sábado, outubro 30, 2021

Frutífera

'Da solidão do fruto'

De meu corpo ofereço
as minhas frutescências,
casca, polpa, semente.
E vazada de mim mesma
com desmesurada gula
apalpo-me em oferta
a fruta que sou.

Mastigo-me
e encontro o coração
de meu próprio fruto,
caroço aliciado,
a entupir os vazios
de meus entrededos.


'Da partilha do fruto'

De meu corpo ofereço
as minhas frutescências,
e ao leve desejo-roçar
de quem me acolhe,
entrego-me aos suados,
suaves e úmidos gestos
de indistintas mãos e
de indistintos punhos,
pois na maturação da fruta,
em sua casca quase-quase
rompida,
boca proibida não há.

...................................

[Conceição Evaristo | in: Poemas da recordação e outros movimentos | Belo Horizonte | Nandyala | 2008]


strawberry
close-up the fruit
[desconheço o/a autor/a]

2 comentários:

Arthur Reis disse...

Literalmente apetitoso esse poema. Ótima aplicação. Vou me enveredar pelo universo da Conceição!

Marília Côrtes disse...

Não vai se arrepender. Ela é mara...