Chegamos em Montevideo. Antes disso, tortura aérea. Três decolagens. Três pousos. E algumas turbulências. Ai... como detesto voar dentro de uma máquina gigante, inflamável e falível (é assim que concebo um avião). Se eu soubesse que teria de voar, preferiria ter nascido pássara!
De início, já detesto as instruções das aeromoças ou comissários de bordo, que dizem sempre sorrindo: "em caso de despressurização da cabine, máscaras de oxigênio cairão. Puxem o elástico, coloquem a máscara 'assim' e respirem normalmente". Ora bolas, indago indignada: quem pode respirar normalmente numa situação dessa? E com aqueles sorrisinhos brancos, simpáticos e tranquilos, continuam eles: "em caso de pouso na água, usem o acento para flutuar... e blablablá".
PQP, dá vontade de mandá-los à M...! Num grito silencioso, imploro: calem a boca peloamordedeus! Não povoem a minha imaginação (que já é suficientemente fértil) com essas possibilidades. Afastem de mim esses cálices!
Well, um modo de amenizar meu sofrimento é, se possível, nunca me sentar próxima à janela. Assim posso evitar olhar pra fora, pois se vejo que o céu está carregado de nuvens escuras (que nunca me parecem passageiras), fico mais apavorada ainda. No primeiro voo, Londrina-São Paulo, tive pânico e tremedeira (ainda bem que minhas demais funções eu consigo controlar rs). Desta vez, como em muitas outras, cheguei (discretamente) a chorar... de medo e de nervoso (sempre tenho medo e fico nervosa em qualquer voo, mas, em geral, e por pura necessidade, aprendi a ter um [in]certo controle). Comecei tomando calmantes e, aos poucos, fui encarando os voos "de cara", sem tarja preta nenhuma.
Em qualquer decolagem tenho a sensação de que o avião não vai conseguir subir, ou, pior, que vai explodir: BUUUMMM... e tudo irá pelos ares (e por terra abaixo)! Não suporto qualquer movimento, qualquer balancinho, qualquer barulhinho diferente, seja no motor do avião, seja no recolher ou acionar do trem de pouso. Odeio quando o avião se inclina nas curvas. Tenho a impressão de que ele vai despencar. E a cada vez que ouço o sinal que indica que alguém vai falar (o comandante ou qualquer tripulante), meu coração salta pela boca... e volta (ainda bem que volta!). Lá vem o BLIM-BLOM: "senhores passageiros..." imediatamente minha mente trágica imagina um aviso nefasto, do tipo: "o avião apresenta problemas, uma das turbinas pifou, a outra está pegando fogo, vamos ter de fazer um pouso de emergência, além de, antes, enfrentar uma tempestade com raios, ventos, trovões e furacões". Apertem os cintos!!! Socoooooorro...!!!
No segundo voo, São Paulo-Porto Alegre, resolvi tomar 1/4 de Rivotril, pois estava nervosa demais. Meu estado era de emergência. Eu era uma bomba-relógio, sem humor para brincadeiras e piadas. Mas, com o Rivotril, consegui cochilar e relaxar um pouco (apesar da eterna e constante sensação de insegurança e medo).
No terceiro, de Porto-Alegre a Montevideo, mais 1/4 de Rivotril. Suspirei fundo, aliviada, quando o avião tocou o chão. Constatei que sobrevivemos! Porém (ahh... sempre tem um porém), em seguida, pensei: droga! teremos de voltar... e um voo é sempre periclitante, é sempre um voo no escuro (ao menos pra mim). E de nada adianta tentarem me convencer de que o transporte aéreo é, estatisticamente comprovado, o mais seguro de todos. Não me ofereçam razões para acreditar nisso. Porque eu não acredito, infelizmente! Bem que eu gostaria... (ai de mim)!