segunda-feira, junho 02, 2014

Vida ordinária


Ella observa, enquanto toma seu café, a encruzilhada da Cruz Machado com suas velhas esquinas e seus transeuntes. Táxis, carros de passeio, utilitários e os mais diversos tipos de veículos automotores se entrecruzam. Pessoas comuns transitam pra cá e pra lá: passos compassados, mecânicos e regulares: uns mais apressados, outros menos ─ uma perna seguindo-se à outra, como numa engrenagem.

Os olhos de Ella percorrem vagarosamente todos os movimentos da rua, enquanto desgosta de seu café morno. Ella pensa: que vida mais ordinária, povoada de pessoas ordinárias, com seus rostos, roupas e sapatos ordinários!

Apesar da baixa temperatura de junho (e por que não dizer temperatura ordinária?), o céu curitibano está aberto e o sol reina majestaticamente. Porém, está frio demais para Ella e seu gosto quente. Suas mãos estão geladas. O coração apertado. E em meio à observação e burburinho ordinários, Ella aprecia o borbulhar de seu interno mundo extraordinário.





[foto: Jonathan Carroll]

3 comentários:

Anônimo disse...

Talvez o mais ordinário elemento do cenário seja 'Ella', ordinária que julga vulgar todo o mundo ao seu redor. Torna-se ordinária porque 'ella' sabe que no fundo não é nada mais do que parte complementar do todo ordinário que Ella tanto julga.

Anônimo disse...


Será que a ´'extraordinária pessoa' também não é pusilânime e seria capaz de publicar os comentários. Vamos aguardar!

Marília Côrtes disse...

Caro anônimo(a).

Não costumo publicar comentários anônimos, mas resolvi te dar essa colher de chá, especialmente porque seu primeiro comentário me dá a oportunidade de esclarecer outros possíveis leitores incautos sobre os diferentes sentidos do termo ordinário.

Uma espiadela num dicionário bem basiquinho seria suficiente para esclarecê-lo(a) de que o termo ordinário, antes de ter o sentido pejorativo que você atribuiu, significa, primordialmente, aquilo (i) “Que está na ordem usual das coisas; habitual, useiro, comum: ii) Regular, periódico, costumado, frequente” (Aurélio Século XXI). E a vida é assim, meu caro (ou minha cara) sem nome. Ela (a vida), em geral, segue uma ordem usual, habitual, regular e frequente.

Era apenas isso que Ella observava: nada mais do que a vida ordinária, habitual e comum de todos os transeuntes, a partir de sua própria vida ordinária, “que no fundo não é nada mais do que parte complementar do todo ordinário que Ella tanto julga” (como você muito bem observou, embora, como disse, usando o termo em sentido pejorativo).

Nada de extraordinário ocorria externamente naqueles minutos do café de Ella, somente dentro dela. Mas o mundo interno de Ella, se extraordinário ou não, diz respeito apenas a ela. E Ella sabe que cada um tem o seu.

Não era preciso, caro(a) sem nome, tomar tais observações para si, tampouco ficar ofendido(a) e ficar despeitadinho(a).

Quanto ao segundo comentário, não vou publicá-lo, simplesmente porque, além de ser extremamente deselegante e ofensivo, parece revelar, digamos assim, um problema pessoal. E meu blog não existe para tratar de problemas pessoais.

A respeito do terceiro comentário (e de tantos outros anônimos de teor ofensivo e pessoal, talvez seus mesmos), aquele que sugere pusilanimidade de minha parte, eu diria que pusilânime é quem escreve comentários anônimos, ou seja, quem não tem coragem de assumir (e assinar) o que pensa e escreve.

Que fique claro que aqui eu publico somente o que eu quero (assinado ou não). E se o(a) senhor(a) não gosta do que escrevo (penso ou sou) não entre no meu blog. Simplesmente não me leia! Ignore-me, please...