In: "A obscena senhora D" | São Paulo : Globo | 1a edição | 2001
sexta-feira, agosto 26, 2022
Hope
Horas, horas sem fim,
pesadas, fundas,
esperarei por ti
até que todas as coisas sejam mudas.
Até que uma pedra irrompa
e floresça.
Até que um pássaro me saia da garganta
e no silêncio desapareça.
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Eugénio de Andrade
quinta-feira, agosto 18, 2022
Chuvosa
quinta-feira, março 31, 2022
Bom dia, deem uma viajadinha no tempo. Remontem aos anos
finais do século XVIII — contexto da Revolução Francesa — e vejam o que essa
mulher, Olympe de Gouges, ousou declarar em linhas que, dois anos mais tarde, entre
outras, custaram-lhe a cabeça.
“Homem, você é capaz
de ser justo? É uma mulher que lhe faz a pergunta — você não a despojará desse
direito, pelo menos. Diga-me, quem lhe deu o poder soberano para oprimir meu
sexo? A sua força? Os seus talentos? Observe o criador em sua sabedoria,
percorra a natureza em toda a sua grandeza, da qual você parece querer
aproximar-se, e dê-me, se você ousa, o exemplo desse império tirânico (n.1).
Retorne aos animais, consulte os elementos, estude os
vegetais, enfim, olhe todas as modificações da matéria organizada, e renda-se à
evidência, quando lhe ofereço os meios de fazê-lo. Procure, pesquise e
distinga, se você puder, os sexos na administração da natureza. Em toda parte,
você encontrará os sexos confundidos, em toda parte eles cooperam com um
conjunto harmonioso para essa obra prima imortal.
Somente o homem costurou para si um princípio dessa exceção.
Estranho, cego, inflado de ciências e degenerado, neste século de luzes e de
sagacidade, na ignorância mais abjeta, ele quer comandar como déspota sobre um
sexo que recebeu todas as faculdades intelectuais. Ele [este sexo] pretende
usufruir da Revolução e reivindicar seus direitos à igualdade, para nada mais
dizer.”
(N.1. De
Paris ao Peru, do Japão ao Senegal, o homem é, a meu ver, o mais tolo animal
(N.A.)).
[Acima, texto de abertura à Declaração dos direitos da mulher e
da cidadã, 1791].
Tal Declaração, dedicada à rainha Maria Antonieta, é composta por um preâmbulo, dezessete artigos, um epílogo e mais algumas linhas sobre a “Forma do contrato social entre o homem e a mulher.” Encontra-se traduzida in: ROVERE, Maxime (Org.). Arqueofeminismo: Mulheres Filósofas e Filósofos Feministas. Séculos XVII e XVIII. São Paulo: n-1 Edições, 2019.
Vale muito a leitura!
segunda-feira, março 21, 2022
O último brinde
Bebo à casa arruinada,
às dores da minha vida,
à solidão lado a lado
e a ti também eu bebo –
aos lábios que me mentiram,
ao frio mortal nos olhos,
ao mundo rude e brutal
e a Deus que não nos salvou.
Ilustración | Nicoletta Tomas Caravia | Espagne
sábado, fevereiro 26, 2022
Louca, mas nem tanto...
Dia desses achei que estava ficando louca. Fui até a cozinha beber água, abri a geladeira e, sem perceber, peguei uma coca. Em seguida, fui buscar um copo. No meio do caminho, fumando um cigarrinho, vi um cinzeiro sobre a mesa. Em vez de pousar o cigarro no cinzeiro, ou simplesmente bater a cinza, abri a coca e quaase a despejei no cinzeiro. Percebi, então, o quanto estava ligada no automático. Bom, ao menos percebi. Pior se tivesse mesmo despejado a coca no cinzeiro e bebido. Ora bolas, ao que tudo indica, concluí, restava ainda um pouco de sanidade na minha cachola.
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imagem: collage surreal space art
quinta-feira, fevereiro 10, 2022
A sós sob o sol
Ontem encontrei em meio à praia quase deserta alguns abutres que voavam numa aerodinâmica belíssima em busca de alimento. Abutres são necrófagos, se alimentam de carniça. Por isso, são muito malvistos. Mas ontem fiquei a observar a beleza do voo dos abutres. Havia alguns poucos peixes mortos na areia. Desses que as ondas trazem naturalmente. Céu azul, sol radiante, água morna, vento fresco. Tudo muito calmo, sincronizado e tranquilo.
Os abutres voavam lá no alto, organizados num grande círculo. Pareciam inspecionar a área. Faziam uma espécie de ronda. A praia, cuja extensão de 10 km é também muito larga, estava simplesmente paradisíaca. Eles começaram a descer de mansinho, voando num movimento espiral, lento, observando o entorno. E foram se aproximando da areia, pousando de leve, fechando as asas, ao lado dos peixes mortos.
Nunca havia visto tantos abutres juntos. E de tão perto. Como são grandes e pretos! De asas abertas ficam enormes. Eram cinco. Senti um pouco de medo de que viessem pra cima de mim. Mas eles estavam calmos. Não se sentiram ameaçados pela minha presença, pelo meu olhar. Perdi o fôlego. Meu coração descompassou. Quase saltou do peito. Estupefata, respirei fundo, controlei o medo, e deixei que a natureza seguisse seu curso habitual e uniforme, sem interferir na cena daquele belíssimo fenômeno natural da cadeia alimentar. Fiquei na posição de observadora passiva, paralisada.
Não pude deixar de me perguntar: o que seria da carniça sem os abutres ou quaisquer outros animais necrófagos para comê-la? Toda matéria composta está sujeita à corrupção, à decomposição e à morte. Inclusive esse meu olhar fotográfico, que armazena a cena, e guarda um poema, em minha estética e melancólica memória.
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[marília côrtes | ilha do mel | janeiro de 2020].
sábado, janeiro 29, 2022
Triiimmm
Toca o interfone:
Marília? Chegou uma encomenda pra você...
Desci achando se tratar daquele tênis que ganhei de presente das minhas filhas. Pelo tamanho da caixinha não poderia ser. O peso? leve, muito leve. Olhei o remetente: era do meu amigo Miguel. O sorriso mordeu minhas orelhas.
Ah... que surpresa! O que seria? Não esperava. Não era meu níver, nem natal, nem nenhuma data comemorativa. Eita! Deve ser uma das peripécias delicadas e criativas do Miguelito. Um mimo para quem tinha acabado de mudar de apartamento.
Subi apressada, louca de curiosidade, com a caixinha nas mãos. Abri o pacote e encontrei algo envolto em plástico bolha. Inferi que era um objeto sensível, provavelmente de vidro, quebrável. Desembrulhei com cuidado e, eis senão quando, encontrei um copinho pink estampado com a Penélope Charmosa a viajar loucamente pelo mundo afora, numa de suas corridas malucas.
Quando liguei pra agradecer o presente, Miguelito me contou que ao vê-lo na lojinha pensou: é a cara da Marília. Confesso que também achei rs.
De imediato me lembrei que minha mãe havia dado o nome de Penélope Charmosa à nossa Caravan 76. Miguelito não sabia disso. Era uma Caravan cor de café com leite, 3 marchas, banco inteiro na frente, bem espaçoso, bom pra namorar.
Meu pai comprou a Penélope zero km, em 1976, e ela ficou em nossa família por 26 anos. Destes, por 6 mais ou menos ela foi só minha. Ganhei de presente no início de 1997. Era bem conhecida. Ao que tudo indicava, na época, só circulavam três daquela cor na cidade. E a nossa nunca passava despercebida. No final de 2002 troquei-a por um Passat prata, mais novo, mas bem usadinho.
Além de Penélope Charmosa, eu a chamava também de Sedenta, já que era difícil satisfazer a sede dela por gasolina (que já custava os olhos da cara). A Sedenta rodava de 5 a 6 km por litro. Era mesmo insaciável. De vez em quando a marcha encavalava e, daí, eu tinha que parar onde estivesse, descer, atrapalhar o trânsito, abrir aquele capô imenso e pesado, e desencavalá-la. Mas essa já é outra história.
Quanto ao copinho, é meu xodó. Um charme!
domingo, janeiro 09, 2022
Domingo poético
Numa noite sem nome
a severa senhora de olhos escuros
toca-nos a face
com seus dedos de pelica
e vai arrancando, uma a uma,
todas as máscaras
que vestimos e nessa hora sem hora
até o mais valente dos valentes
sente um tremor,
ainda que leve,
na mão que empunha o revólver
sábado, dezembro 25, 2021
apocalyptic news
domingo, dezembro 19, 2021
Os dias sem ninguém
4.
senta-se no estremecer da noite enumera
o que lhe sobejou do adolescente rosto
turvo pela ligeira náusea da velhice
quase sempre estendido ao lado do sono
pressente o suave esvoaçar da idade
ergue-se para o espelho
que lhe devolve um sorriso tamanho do medo
à beira-mar envelheceu vagarosamente
sem que nenhuma ternura nenhuma alegria
nenhum ofício cantante
o tenha convencido a permanecer entre os vivos
(Al Berto | in Medo | Lisboa | Assírio & Alvim | 1997 | p. 506).
domingo, dezembro 12, 2021
Yourself
Virá o tempo
em que você, exaltado,
vai saudar a si mesmo chegando
à sua própria porta, em seu próprio espelho,
e vão trocar sorrisos de boas-vindas,
Vai amar o estranho que um dia você foi.
pra ele mesmo, o estranho que o amou
por outro alguém, que o conhece de cor.
Pegue da estante as cartas de amor,
descasque seu reflexo do espelho.
Sente-se. Sirva-se da vida.
..................................
Love after love
The time will come
when, with elation
you will greet yourself arriving
at your own door, in your own mirror
and each will smile at the other's welcome,
You will love again the stranger who was your self.
Give wine. Give bread. Give back your heart
to itself, to the stranger who has loved you
for another, who knows you by heart.
Take down the love letters from the bookshelf,
peel your own image from the mirror.
Sit. Feast on your life.
quarta-feira, dezembro 01, 2021
Ensaios Políticos e VIII Encontro Hume
sexta-feira, novembro 19, 2021
Ensaios Políticos
Eis a mais nova novidade do pedaço 😁, fruto de um trabalho minucioso, realizado em parceria com meu colega e amigo Jaimir Conte, a quem só tenho a agradecer pelo convite e pela confiança em dividir comigo a tarefa de publicar essa obra.
'David Hume: ensaios políticos, tradução, introdução e notas' foi o primeiro trabalho acadêmico de grande envergadura sobre a filosofia de Hume em língua portuguesa. Além de traduzir um conjunto significativo de ensaios, com o acompanhamento de um grande número de notas, o longo estudo introdutório sobre a filosofia política de Hume apresentado por Monteiro constituiu um marco no interesse pela filosofia de Hume no Brasil.
Embora os ensaios políticos de Hume traduzidos por Monteiro tenham sido publicados posteriormente na coleção “Os Pensadores” e em outras edições, todas elas omitiram a inclusão do longo estudo introdutório e do aparato de notas por ele preparado e apresentado junto à tradução. Esta edição visa, assim, recuperar e publicar pela primeira vez o trabalho integral, incluindo o estudo introdutório e as notas acerca dos Ensaios Políticos de Hume elaboradas pelo professor J. P. Monteiro.
Texto da Quarta Capa
"Os Ensaios Políticos de Hume tiveram uma enorme audiência e considerável influência sobre seus contemporâneos. Mas as reflexões de Hume sobre política nem sempre tiveram a atenção que merecem, situação que ultimamente vem se revertendo graças a uma série de estudos que iluminam sua importância. É por isso mais que oportuna a publicação dessa edição dos Ensaios Políticos, enriquecida com o estudo de João Paulo Monteiro, que, de forma pioneira em língua portuguesa, situa o interesse de Hume pela política no quadro mais amplo de suas preocupações filosóficas, bem como mostra a relevância de sua ciência política, entendida como uma ciência do possível, fundada na experiência histórica, dedicada ao estudo das leis constitucionais e de seus efeitos sobre a sociedade, de forma comprometida com as questões e impasse políticos de seu tempo" (Maria Isabel Limongi).
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A preparação deste volume foi autorizada pela família do professor João Paulo Monteiro, em particular por sua esposa, agora viúva, a historiadora Maria Beatriz Nizza da Silva, a quem aqui, eu e Jaimir, agradecemos por nos confiar o trabalho de organização e preparação do texto.
Deixo aqui meus agradecimentos também às professoras Sara Albieri (USP) e Bel Limongi (UFPR), que se dispuseram prontamente a escrever a orelha e a quarta-capa deste livro, assim como à equipe da Almedina/Edições 70, Isabela e Larissa, pelo trabalho de editoração, e, em especial, ao editor Marco Pace por acreditar na proposta e se empenhar em viabilizar a presente publicação.
Para mais informações, acessem:
https://www.almedina.com.br/produto/ensaios-politicos-10556
domingo, novembro 07, 2021
Oftalmo
sábado, outubro 30, 2021
Frutífera
'Da solidão do fruto'
De meu corpo ofereçoas minhas frutescências,
casca, polpa, semente.
E vazada de mim mesma
com desmesurada gula
apalpo-me em oferta
a fruta que sou.
Mastigo-me
e encontro o coração
de meu próprio fruto,
caroço aliciado,
a entupir os vazios
de meus entrededos.
'Da partilha do fruto'
as minhas frutescências,
e ao leve desejo-roçar
de quem me acolhe,
entrego-me aos suados,
suaves e úmidos gestos
de indistintas mãos e
de indistintos punhos,
pois na maturação da fruta,
em sua casca quase-quase
rompida,
boca proibida não há.
...................................