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quinta-feira, março 10, 2016

Momento Porteño


Eles chegam ao hotel en la calle Esmeralda. Pegam a chave do quarto e entram no pequeno e antigo elevador. Entra com eles também um senhor de uns 58 anos, tradicionalmente trajado, um pouco baixo e gordo, com um pacote de supermercado nas mãos. Esse senhor desconhecido não consegue tirar os olhos dela. E parece perder o fôlego ao medi-la, indisfarçadamente, de cima a baixo. 

Ela fica ligeiramente constrangida (bem ligeiramente, pois não costumava ficar assim ao ser admirada, ao contrário, sentia-se, em geral, muito confortável com isso) e se aproxima um pouco mais do namorado, como quem diz para o cara: - olha, eu estou acompanhada! 

Nessa altura, o namorado, em silêncio, só observa. O camarada não resiste e diz a ele: muito bonita sua namorada! 

O rapaz, senhor de si e da situação, agradece esboçando um sorriso discreto e educado. Ela apenas sorri. O desconhecido não se contém. Num movimento espontâneo (e certamente temerário) tira uma garrafa de vinho do pacote e oferece-o, gentilmente, a ela. 

Well, não escapa ao casal a percepção de que seria menos arriscado se o cara tivesse oferecido a garrafa ao namorado, e não a ela. Mas, enfim, meio sem chance de recusar, dado o clima cortês no qual o episódio se dava, ela toma o vinho em suas mãos e agradece com um olhar e sorriso acanhados. O namorado, com a reserva de um gato, também sorri. Não fala nada. Mas pensa: - quê atrevimento! 

Eles descem do elevador no mesmo andar e se despedem daquele senhor. Entram no quarto um pouco desconsertados com aquela cena inusitada. Olham-se e riem. Ela aguarda, sem saber muito bem o que dizer, o que o namorado dirá. Ele respira fundo, olha bem nos olhos dela, dá um sorriso descontraído e, beijando-lhe as mãos, diz: 


- "Ele te admirou. E eu admirar-me-ia se ele não te admirasse, se ele fosse capaz de permanecer indiferente à tua beleza, charm e presença. Pois se ele é realmente um homem sensível, não poderia deixar-te passar despercebida..."



[Photo by Jonathan Carroll]

segunda-feira, dezembro 28, 2015

Sorry


Ela acorda cedo, desce a escada e avista uma aranha. Tira rapidinho o chinelo e... paaaaaá nela! Depois, com ar de mulher corajosa, conta pra filha: 
- Tive que matar uma aranha hoje... 
A filha olha os restos mortais da defunta e diz:
- Ahhh mãe... não era. Era um sirizinho preto. 
A mãe, surpresa, exclama: 
- Ai que dóooo! um filhotinho. Putz, tava sem óculos... 

quarta-feira, outubro 21, 2015

Observações triviais II

Meus cantos, 
ângulos 
e cantinhos.
25 graus 
céu predominantemente nublado
cinza claro
calmo 
fresquinho 
gostosinho 
calminho 
beijinho.

domingo, setembro 20, 2015

Tácita aliança


Ele é o chefe. A divisão está lotada. Fila em todos os setores. Ella passa. O chefe? Arregala os olhos. Se atrapalha na entrevista sobre a greve. Ella percebe o impacto que sua passagem causa nele. E resolve se servir disso. Tudo é urgente. A burocracia é de ranger os dentes. E as soluções? Todas morosas. A divisão trabalha com poucos funcionários. Ella tem pressa.  Respira fundo, cresce o corpo, engrandece o espírito, e se exibe um pouco passando pra cá e pra lá como quem procura a pessoa certa para resolver seu problema. Ele, perturbado, dá a maior bandeira. Não consegue tirar os olhos dela. Ella passa, então, para o outro lado. Exibe-se um pouco mais. O chefe, todo atordoado, termina a entrevista, entra em sua sala, e manda um funcionário chamá-la. Tudo está implícito. Ambos sabem que não vai rolar nada. É suficiente que ele a olhe e que ela entenda o olhar dele. E, para ele, é suficiente que ela permita ser olhada com aquele olhar de quem diz que a quer, ainda que saiba que nunca vai tê-la. Ella é educada. Ele? Prestativo. Acompanha-a por todos os setores necessários, facilitando as coisas. Tudo se resolve rapidamente com a maior discrição e boa vontade. Ella estende a mão, agradece-o de modo cortês e, com um reservado sorrisinho no rosto, sai toda satisfeita e desenvolta. C'est tout.

quinta-feira, julho 24, 2014

terça-feira, junho 03, 2014

Observações triviais


Ella saiu pra almoçar às 12:45. Pelo brilho do sol, supôs que a temperatura estivesse mais alta. Se enganou tremendamente: o sol até que estava quente, porém, o vento... ai... o vento estava gélido e cortante! Ella se arrependeu de não ter se agasalhado até os dentes. Pensou que talvez fosse o caso de voltar ao hotel pra se agasalhar melhor. Mas, enquanto pensava, hesitou, pois achava que havia demorado tanto pra sair que, se voltasse, iria, comme d'habitude, se enrolar mais um pouco pra sair de novo. Acabaria perdendo o horário do almoço, a fome iria passar e isso certamente faria com que Ella passasse o resto do dia a enganar a fome quando esta retornasse ao seu estômago de passarinho.

Pensando assim (e já encantada pelo cenário das ruas curitibanas), seguiu em frente. Ao mesmo tempo em que blasfemava contra o vento frio, aprazia-se por ter tido a prudência de sair de luvas, cachecol, e  uma echarpe de lãzinha  na mochila. Tais acessórios ajudaram-na a suportar o frio, mas de modo algum a deixaram confortável. Ella procurou desviar sua atenção daquele frio impositivo em direção às pessoas que circulavam pelas ruas e avenidas, às belas praças, monumentos, construções, lojas e cafés (cenários que traziam a ela as mais diversas lembranças de um passado distante, mas memorável).

Ella andava sem direção definida, porém, a fim de encontrar um lugar agradável pra almoçar. Passeou pra cá e pra lá, nostalgicamente, até que encontrou um restaurantezinho com aparência simpática e sedutora. Entrou, apreciou o ambiente, sentou-se, e lá permaneceu ─ no Arrumadinho da Marechal Deodoro  a esperar seu virado à paulista, enquanto rascunhava suas observações triviais em seu moleskine de capa preta. 

segunda-feira, junho 02, 2014

Vida ordinária


Ella observa, enquanto toma seu café, a encruzilhada da Cruz Machado com suas velhas esquinas e seus transeuntes. Táxis, carros de passeio, utilitários e os mais diversos tipos de veículos automotores se entrecruzam. Pessoas comuns transitam pra cá e pra lá: passos compassados, mecânicos e regulares: uns mais apressados, outros menos ─ uma perna seguindo-se à outra, como numa engrenagem.

Os olhos de Ella percorrem vagarosamente todos os movimentos da rua, enquanto desgosta de seu café morno. Ella pensa: que vida mais ordinária, povoada de pessoas ordinárias, com seus rostos, roupas e sapatos ordinários!

Apesar da baixa temperatura de junho (e por que não dizer temperatura ordinária?), o céu curitibano está aberto e o sol reina majestaticamente. Porém, está frio demais para Ella e seu gosto quente. Suas mãos estão geladas. O coração apertado. E em meio à observação e burburinho ordinários, Ella aprecia o borbulhar de seu interno mundo extraordinário.





[foto: Jonathan Carroll]

quinta-feira, fevereiro 27, 2014

Voar é para os pássaros


Chegamos em Montevideo. Antes disso, tortura aérea. Três decolagens. Três pousos. E algumas turbulências. Ai... como detesto voar dentro de uma máquina gigante, inflamável e falível (é assim que concebo um avião). Se eu soubesse que teria de voar, preferiria ter nascido  pássara!

De início, já detesto as instruções das aeromoças ou comissários de bordo, que dizem sempre sorrindo: "em caso de despressurização da cabine, máscaras de oxigênio cairão. Puxem o elástico, coloquem a máscara 'assim' e respirem normalmente". Ora bolas, indago indignada: quem pode respirar normalmente numa situação dessa?  E com aqueles sorrisinhos brancos, simpáticos e tranquilos, continuam eles: "em caso de pouso na água, usem o acento para flutuar... e blablablá".

PQP, dá vontade de mandá-los à M...! Num grito silencioso, imploro: calem a boca peloamordedeus! Não povoem a minha imaginação (que já é suficientemente fértil) com essas possibilidades. Afastem de mim esses cálices!

Well, um modo de amenizar meu sofrimento é, se possível, nunca me sentar próxima à janela. Assim posso evitar olhar pra fora, pois se vejo que o céu está carregado de nuvens escuras (que nunca me parecem passageiras), fico mais apavorada ainda. No primeiro voo, Londrina-São Paulo, tive pânico e tremedeira (ainda bem que minhas demais funções eu consigo controlar rs). Desta vez, como em muitas outras, cheguei (discretamente) a chorar...  de medo e de nervoso (sempre tenho medo e fico nervosa em qualquer voo, mas, em geral, e por pura necessidade, aprendi a ter um [in]certo controle). Comecei tomando calmantes e, aos poucos, fui encarando os voos "de cara", sem tarja preta nenhuma.

Em qualquer decolagem tenho a sensação de que o avião não vai conseguir subir, ou, pior, que vai explodir: BUUUMMM... e tudo irá pelos ares (e por terra abaixo)! Não suporto qualquer movimento, qualquer balancinho, qualquer barulhinho diferente, seja no motor do avião, seja no recolher ou acionar do trem de pouso. Odeio quando o avião se inclina nas curvas. Tenho a impressão de que ele vai despencar. E a cada vez que ouço o sinal que indica que alguém vai falar (o comandante ou qualquer tripulante), meu coração salta pela boca... e volta (ainda bem que volta!). Lá vem o BLIM-BLOM: "senhores passageiros..." imediatamente minha mente trágica imagina um aviso nefasto, do tipo: "o avião apresenta problemas, uma das turbinas pifou, a outra está pegando fogo, vamos ter de fazer um pouso de emergência, além de, antes, enfrentar uma tempestade com raios, ventos, trovões e furacões". Apertem os cintos!!! Socoooooorro...!!!

No segundo voo, São Paulo-Porto Alegre, resolvi tomar 1/4 de Rivotril, pois estava nervosa demais. Meu estado era de emergência. Eu era uma bomba-relógio, sem humor para brincadeiras e piadas. Mas, com o Rivotril, consegui cochilar e relaxar um pouco (apesar da eterna e constante sensação de insegurança e medo). 

No terceiro, de Porto-Alegre a Montevideo, mais 1/4 de Rivotril. Suspirei fundo, aliviada, quando o avião tocou o chão. Constatei que sobrevivemos! Porém (ahh... sempre tem um porém), em seguida, pensei: droga! teremos de voltar... e um voo é sempre periclitante, é sempre um voo no escuro (ao menos pra mim).  E de nada adianta tentarem me convencer de que o transporte aéreo é, estatisticamente comprovado, o mais seguro de todos. Não me ofereçam razões para acreditar nisso. Porque eu não acredito, infelizmente! Bem que eu gostaria... (ai de mim)!


quinta-feira, janeiro 23, 2014

Ella na passarela

Ella chegou ao clube desfilando aquele seu charme habitual ─ uma delicada mistura de graça, beleza e vivacidade. E ainda que Ella fosse uma mulher madura, do alto de seus 38 anos, conservava seus trejeitos de garota marota, dada uma discreta malícia em seu sorrisinho de lado, e uma evidente irreverência em seu corpinho de moça. Onde Ella entrava, e por onde Ella passava, atraía olhares de admiração. Ella movimentava-se com a graciosidade e leveza de quem está a bailar.

Ao caminhar toda formosa pela passarela que circunda a piscina, à procura de um lugar ao sol, Ella avistou de longe um tipo asqueroso (que ela mesma certa vez já havia observado com involuntária repulsa). Era um tipo chulo, excessivamente chulo. 

Ella pensou em dar meia-volta, mudar o caminho, só pra não ter de passar por aquele sujeitinho bronco, visto que o cara, comme d’habitude, já havia lançado a distância seu olhar ordinário de macho predador. Ella percebeu aquele tipinho "eu sou o lobo mau" lamber os beiços e teve uma espécie de náusea. Controlou-se. E achou que, uma vez dados os primeiros passos, era melhor não hesitar e voltar. Ia dar muito na cara que desviava daquele caminho apenas para evitá-lo. Respirou fundo, franziu o cenho e foi em frente.

Ella sempre via aquele sujeitinho vulgar por ali, geralmente cercado de mais uns três tipos semelhantes a ele. Já o havia visto também algumas vezes conversando sobre negócios com seu ex-marido (que raramente aparecia). E pelo fato de vê-los às vezes conversando, Ella se sentia constrangida a cumprimentar aquele ser tosco e estulto sempre que não havia como evitá-lo. Cumprimentava-o sempre com apenas um gélido movimento de cabeça, justamente pra não lhe dar espaço pra dizer nada. 

Ora, o que Ella poderia esperar ouvir de um sujeitinho daquele?

Ao vê-la passar, o malandro de quinta, com ar de quem quer puxar um papinho, adiantou-se e lhe perguntou: ─ o namorado não quis vir hoje? Ella bufou diante de tal atrevimento. Ficou puta da vida, ao ponto de não conseguir disfarçar o constrangimento que sentiu. Com um olhar sério e furtivo, não respondeu. Deu apenas um sorrisinho amarelo e sem graça. E continuou em frente, indignada, pensando: “não é que esse beiçudo barrigudo teve a pachola de me fazer uma pergunta dessa?”

A sorte dele foi que Ella era educada. O sorrisinho glacial, seguido de um ar de desprezo, disse tudo, mas certamente Ella desejou ser suficientemente grosseira para, soltando fogo pelas ventas, lhe perguntar:

─ Por que o senhor acha que seria minimamente razoável me fazer uma pergunta tão invasiva? Que relevância tem para você e/ou para a humanidade se meu namorado quis ou não quis vir hoje? Quando é que lhe dei espaço para o senhor se dirigir a mim, assim? Ah... faça-me o favor! A você, lobo mau com cara de bobo mau, caberia apenas me observar passar, ou, no máximo, respeitosamente me cumprimentar com um brevíssimo aceno de cabeça. E mais nada! Vá lamber esses beições pra lá e comer sua vovozinha ─ seu babaca ordinário! ou melhor: vá lamber sabão! como dizia a minha avó!

segunda-feira, dezembro 09, 2013

Nobody

UEL 8:30. Vim aplicar exame de filosofia para apenas uma aluna. Nobody is here! Sala escura. Entro, espero, penso: ela não virá, obviamente. But I'm here. Da parte dela não há, absolutamente, nenhum compromisso com a disciplina, tampouco com a filosofia, e acho que nem com ela mesma.

E essa maldita dor de dente que não me dá uma trégua!?

Bom, ao menos os passarinhos cantam, o dia está belo, a temperatura agradável e o ar fresco.

Aproveito para estudar. Dou um tempo. Pouco mais de uma hora.
Ela não veio.
Fui...

quarta-feira, novembro 13, 2013

Desassossego


Dia lindo. Céu azul. Resolvi queimar o lombo. Não há uma alma viva sequer, com exceção da minha, aqui no clube. Silêncio. Meu coração está apertado. Queria poder arrancá-lo do peito para que me desse um alívio. Ah... meu angustiado coração! Por que não vais dar um passeio? Volte depois, de preferência mais leve, mais solto, mais livre. Vá... voe!

De vez em quando passa um avião sobre minha cabeça. Começo a ouvir burburinhos dos funcionários do clube, o que significa que há mais almas vivas por aqui. Percebo também os passarinhos. Sol quente. Vento fresco. Água gelada. Calor. Agonia. Calmaria exterior. Inquietação interior.

quarta-feira, maio 18, 2011

GOL CONTRA

Há uma semana estive, por conta da GOL, num hotel em Porto Alegre. Eu teria de dormir uma noite em POA porque a GOL fez alterações na “malha aérea” e mudou meu voo para um horário no qual eu chegaria atrasada para meus compromissos. Com a mudança a “melhor opção” foi aceitar viajar um dia antes e ficar num hotel. Claro que eles se responsabilizariam em me levar do aeroporto a um hotel, evidentemente pago por eles, e, no dia seguinte, me levar de volta ao Aeroporto, d’onde eu iria até a estação de trem rumo à São Leopoldo. Na verdade eu reivindiquei isso para aceitar a mudança.

A princípio tudo bem, afora o porre de aeroportos que tomei. Saí de Londrina no início da tarde passando por Curitiba e São Paulo. Please, não me perguntem a lógica de ir de Curitiba para São Paulo e de lá para POA, pois a GOL se autodenomina Linhas Aéreas Inteligentes. Só sei que com tanta inteligência a viagem (entre sobe, desce e espera) foi de quase 9 horas. Mas até aí tudo bem. Mesmo tendo pavor de avião encarei numa boa (sei que sou uma pessoa um tanto tolerante). Pensei que ao menos chegando lá eu descansaria num hotel, no mínimo, básico; um hotel, digamos assim, padrão business (tipo Ibis, Sol Inn ou afins), resumindo, um hotel clean (afinal, não sou cheia de frescuras e jamais esperaria que eles me mandassem para um cinco estrelas).

My god, quando cheguei lá, em torno das 22:00 hs, achei tudo meio esquisito, a atmosfera pesada, com cara de zona do meretrício. Mendigos dormiam pelas calçadas e também embaixo do viaduto que era logo ali. O lugar parecia ser de alto índice de periculosidade. Até aí tudo bem, pensei, cheia de tolerância... (haja tolerância). Entrei logo e, claro, não gostei nem um pouco. Detalhes à parte, o hotel era de um profundo mau gosto. Bom, até aí, eu repetia a mim mesma, tudo bem... Ah... como eu queria acreditar que “tudo estava bem”! Só que as coisas estavam cada vez piores.

Fiz minha ficha, peguei minha chave e subi não me lembro pra qual andar. Afff, quando saí do elevador levei um susto. Os corredores eram meio sinistros, mofados e mal acabados. Tudo parecia “de quinta”. O pior foi quando abri a porta e entrei no quarto. Levei um choque. Tudo, sem exceção, era pra lá de chinfrim, e eu só conseguia dizer: não acredito! não acredito! não acredito que a GOL me mandou pra um lugar como esse! Tentei me acomodar mas não consegui. Em 10 minutos liguei para a recepção e perguntei: moça, vocês só têm esse padrão de quarto?

Ela me perguntou: por quê? Não está bom?
Respondi: Claro que não!
Ela: ah, então desça aqui que eu vou te dar um que você certamente vai gostar.

Well, desci com um pouco de esperança (mas só um pouco), porque decididamente a aparência geral do hotel não era nada agradável. A recepcionista me deu um outro quarto que ela mesma denominou upgrade (que é o luxo), e garantiu que eu ia gostar. Ao pegar a chave perguntei a ela: a Gol manda seus clientes para este quarto? Ela disse um sim meio disfarçado e se apressou em acrescentar que a GOL autorizava acomodações também num quarto upgrade. Só não entendi por que ela não me mandou logo para um desses. Provavelmente ela arriscou. Se eu não reclamasse, ficaria por lá mesmo! De qualquer modo, fiquei mais tranquila e subi. Antes, passei pelo restaurante para jantar (e nem vale a pena perder tempo falando disso, a impressão ruim era a mesma). Quando saí do elevador, outra decepção. O corredor era igual ao anterior: muito esquisito! Dirigi-me desconfiada para o quarto e abri a porta. O mau gosto era o mesmo, mas as acomodações eram melhorzinhas (padrão luxo rsr, mas o luxo deles):o quarto era enorme, com uma cama de casal e duas de solteiro, umas colchas cor de burro quando foge, iguais as do quarto anterior, cortinas velhas e encardidas, mesinha redonda com cadeiras (meio caquéticas), porém, com TV de LCD (grande coisa), bancada de estudo, internet que, apesar de free, não conectou de jeito nenhum. Eu repetia: tudo bem, Marília, você só precisa tomar um bom banho e de uma boa noite de sono. Amanhã será outro dia!

Antes do banho resolvi arrumar a cama. Peguei um acolchoado no armário e, eis senão quando, vi que ele estava sujo, com cara de não lavado (não é mal lavado é não lavado mesmo) e com algumas manchinhas meio marrons (não me perguntem do que eram, pois não gosto nem de imaginar...). Pensei: e agora? Vou ter de encarar isso? Expressei um aiiii de quem estava sofrendo e vi que sim, eu teria de encarar, pois já era bem tarde e eu achava que nem adiantaria mais reclamar. O padrão era aquele. A contragosto puxei o lençol (este parecia limpo) e estendi o edredom por cima, de modo a que ele jamais tocasse em mim. Deixei ali e fui para o banho. O banheiro era bem vagabundo, mas eu precisava de um banho e descanso.

Retirei-me por um minuto do banheiro pra pegar umas coisas na mala e quando voltei, pasmem!!! vi uma barata tonta, gigante e horrorosa (como todas) vindo em direção ao meu pé. A sorte dela é que não tive (nem tenho) coragem de matá-la com um pisão. Dei um grito pra honrar a sensibilidade das mulheres e pra não perder o costume e saí correndo, fechei a porta e liguei na recepção. Um rapaz atendeu e disse que iria subir pra resolver, isto é, ele iria matar a barata. Ele subiu, só que a barata havia sumido, e não tem nada pior do que saber que existe uma barata perdida e invisível no local. Pedi um veneno qualquer, tipo spray, para caso eu a visse de novo. Mas eles não tinham. Dá pra acreditar?

Bom, ela sumiu mesmo e eu passei, por medida de segurança, a noite toda com a TV ligada (pra não ficar totalmente no escuro) e a impressão de que a qualquer momento aquela coisa horrorosa iria aparecer e meu mundo desabar. Quer dizer, não relaxei, não dormi, não descansei! Eu só rangia os dentes e pensava: putz, é assim que a GOL trata os seus clientes? Acho que não é preciso dizer mais nada! Fiquei indignada e estou aqui registrando a minha profunda insatisfação com o tratamento que a GOL me dispensou! Ora, se a GOL é uma marca que sugere o que um GOL significa, certamente ela marcou um GOL contra!

domingo, outubro 24, 2010

Assim não dá!


Algumas coisas são espantosas. É incrível a falta de noção de espaço que certas pessoas têm (e aqui, talvez, em determinadas situações, possamos incluir qualquer pessoa, inclusive eu mesma). Mas aqui o caso é bem específico, e eu não me incluiria jamais.

Explico: tenho em minha vizinhança uma família agitada que fala quase todo o tempo muito alto, especialmente nos finais de semana que é quando eles mais ficam em casa. Minha janela dá de frente para essa casa. Moro num apartamento térreo de uns predinhos, então, é como se eu fosse vizinha de casa. Entre o meu espaço e o dessa família há um pequeno estacionamento aqui do prédio, afora muitas outras prejudicadas janelas que dão também de frente pra essa casa.

Putz: aquele pessoal fala alto mesmo! Eles começam o ti ti ti logo cedo. Se prestarmos atenção na conversa, podemos nos inteirar facilmente da “vida privada” daquela família (se bem que, adianto, certamente não vale à pena prestar atenção na vida deles). E digo vida privada, mas notem, nem tanto!

Percebo que há ali um casal, mais uma criança de uns 3 - 4 anos (me parece) e uma criança maior (talvez já adolescente). Repito: eles falam ALTO DEMAIS! E o pior, os pais resolvem ouvir música sertaneja no último volume. Quer dizer, a dose é dupla: falam alto e ouvem música muito alta. Aliás: a dose é tripla, pois as músicas são da pior qualidade (ao menos aos meus ouvidos e gosto, e, provavelmente, de muitos outros vizinhos). Talvez eu devesse acrescentar: a dose é Over, pois afora tudo isso a criança chora e faz manha o tempo todo, enquanto a mãe grita. Eles não têm noção (ou fingem não ter noção) do quanto me incomodam.

Tenho uma rotina X que inclui algumas horas de estudo, todos os dias, sejam dias de semana, sábados, domingos ou feriados. Não tenho hora para começar nem hora para terminar. Na verdade faço meu horário a bel prazer e dever. Tenho minhas preferências. Gosto de estudar mais de manhã, mas nem sempre nos dias de semana dá certo estudar mais nesse período do que nos outros (à tarde, à noite ou de madrugada). Porém, nos finais de semana, quando, em geral, minhas filhas saem com as amigas, fico mais livre para me deleitar nos estudos, nos livros de filosofia e literatura que sempre me acompanham, fico mais livre para tirar uma sonequinha fora de hora (claro, eu também mereço), enfim, são dias de descanso. Pois quem gosta de filosofia, em geral, considera um dia assim (disponível para estudos) um dia de deleite e descanso. Ficar em casa sem ter de fazer nada, só estudar o que gostamos, é como descansar (embora, é claro, temos momentos em que ler, estudar e escrever com o prazo apertado para entregar um trabalho, produzir uma tese, ou algo assim, é tarefa penosa; mas esse não é o ponto).

O ponto é que hoje xinguei meus vizinhos várias vezes (claro que eles não ouviram, esbravejei comigo mesma). Era domingo cedo e eu trabalhava concentrada. Aos poucos comecei a sentir um incômodo, pois aquele tradicional burburinho familiar começara a invadir e azucrinar a minha cabeça. De repente, lá pelas dez da manhã, a música sertaneja estuprou de uma vez por todas o meu espaço. Fiquei louca de raiva! Parei, levantei e comecei a andar pra lá e pra cá, como um animal feroz enjaulado, xingando deus e o mundo. Pensei se seria razoável ir até lá educadamente explicar minha situação de “doutoranda” para a dona da casa, pedir gentilmente que eles contivessem aquela parafernália sonora. Fiquei na dúvida. Eles poderiam reagir de diversas maneiras. No melhor dos mundos possíveis eles, talvez, me atendessem. Mas poderiam também, em mundos cada vez piores, ser indiferentes, debochados, grosseiros e sei lá mais o quê! Fiquei na minha. Tentei várias vezes voltar a estudar, mas não conseguia mais me concentrar.

Ora, será que eles não percebem que estão a violar o princípio da liberdade (da minha e provavelmente de mais toda a vizinhança) de não querer, em hipótese alguma, ouvir aquela música desagradável e em volume excessivo? Será que eles não percebem que tal atitude não é compatível com a liberdade de todos segundo uma lei universal possível? Ok, nem precisamos apertar demais os parafusos. Não vamos exigir que eles entendam o que estou a reivindicar. Um pouco de bom senso bastaria!

quinta-feira, outubro 14, 2010

Minutos de Bobeira

26 de setembro, domingo:

 
 
 
chuvinha melancólica essa
meio mel meio cólica
meio poética e bucólica 
 
 
 
 
 

 
14 de outubro, dia esquisito:
   
hoje acordei epistemológica
depois de um tempo
fiquei patológica

acho que amanhã vou acordar neurastênica
e dormir epistêmica

putz...
a filosofia faz cada coisa com a gente