terça-feira, abril 20, 2021

Canto





No túmulo,
quando eu morrer
esparrame pétalas
de rosas amarelas
perfumadas de teu suor.

Despregue uma lágrima cinza
de teus olhos oblíquos
e deixe-a quente na lápide
feito pedra judaica,
sem verbos.

Recite silêncio
verso de ninguém
a espremer o caldo
de rimas
jogadas a esmo.

Em ensaio de vida,
descubra o piscar
de estrela entre nuvens, e
no baile cósmico,
colha palavras molhadas.

Sinta meu cheiro
entre páginas
apagadas e
tente resto de sorriso,
quase nada.

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(Nilson Monteiro | abril | 2021)

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Nosso amigo jornalista, poeta e escritor da geração pé-vermelho, membro da Academia Paranaense de Letras, com esse canto-poema tingiu de beleza a minha manhã. Estava lá no facebook. Encantei-me. Pedi permissão para ecoá-lo. Perguntei se estava publicado em algum de seus livros. Ele disse:  não, acabo de publicá-lo. 

sexta-feira, abril 09, 2021

La musique

LXIX


A música me arrasta às vezes como o mar!
No encalço de um astro,
Sob um teto de bruma ou dissolvido no ar,
Iço a vela ao mastro;

O peito para frente e os pulmões enfunados
Tal qual uma tela,
Escalo o dorso aos vagalhões entrelaçados
Que a noite me vela;

Sinto que em mim ecoam todas as paixões
De um navio aflito;
O vento, a tempestade e suas convulsões

No abismo infinito
Me embalam. Ou então, mar calmo, espelho austero
De meu desespero!

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BAUDELAIRE, Charles | As Flores do Mal |Tradução de Ivan Junqueira | Rio de Janeiro | Nova Fronteira, 1985 | p. 293. 

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Franz Sedlacek | Abendlied | 1938 | #surrealism