São como cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?
[Eugénio de Andrade]
(a imagem que ilustra o poema foi publicada na página do facebook Artes & Poesia: uma das inúmeras páginas que unem, como o próprio nome diz, arte e poesia. O mérito da composição é, portanto, todo dela).
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