Eles chegam ao hotel en la calle Esmeralda. Pegam a chave do quarto e entram no pequeno e antigo elevador. Entra com eles também um senhor de uns 58 anos, tradicionalmente trajado, um pouco baixo e gordo, com um pacote de supermercado nas mãos. Esse senhor desconhecido não consegue tirar os olhos dela. E parece perder o fôlego ao medi-la, indisfarçadamente, de cima a baixo.
Ela fica ligeiramente constrangida (bem ligeiramente, pois não costumava ficar assim ao ser admirada, ao contrário, sentia-se, em geral, muito confortável com isso) e se aproxima um pouco mais do namorado, como quem diz para o cara: - olha, eu estou acompanhada!
Nessa altura, o namorado, em silêncio, só observa. O camarada não resiste e diz a ele: muito bonita sua namorada!
O rapaz, senhor de si e da situação, agradece esboçando um sorriso discreto e educado. Ela apenas sorri. O desconhecido não se contém. Num movimento espontâneo (e certamente temerário) tira uma garrafa de vinho do pacote e oferece-o, gentilmente, a ela.
Well, não escapa ao casal a percepção de que seria menos arriscado se o cara tivesse oferecido a garrafa ao namorado, e não a ela. Mas, enfim, meio sem chance de recusar, dado o clima cortês no qual o episódio se dava, ela toma o vinho em suas mãos e agradece com um olhar e sorriso acanhados. O namorado, com a reserva de um gato, também sorri. Não fala nada. Mas pensa: - quê atrevimento!
Eles descem do elevador no mesmo andar e se despedem daquele senhor. Entram no quarto um pouco desconsertados com aquela cena inusitada. Olham-se e riem. Ela aguarda, sem saber muito bem o que dizer, o que o namorado dirá. Ele respira fundo, olha bem nos olhos dela, dá um sorriso descontraído e, beijando-lhe as mãos, diz:
- "Ele te admirou. E eu admirar-me-ia se ele não te admirasse, se ele fosse capaz de permanecer indiferente à tua beleza, charm e presença. Pois se ele é realmente um homem sensível, não poderia deixar-te passar despercebida..."
[Photo by Jonathan Carroll]
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