Há pouco vivi um episódio dramático com uma barata. A primeira que vi neste pequeno e aconchegante apartamento. Certamente entrou pela janela. Era grande e voadora. Asquerosa e nojenta (como toda barata): eca! Surpreendi-a na parede do meu quarto. Um horror!
Primeira coisa que pensei: não há um homem para matá-la (momento em que todo meu feminismo precipitou-se ladeira abaixo). Eu mesma terei de dar conta dela. Eu mesma terei de enfrentá-la. Não há veneno. E ela não pode sumir, pois a pior coisa que existe é saber que há uma barata em algum lugar e não encontrá-la. Corri pegar uma vassoura, temendo perdê-la de vista. Não a perdi.
- Ai, ai, ai, e agora?
Arremessei a vassoura contra ela. Mas ela escapou. Horror dobrado. Que luta inglória. Tentei de novo. Não consegui. Ela sumiu. Endoideci.
Pânico total. Só um veneno poderia aniquilá-la. Corri na vizinha, toda-toda-chorosa, implorando um veneno peloamordedeus. Ela não tinha. Por sorte chegava uma outra vizinha. Essa tinha. Voltei armada e comecei a espirrar veneno debaixo e detrás da cama, criados-mudos, cantos do chão e do teto. Aproveitei e esguichei no banheiro, na sala e na cozinha - quase me envenenei junto.
E fiquei só observando... até que a avistei, toda-toda-horrorosa, num dos criados-mudos, praticamente dentro do meu nécessaire. Mas ela estava na borda e caiu. Começou a baratear tontamente. Peguei a vassoura novamente e golpeei-a várias vezes. Mas ela estava louca, tentando sobreviver heroicamente. A fdp grudou na vassoura... hugh... eca... Abri a janela, toda trêmula e agitada, e atirei-a para fora. Que alívio! Pude respirar. É mesmo de arrepiar!
Depois, fiquei imaginando, do ponto de vista da barata, o que ela pensaria ao ver um SER gigante, pálido, cheio de antenas loiras esvoaçantes, olhos e "patas" enormes, e uma boca cheia de dentes, gritando, pulando pra cá e pra lá, com uma arma esquisita em uma pata mais esquisita ainda - um SER enlouquecido... etc... etc... etc... e me lembrei, mutatis mutandis, de A Metamorfose do Kafka.
Me and my notebooks
Chapecó-SC
19/10/2015
segunda-feira
00:26 h