segunda-feira, março 19, 2018

Chá de espera

Segunda-feira cedo. Horário no oftalmologista às 9h. Havia me esquecido completamente. Programei o despertador para às 9h mesmo, já que tinha ido dormir de madrugada. Porém, acordei sozinha em torno das 8h15min e fiquei ali enrolando um pouco na cama, comme d’habitude, uma vez que tal compromisso nem me passava pela cabeça (algo raro, pois não costumo me esqueçer de um compromisso). De repente, às 8h28min, acendeu um letreiro em minha tête com a informação: oftalmo às 9h.

Bah! e agora? Preciso de um banho e, em geral, sou bem lenta para isso. Well, terei de ser rapidíssima. Corri, joguei uma água no corpo, escovei os dentes, fiz um café, passei um secador nos cabelos, me vesti, coloquei meus anéis, pulseiras, brincos, sapatos e tudo mais.  Resolvi, então, ligar no consultório para avisar que poderia me atrasar uns minutinhos. A secretária me disse: será que você conseguiria chegar lá pelas 9h10min? Eu disse: claro!!! E saí toda esbaforida. Cheguei às 9h03min. São 9h42min. Até agora nem sinal do médico. Simplesmente ele não chegou ainda. E a sala de espera está cheia. Assim como a minha paciência! Humpft!

photo by Stephanie Jager 
Alice in Wonderland

sábado, março 10, 2018

Deslumbramento


É amor? Não sei. Esta intranquilidade,
Este gozo na dor, esta alegria
Triste que vem de manso e que me invade
A alma, enchendo-a e tornando-a mais vazia;

Este cansaço extremo, esta saudade
De uma cousa que falta à vida... O dia
Sem sol, as noites ermas, a ansiedade
Que exalta e a solidão que anestesia,

É amor. Egoísmo de sofrer sozinho,
De as penas esconder do humano açoite,
De transformar as pedras do caminho

Em carícias sutis para colhê-las
E andar como um sonâmbulo, na noite,
Escancarando os olhos às estrelas...

[ © Olegário Mariano |  In: Canto da minha terra ]


sábado, março 03, 2018

Notas sobre um acidente



Derrapou! E eis que salta a gigantesca abóbada do império. O automóvel toma vida própria, tal como se dissesse.

─ My lady, agora quem manda aqui sou eu. Adeus e passe bem, talvez mesmo desta para melhor. No freedom, no liberty, no power. Não há nada que possas fazer. Não há braço, cálculo, controle. Não há destreza, freio, câmbio, pneu ou direção. Testemos as engrenagens de tua vida. Vejamos se os gonzos estão bem ajustados. Testemos a tua sorte.

A estrada é perigosa. Não é à toa que a chamam de estrada da morte. Naquele minuto, a mente relê a história ─ a 120 quilômetros por hora. Dentro, tudo gira sobre si ao som de estilhaços. Fora, há o frio, a garoa, a neblina, a curva, o óleo na pista, o barranco, a vala, a lama.

Vê-se a viola em cacos. Os óculos, os sapatos, o notebook,  a tese. Livros, artigos, documentos, celulares ─ a vida  ─ tudo pelos ares.  Capotadas, piruetas, solavancos, hematomas e dores pelo corpo. But no cuts, no bloodno serious injuries, no broken bones. Lá se vai um brinco. Também um carro, um presente, um passado.


photo by © Tami Bone