sábado, junho 22, 2019

Baruk sem ser Spinoza




Esse é o Baruk... o carinha mais difícil de conquistar que encontrei nessa vida. Do tamanho de um sapato, e da cor de um carvão (no escuro ninguém o vê), parece que tem medo de mim. A seus olhos devo parecer uma gigante, que anda a passos largos com suas botinhas ameaçadoras e uma cabeleira comprida, loira e esvoaçante. Baruk adora destruir uma vassoura (dizem que é sua tara). Talvez ele me veja como uma bruxa.

Na tentativa de atraí-lo pra um carinho, faço com minha voz experimentos: Baruk...  BAruk... BaRUk... vem cá coisa fofa... baRuK... baruk... vem aqui... vEem... vem... lindinho. Se tento falar naturalmente ele permanece inconquistável, se tento falar mais fino, melodioso e suave, tipo quando a gente fala com criancinhas (vem tiiii fofinho), ele continua a latir, irredutível, com rabinho, orelhas e olhares de desconfiança.




Logo que entrei na casa ele latia fino e ardido o tempo todo. Agora, só de vez em quando, quero dizer, quando estou sozinha ou na companhia de dois dos meus colegas. Porém, quando seu dono (que, aliás, é um gato) chega ou está presente, ele rosna e late pra mim como um louco, correndo atrás de minhas botas e canelas (o máximo de mim que ele alcança). Diz o dono que ele faz isso porque quer mostrar serviço, além de ter muito ciúmes dele.

Já tentei de tudo para conquistá-lo: desci à sua pequena estatura, o que significa deitar no chão, esperando que ele viesse até mim. Ele até veio, mas para me morder. Ofereci-lhe ração pra que chegasse perto e comesse em minhas próprias mãos. Sabem o que ele fez? Veio, comeu rapidinho e tentou me lascar seus dentinhos finos feito alfinetes. Não sei mais o que fazer. Diz meu colega Miguel que o conquistou em não muito tempo. E, de fato, ele é cheio de graça e carinhos para com o Miguel (morro de inveja). O Márcio não dá muita bola para ele, nem ele pro Márcio. Convivem muito bem. E sem melodramas. Com o Maciel, seu dono, vive in love. E ai de mim se chegar perto dele.


[ photos by Miguel Zioli]