Outro dia uma amiga minha me definiu como um mar de águas
plácidas, isto é, um mar sem ondas. Achei engraçado, pois dentro de mim, como
diria Stendhal, “minha alma é um fogo que sofre se não arde”.
Ela fez referência a essa minha placidez com base (segundo
ela, e eu concordo em parte) no modo como eu lido, em geral, com as pessoas.
Exclui-se aqui o modo como eu lido com minhas filhas, para as quais, segundo
elas mesmas (e eu concordo em parte), sou uma mãe dramática, neurótica e
estressada.
Essa minha amiga e mais algumas outras dizem que um traço
característico meu é ser emocionalmente muito equilibrada e bem resolvida.
Achei engraçado de novo, pois volta e meia, enredada em dilemas, contradições e
paradoxos, sinto que meu coração é uma granada cujo
pino está prestes a saltar, e eu, tragicamente, prestes a explodir. Por
paixões, tais como as do amor, do medo, da cólera, da audácia, do orgulho, da
esperança ou desespero, sou capaz de transitar do céu ao inferno e do inferno
ao céu em poucos segundos.
Another day, uma outra amiga me disse que nasci plugada.
Esta me traduz como uma mulher agitada, capaz de ferver, fazer e coordenar
várias coisas ao mesmo tempo. Mas embora eu me considere uma pessoa que
funciona bem (sob pressão, of course), ninguém há de estranhar se me encontrar
devagar... devagar... a divagar... divagar...
Por essas e outras, talvez não seja à toa que amo a
filosofia, a literatura e a poesia; que me apaixono por princípios, palavras, ideias,
gestos, imagens, expressões e movimentos; e que adoro a música, a pintura, o
cinema e, numa palavra, a arte. No fundo, acho que sou uma esteta, porém, sem
ser propriamente uma artista.
[Arte by Edward Zentshik]