Mostrando postagens com marcador filosofia. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador filosofia. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, agosto 10, 2015

Ventos uivantes

Os ventos estão uivantes, hoje, aqui, nessa cidade que não é minha. Uivaram a noite inteira. Quem leu O Morro dos Ventos Uivantes sabe o que isso significa. Talvez, lá em baixo, nas ruas, eles apenas soprem um ar morno, aquecido por um sol que brilha timidamente num céu de braços abertos. Mas cá, dentro do meu minúsculo e acolhedor apartamento, pelas frestas das janelas, ele uiva geme grita se contorce e chora, anunciando o maior dos pesos, isto é, o eterno retorno do mesmo

Há tempos eu não amaldiçoava, rangendo os dentes, o demônio que volta e meia aparece furtivamente em minha mais desolada solidão dizendo que terei de viver esta vida, como a estou vivendo neste instante e já a vivi outrora, mais uma vez e por incontáveis vezes; e que nada haverá de novo nela, que cada dor e cada prazer e cada suspiro e pensamento, e que tudo que é inefavelmente grande e pequeno em minha vida terá de me suceder de novo, tudo na mesma sequência e ordem, e que a perene ampulheta do existir será sempre virada novamente, e eu, mera partícula de poeira, serei virada e revirada junto com ela (e todas as outras partículas de poeira). Minutos depois, após suspirar e pensar mais um pouco, lembrei-me que já experimentei instantes imensos nessa minha vida (muito maiores, melhores e mais frequentes do que este), nos quais certamente eu poderia dizer que esse demônio, na verdade, é um deus, e que a mensagem que ele assopra agora em meus ouvidos me permite exclamar, com grande contentamento, jamais ter ouvido coisa tão divina.


[quem conhece Nietzsche deve também conhecer (ou ao menos ter ouvido falar) de sua teoria sobre O eterno retorno do mesmo  anunciada no aforismo 341 de A Gaia Ciência, p.230, fonte inspiradora desse post, da edição da Cia. das Letras, 2001, e desenvolvida no Assim falou Zaratustra].

sábado, agosto 08, 2015

Afinal, por que não?

Pensei em escrever sobre algumas declarações, frases e expressões que li e ouvi nos últimos dias. Elas suscitaram vários temas interessantes (que vou elencar abaixo) sobre os quais eu poderia escrever, assim, numa ordem que não alteraria o resultado, pois todos levariam a um mesmo ponto.

Eu poderia escrever sobre valores e referências sagradas. Sobre jogar com ambiguidades de sentimentos. Sobre a inteireza nas relações amorosas, o silêncio necessário, o silêncio excessivo e cruel, a hora de falar, a hora de calar e a hora de jogar a toalha. 

Eu poderia escrever sobre o significado e importância das pessoas em nossas vidas. Sobre estratégias ocultas e a busca de satisfação do nosso querido e amado eu. Sobre nos colocarmos no lugar e nas mãos do outro. Sobre estilo, intuição e abandono. Gosto, falta de gosto, filosofia e olhos nos olhos. 

Eu poderia escrever sobre ciúmes, posses e palavras sopradas em ouvidos sensíveis. Sexo, literatura, perdão, abismos e pirilampos. Sobre desejos, sinais confusos, corações quentes, frios, feridos, sobressaltados e algo mais. 

Eu poderia escrever sobre decisões frágeis, negligências, filmes, afetos e atenções. Sobre versos tristes, rir e passear de mãos dadas. Meias-verdades, facebook, beijos e desculpas esfarrapadas. Sobre carências, carinhos, explicações, dedicatórias, teses e dissertações.

Eu poderia escrever sobre enredar pessoas nas teias pérfidas da manipulação. Sobre histórias de amor e ilusões perdidas. Sobre sermos ou não indiferentes aos sentimentos dos outros. Sobre choros e compulsões. Etta James, Van Morrison, zelo, emails, telefonemas, mensagens, cigarros e aviões.  

Eu poderia escrever sobre moleskines, olhos cansados e mentes turvas. Viagens mentais e a inexorabilidade do tempo. Sobre contar e não contar com o outro em nossas vidas. O significado de lutar por um amor, conservar e proteger esse amor. Sobre o ato de ludibriar com palavras, ter a posse do coração de alguém, e BB King quando canta Guess Who, Waiting for you call e Come rain or come shine

Eu poderia escrever sobre dedicação e capacidade de amar. Johnny Winter e Johnny Cash in Hurtin' So Bad. Temores e tremores. Sobre sussurros, persuasão, solidão e silêncio confortável. Sonhos, cumplicidade, Eric Clapton, mágoas e rancores. Sobre melancolia, dores, ironia, o valor das palavras e a responsabilidade com o que dizemos.

Eu poderia escrever sobre Piazzolla e ideias que se desfiam. Sobre bons e maus argumentos. Sobre talentos e a falta deles. Ray Charles e palavras ao vento. Sobre culpa, lealdade, proteção, Robert Cray e Imelda May. Tolices e corações que sangram. Mentiras e enrolações. 

Eu poderia escrever sobre pedidos de espera, direitos e sinceridade. Sorrisos e estrelas apagadas. Sobre cartas, declarações de amor, bolhas de sabão e crueldade. Céu nublado, migalhas, hesitações, garantias vãs e tentativas frustradas. Sobre riscos, estranhos amores, leveza e felicidade. Sobre ventanias, prazeres e arrependimentos solenes. 

Eu poderia escrever, também, sobre loucuras, voragens e castelos de areia. Ella Fitzgerald, Schopenhauer e Leonard Cohen. Sobre pressa, ânsia, urgência e peças que não se encaixam. Abraços, contradições e flutuações anímicas. Sobre sangue, caráter e formação. Ressentimentos, Tom Waits, blues and rock’n’roll

Eu poderia escrever, ainda, sobre o que há de mais importante na vida. Sobre prosas, poesias e facadas no peito. Tangos e frequências eletromagnéticas. Raridades, belezas e economia de vida. Sobre Hume, almas leves, ternura, Lorca e Neruda. 

Eu poderia escrever sobre instinto, drogas e remédios para dormir. Sobre a morte, reclusão, apetites e deliberações. Sarah Vaughan, Allan Poe, feelings e maturidade. Sobre consistência, raízes, solo firme e profundidade. 

Eu poderia escrever sobre o ato de aliviar um coração, Montaigne, black coffee, viagens e aventuras. Sobre confiança, história e aprendizado. O amor, a amizade, ventos uivantes e promessas não cumpridas. Sobre dúvidas, incertezas e Georgia on my mind. Sobre compreender e não compreender. A franqueza, Kafka, Zweig, admiração, miséria, pequenez e borboletas azuis. 

Eu poderia escrever sobre whatsApp, egoísmo, Camus e altivez. Sobre protestos, omissões e lamentações diversas. Atitudes, prazos e tensões amorosas. Sobre o futuro, Balzac, Willie Nelson cantando Crazy, e Nina Simone Let it be me

Enfim (sei que já me excedi), eu poderia escrever sobre imagens distorcidas, Dostoiévski, comparações e angústias. Águas pantanosas e areias-movediças. Móveis ocultos, mensagens codificadas, esperanças, decepções, cálculos, escolhas, doçura, paixão, liberdade e muito mais, bem como, para encerrar, um conto de fadas que pode dar certo. Afinal, por que não?



domingo, junho 14, 2015

Amizade Estelar

" ─ Nós éramos amigos e nos tornamos estranhos um para o outro. Mas está bem que seja assim, e não vamos nos ocultar e obscurecer isto, como se fosse motivo de vergonha. Somos dois barcos que possuem, cada qual, seu objetivo e seu caminho, podemos nos cruzar e celebrar juntos uma festa, como já fizemos ─ e os bons navios ficaram placidamente no mesmo porto e sob o mesmo sol, parecendo haver chegado a seu destino e ter tido só um destino. Mas então a todo-poderosa força de nossa missão nos afastou novamente, em direção a mares e quadrantes diversos, e talvez nunca mais nos vejamos de novo ─ ou talvez nos vejamos, sim, mas sem nos reconhecermos: os diferentes mares e sóis nos modificaram! Que tenhamos de nos tornar estranhos um para o outro é a lei acima de nós: justamente por isso devemos nos tornar também mais veneráveis um para o outro! Justamente por isso deve-se tornar mais sagrado o pensamento de nossa antiga amizade! Existe provavelmente uma enorme curva invisível, uma órbita estelar em que nossas tão diversas trilhas e metas estejam incluídas como pequenos trajetos ─ elevemo-nos a esse pensamento! Mas nossa vida é muito breve e nossa vista muito fraca, para podermos ser mais que amigos no sentido dessa elevada possibilidade. ─ E assim vamos crer em nossa amizade estelar, ainda que tenhamos de ser inimigos na Terra."

(Nietzsche. A Gaia Ciência IV §279, p.189-190)



Não me lembro quando li pela primeira vez esse aforismo de A Gaia Ciência. Provavelmente foi quando comecei a estudar Nietzsche, a fim de desenvolver um projeto de iniciação científica (CNPq), na época de minha graduação (idos de 2000-2002). Há algum tempo, ao retomar minhas leituras de partes da obra deste autor perturbador, tropecei várias vezes neste belo e trágico aforismo, já tão lido, relido, trelido, pensado, sentido, interrogado e grifado. Pensei: por que ele me chama tanto a atenção? Por que ele me afeta tanto? Por que meu coração se ressente ao lê-lo? Well, não estabeleci nenhuma relação do que Nietzsche afirma nele com a pessoa para a qual ele destina este aforismo. Pois tal aforismo nunca fez propriamente parte dos temas que me propus a estudar. Minha interpretação sempre foi, num certo sentido, totalmente parcial e descontextualizada do restante de sua obra (se é que me permitem...). Sempre admirei o teor poético, imagético e passional (bem ao estilo amor-fati) do que Nietzsche escreve. Ao lê-lo, sentia em meu coração (e sinto sempre que o leio) uma dorzinha aguda e gelada. Pensava no valor da amizade e lembrava da minha amizade mais cara. Perguntava-me: será que será assim? E repetia a mim mesma, como quem torce fazendo figa: tomara que não, tomara que não! Quero continuar a crer em nossa amizade terrena, ainda que ela possa ser também estelar e celestial.

[Há uma ano e meio li a biografia de Lou Salomé e pensei se Nietzsche teria escrito esse aforismo pensando nela. Eu não havia feito ainda nenhuma pesquisa a respeito. Na época, não fui adiante com minha dúvida. Mas, lendo-o novamente esses dias, fiquei curiosa. E fui conferir. Descobri que Nietzsche escreveu-o de modo a deixar "claro que não poderia atender ao apelo" do grande compositor Richard Wagner "para resgatar uma amizade perdida." Ao menos é o que está dito na sinopse do livro Amizade Estelar: Schopenhauer, Wagner e Nietzsche, de Rosa Maria Dias, que, aliás, ainda não li. Quem sabe um dia. Até lá... (ou talvez para sempre) mantenho minha leitura parcial, ainda que agora eu saiba que a relação de amizade que serviu de mote a este aforismo é outra].

sexta-feira, fevereiro 13, 2015

Um pico certeiro na veia



Dalton Trevisan disse uma vez que "um bom conto é pico certeiro na veia". A meu ver, ao dizer isso, Trevisan já nos dá um pico na veia. No entanto, não estou aqui para falar de contos, mas sim de filosofia.

Mutadis mutandis, penso que existem mais coisas boas, além de um bom conto, que podem ser consideradas um "pico certeiro na veia": uma frase forte, densa, profunda, curta e precisa (tal como essa picada dada pelo próprio Trevisan); três, cinco, ou, talvez, sete linhas contidas numa ideia breve, mas brilhante, que nos atinja como um olhar dardejante, ou mesmo uma paulada na cabeça, um corte na jugular ou um tiro na fonte. Sim, um pico certeiro na veia, tal como uma facada no peito, pode nos levar desta para o nada absoluto (pois não creio que a gente vá desta para melhor). 

Além dos literatos, alguns filósofos são especialistas em picar nossas veias. Schopenhauer é um deles. Ao tratar do tema "felicidade", um tópico caro à filosofia, bem como a qualquer mortal comum, ele tem coisas interessantes a dizer, ainda que possa soar no mínimo curioso um filósofo pessimista (que concebe o sofrimento como a essência da vida e a felicidade como simples ausência de dor) ter algo interessante a dizer sobre a arte de ser feliz. Acerca desse tema já teci alguns comentários aqui http://mariliacortes.blogspot.com.br/2009/02/felicidade-amor-pelo-estudo-e-ilusoes.html e aqui http://mariliacortes.blogspot.com.br/2009/03/ilusao-crenca-esperanca-paixao-e-auto.html a partir de outros autores da filosofia.

Em A Arte de Ser Feliz (um pequeno tratado que contém anotações, máximas e regras de vida), Schopenhauer afirma, entre muitas outras coisas, que a principal verdade da arte de ser feliz é a de que tudo depende muito menos daquilo que se tem ou representa do que daquilo que se é... e que "a personalidade é a felicidade suprema" (p. 126). Quer dizer, o que se tem (bens e posses) ou representa (a reputação, a categoria, a fama) são bens necessários para a felicidade, mas o que se é (a personalidade), é, de longe, mais fundamental para atingir tal fim (p.123). “Aquilo que alguém tem para si mesmo, aquilo que o acompanha na solidão e que ninguém pode lhe dar ou tirar é muito mais essencial do que tudo o que possui ou do que ele representa aos olhos alheios” (p.126).

Convém notar que o termo personalidade é aqui concebido em sentido muito mais amplo, “compreendendo a saúde, a força, a beleza, o caráter moral, a inteligência e a educação da inteligência" (A Arte de Ser Feliz, p.123). De acordo com Schopenhauer, a maior parte desses bens  ─ que não só contribuem para a felicidade, mas também estabelecem “a diferença na sorte dos mortais” (p.123) ─ depende do quanto a natureza foi ou não generosa conosco - o que não significa, obviamente, que não podemos fazer nada com o que a natureza fez de nós. Como e qual é a (suposta) margem de manobra (ou liberdade) que temos para alterar as determinações que a mãe ou, dependendo do caso, a madrasta natureza fez de nós seria matéria para outro post (que não sei se um dia vou escrever).

Ele diz também (e aqui me aproximo de onde quero chegar) que "em todas as ocasiões possíveis usufrui-se na verdade apenas de si mesmo: se o próprio eu não vale muito, então, todos os prazeres são como vinhos excelentes em boca azeda com fel” (Máxima 44, p.108).

Ora, quando Schopenhauer faz menção ao "próprio eu" (esse é o ponto), ele está a se referir especificamente ao caráter moral do sujeito, ou seja, àquilo que ele é em sua essência. Vale dizer, em sua consciência moral.

Em Sobre o Fundamento da Moral, Schopenhauer se serve da máxima expressa pelos escolásticos  “Operari sequitur esse” segundo a qual as “ações se seguem do ser” ou “o fazer se segue do ser”, para enfatizar a dependência da ação de alguém em relação ao seu caráter. “Como alguém é, assim tem de agir” (SFM § 10: 96). Nesse sentido, as ações dos homens são signos de seu caráter. Então, se queres conhecer alguém, observes regularmente como ele age, como ele se comporta, que tipo de coisas ele é capaz ou não de fazer. A observação constante do temperamento, do comportamento e das ações de uma pessoa, sob determinadas circunstâncias, é fator indispensável para o conhecimento de seu caráter. Essa é uma regrinha básica de sabedoria de vida que poderia ser considerada um truísmo caso não fosse pronunciada pela boca de um filósofo da envergadura de Schopenhauer (e de outros tantos do mesmo calibre). Pois não se exige propriamente filosofia para o seu conhecimento ─ a experiência confirma a regra.

Mas voltemos à picada na veia (deixando de lado os problemas que emergem da distinção schopenhaueriana acerca do caráter inteligível, caráter empírico e caráter adquirido, bem como as consequências disso tudo para a teoria sobre a liberdade e responsabilidade moral). 

A sentença segundo a qual se o caráter do indivíduo "não vale muito... todos os prazeres são como vinhos excelentes em boca azeda com fel" é, a meu ver, um pico certeiro na veiaFeliz de quem sacar essa “sabedoria de vida” e souber usar a margem de manobra que se tem para conseguir corrigir, com a experiência e a instrução (a educação da inteligência) os péssimos traços ou desvios de caráter com os quais a madrasta natureza por ventura o dotou. Ser belo, saudável, inteligente, sedutor, abastado (e possuir muitos outros bens) contribui em muito para a felicidade, mas se o caráter não for bom, dificilmente tal indivíduo será feliz ─ o que significa que a qualidade do caráter de um indivíduo é o que mais importa para a sua felicidade. 

Quem não teve a sorte de ser agraciado por uma natureza-mãe em sua constituição natural (especialmente quanto ao caráter e temperamento), e não compreender os princípios básicos da arte de ser feliz, jamais poderá saborear os néctares dos deuses, ainda que eles desçam dos céus e lhe ofereçam diretamente em seus lindos lábios.

quarta-feira, novembro 26, 2014

V Encontro Hume - UFSC - 2015




Apresentação

David Hume (1711-1777) é considerado atualmente como um dos maiores, mais profundos, penetrantes e abrangentes filósofos do período moderno. Suas obras alcançaram grande sucesso em seu próprio tempo e continuam a despertar imenso interesse e a oferecer contribuições significativas para a reflexão filosófica atual. O V Encontro Hume pretende dar continuidade a uma série de eventos dedicados à filosofia de Hume, realizados nos últimos anos em diferentes instituições brasileiras. Essa série de eventos nasceu por iniciativa de estudantes de Pós-Graduação em filosofia, que promoveram o I Encontro Hume no Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro – IUPERJ, em 2009. Em 2010 foi realizado o II Encontro Hume na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e, em 2011, o III Encontro Hume, na UNISINOS (RS). O IV Encontro Hume, o mais recente da série, foi realizado na Universidade Estadual de Londrina (UEL) em 2013. Esses eventos têm representado um importante espaço para estudantes de pós-graduação e professores apresentarem e debaterem os resultados de suas pesquisas. Como resultado concreto da realização dessa série de eventos destaca-se a publicação de vários artigos em periódicos da área de filosofia.  O V Encontro Hume, a ser realizado na Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, de 08 a 10 de abril de 2015, tem por objetivo reunir estudantes de pós-graduação de diferentes programas de Pós-graduação do Brasil e professores que desenvolvam pesquisas sobre a filosofia de Hume. 


Comissão Organizadora
Jaimir Conte (UFSC) 
Flávio Miguel de Oliveira Zimmermann (UFFS)
Marília Côrtes de Ferraz (UEL)
Franco Nero Antunes Soares (IFRS)
Andreh Sabino Ribeiro (UFMG)
Ítalo Lemos (UFSC)

Comissão Científica
José Oscar de Almeida Marques (UNICAMP)
Andrea Cachel (UFJF)
André Luiz Olivier da Silva (UNISINOS)

Maria Isabel de M. Papaterra Limongi (UFPR)
Alexandre Meyer Luz (UFSC)

Participantes convidados
André Nilo Klaudat (UFRGS)
Marconi Pequeno (UFPB)
Silvio Chibeni (UNICAMP)
Lívia Guimarães (UFMG)
Sara Albieri (USP)



Chamada para Trabalhos

V Encontro Hume

Florianópolis, 08 a 10 de abril de 2015.
Local: Auditório do CFH – UFSC

Acessem o link:

www.encontroshume.blogspot.com



terça-feira, novembro 25, 2014

Artigos do IV Encontro Hume (UEL/2013)

Encontram-se já disponíveis na Revista Natureza Humana ─ Revista Internacional de Filosofia e Psicanálise - Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fenomenologia e da Sociedade Brasileira de Psicanálise Winnicottiana [ISSN 2175-2834], as publicações dos trabalhos apresentados no IV ENCONTRO HUME, realizado na Universidade Estadual de Londrina (UEL) em 03-05/09/2013.  São dez artigos distribuídos em dois volumes.

A primeira edição (vol. 15 n.1/2013) conta com os artigos de Andrea Cachel (UFJF), Andrea Faggion (UEL), Gabriel Bertin de Almeida (PUC/Londrina), Franco Nero Soares (IFRS) e Marília Côrtes de Ferraz (UEL). Acesso em:

A segunda edição (vol.15 n.2/2013) traz os artigos de André Luiz Olivier da Silva (UNISINOS), Hélio Rebello Cardoso Jr. (UNESP) e Gonzalo Montenegro (UNESP), Matheus de Mesquita Silveira (UNISINOS) e Adriano Naves de Brito (UNISINOS), Rômulo Martins Pereira (UFRS) e Lívia Guimarães (UFMG). Acesso em: 




Eis o resumo do meu artigo

"O final cut de Hume contra o argumento do desígnio"

Com base na crítica que Hume faz ao argumento do desígnio, especialmente nas partes 10 e 11 dos Diálogos sobre a Religião Natural, meu objetivo neste artigo é, a partir de uma análise da relação entre a existência do mal no mundo e a suposta existência de uma divindade possuidora dos atributos tradicionais do teísmo, defender a tese segundo a qual o tratamento que Hume dá ao problema do mal corresponde, digamos assim, à cartada final ─ o último e decisivo recurso que Philo (o personagem que articula essa crítica) aciona para mostrar que o argumento do desígnio não fornece bases suficientemente sólidas e consistentes para dar suporte à crença na existência de um Deus maximamente poderoso, justo e benevolente; e que, portanto, a existência do mal no mundo tem uma força argumentativa tal que a improbabilidade da existência de Deus é maior do que com base nos argumentos apresentados nas partes 2 a 8 dos Diálogos. Isso significa que eu tomo aqui o problema do mal como o maior problema para o teísta experimental — cuja argumentação pretende provar a existência de Deus a partir da observação dos fenômenos do mundo.

terça-feira, outubro 28, 2014

Ceticismo e Fideísmo em Hume

XVI Encontro Nacional de Filosofia da ANPOF
27 a 31 de outubro de 2014
Campos do Jordão/SP


Eis o resumo de meu trabalho

Ceticismo e Fideísmo em Hume

Nesta comunicação pretendo discutir se há boas razões para assumir a interpretação segundo a qual Hume ofereceria suportes teóricos ao fideísmo, isto é, à ideia de que a religião encontra na fé, e não na razão, uma base sólida para a sua validade - controvérsia que tem lugar especial em sua obra Diálogos sobre a Religião Natural. Para tanto, divido minha comunicação em três partes. Na primeira, considerando a combinação que Hume faz entre o fideísmo místico de Demea e o ceticismo de Philo, avalio a hipótese segundo a qual sua filosofia poderia autenticar o fideísmo, haja vista ser digno de nota que Philo (personagem mais frequentemente interpretado como porta-voz do próprio Hume), ao ressaltar os limites e incertezas da razão humana, abre espaço para que a fé religiosa possa ser fundamentada em seu ceticismo filosófico. Na segunda, procuro levantar algumas dificuldades à leitura fideísta para, em seguida mostrar, que o ataque cético de Hume às doutrinas e princípios religiosos pode e deve ser interpretado à luz de seu interesse em estabelecer uma consideração científica e secular da moralidade. Por fim, apresento e defendo a hipótese segundo a qual a filosofia de Hume, a despeito das várias passagens em que Philo professa, digamos assim, uma confissão de fé, interdita o acolhimento filosófico do fideísmo, embora não se deva afirmar que ele esteja definitivamente proscrito da compreensão que Hume tem acerca da religião. Isto porque embora o fideísmo não seja desejável, conforme deverei mostrar, ele pode sim ser entendido como teoricamente permissível. No entanto, ainda que o fideísmo possa ser permissível em termos especulativos, as crenças religiosas, no interior da filosofia moral de Hume, resultam ociosas e inoperantes. A bem da verdade, vale ressaltar que elas não apenas se apresentam ociosas e inoperantes, mas, numa compreensão mais acurada, deve-se reconhecer que elas provocam efeitos danosos à sociedade, especialmente nas formas supersticiosas e entusiastas.

quinta-feira, outubro 23, 2014

O espanto filosófico


"E é próprio do filósofo admirar-se, e o filosofar não tem outra origem senão o estar pleno de admiração" (Platão. Teeteto, 155 d).


Não sei de quem é a tradução dessa passagem do Teeteto. Retirei-a daqui 
http://www2.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/0115685_03_cap_03.pdf
mas fui conferir na minha edição e a encontrei traduzida de modo diferente:

Vale dizer que nessa passagem Sócrates diz a Teeteto que Teodoro parece ser um bom avaliador no que tange à natureza de Teeteto (de possuir, entre muitas outras virtudes, um intelecto prodigiosamente bem dotado). Teeteto havia acabado de dizer a Sócrates estar perplexo, a ponto de chegar a experimentar vertigem quando se põe a considerar todas as questões que emergem da discussão a respeito do "que é conhecimento". Sócrates diz: "esse sentimento de perplexidade (müsteria) revela que és um filósofo, já que para a filosofia só existe um começo: a perplexidade"  (Teeteto, 155-d, edição da Edipro/2007).

Na edição da Fundação Calouste Gulbenkian a mesma passagem se apresenta traduzida do seguinte modo: "Efectivamente, meu amigo, Teodoro parece não ter adivinhado mal a tua natureza. Pois o que estás a passar, o maravilhares-te, é mais de um filósofo. De facto, não há outro princípio da filosofia que não este" (155-d).


"Teeteto - Pelos deuses, Sócrates, causa-me grande admiração o que tudo isso possa ser, e só de considerá-lo, chego a ter vertigens.
Sócrates - Estou vendo, amigo, que Teodoro não ajuizou erradamente tua natureza, pois a admiração é a verdadeira característica do filósofo. Não tem outra origem a filosofia" (155-d).

Preciosismos acerca das traduções à parte (ai que mania), Aristóteles perfilha essa mesma visão ao afirmar na Metafísica [A 2 982 b 10-15] que "de fato, os homens começaram a filosofar, agora como na origem, por causa da admiração, na medida em que, inicialmente, ficavam perplexos diante das dificuldades mais simples." 

Por sua vez, Schopenhauer, com sua concepção pessimista da existência, diz no suplemento 17 (referência ao § 15) do livro I do Mundo Como Vontade e Representação que:

"O espanto filosófico é no fundo uma estupefação dolorosa; a filosofia começa, como a abertura de Don Juan, por um acorde menor... É o mal moral, o sofrimento e a morte que conferem ao espanto filosófico sua qualidade e intensidade particulares; o punctum pruriens da metafísica, o problema que enche a humanidade de uma inquietude que nem o ceticismo nem o criticismo poderiam acalmar; consiste em se perguntar não somente por que o mundo existe, mas também por que ele é pleno de tantas misérias."

Sobre essa passagem (bem como sobre o significado de punctum pruriens) escrevi em 

[e, vejam só, cinco dias depois descubro de quem é a tradução da citação lá de cima, a que inspirou este post: é do Giovanni Reale em sua História da Filosofia Antiga volume I, p.387]

sábado, outubro 18, 2014

E por que não o nada?

Eu ia escrever algo sério sobre filosofia. Tratar, ainda que episodicamente, de ao menos um dos diversos temas, autores ou conceitos próprios da filosofia antiga, já que, por força das circunstâncias, passei os últimos cinquenta dias da minha vida debruçada sobre dez temas relativos a esse período da história da filosofia (e mais vinte dias me aguardam ainda em torno deles). Não foi a primeira vez, mas desta vez foi mais ampla, pontual e insistentemente. 

Tais temas envolvem o pensamento filosófico desde os Pré-Socráticos (século VI a.C) até Plotino (séc. III d.C), ou seja, quase mil anos de história. Confesso que não foi fácil, pois, a cada vez que começava a estudar um tema, os problemas filosóficos começavam a pulular. E o assunto crescia... crescia... crescia... até tornar-se gigante. Quanto mais procurava saber, mais percebia que nada sabia (é, Sócrates sabia o que dizia quando disse "sei que nada sei").

Enquanto isso eu pensava: por Zeus!!! das duas uma, ou vou ser engolida pela Physis ou massacrada pelo Logos, e jamais saberei A Verdade

Não, calma lá! Certamente haverá outras hipóteses: talvez eu transcenda essa esfera sensível, ascenda à esfera inteligível e nunca mais volte. Assim poderei definitivamente libertar minha alma desse cárcere em que ela habita e contemplar as ideias e formas platônicas, isto é, o verdadeiro Ser, em toda a sua plenitude.

Bom, mas se isso não acontecer, provavelmente morrerei intoxicada e louca de tanta substância aspirada das páginas da Metafísica de Aristóteles. E não haverá motor imóvel nenhum capaz de me mover. Meu repouso será eterno.

Ao mesmo tempo, também me perguntava: será que não posso mesmo entrar duas vezes no mesmo rio, como diz Heráclito, já que, no momento seguinte, nem o rio nem eu mesma somos mais os mesmos? "aos que entram nos mesmos rios outras e outras águas afluem [...] (frag. 12); "nós entramos e não entramos nos mesmos rios, somos e não somos" (frag.49). 

Será que as coisas são e não podem deixar de ser, ou não são e jamais poderão ser, como afirmou Parmênides (frag. 2,3)? 

Ora ora, Epicuro, tem certeza de que a felicidade identifica-se com o prazer e de que é possível alcançá-la pelos meios que você indica? Heloooo Sêneca, seria mesmo desejável a beata vita proposta por você (na esteira do estoicismo)? Diga-me, caro Protágoras, serei mesmo a medida de todas as coisas, das que são enquanto são e das que não são enquanto não são? Ou devo ouvir os céticos e suspender todos  os meus juízos?

Oh, god, que mundo é esse? Quem sou eu (se é que sou)? De onde venho? Para onde vou? Por que isso e não aquilo? E por que não o nada?




segunda-feira, maio 05, 2014

Por acaso...



A professora de filosofia chega à sala de aula e pergunta:
─ Quem aqui acredita que alguma coisa nesse mundo acontece por acaso levanta a mão!
Todos levantaram...

Ela dá uns 50 minutos de aula e, em outros termos, pergunta novamente:
─ Quem aqui acredita que o acaso existe levanta a mão!
Ninguém levantou.

Fim da aula!

quarta-feira, abril 16, 2014

Oh vida enigmática!


Hino à vida

Claro, como se ama um amigo
Eu te amo, vida enigmática –
Que me tenhas feito exultar ou chorar,
Que me tenhas trazido felicidade ou sofrimento,
Amo-te com toda a tua crueldade,
E se deves me aniquilar,
Eu me arrancarei de teus braços
Como alguém se arranca do seio de um amigo.
Com todas as minhas forças te aperto!
Que tuas chamas me devorem,
No fogo do combate, permite-me
Sondar mais longe teu mistério.
Ser, pensar durante milênios!
Encerra-me em teus braços:
Se não tens mais alegria a me ofertar
Pois bem – restam-te teus tormentos.

[Lou-Andreas Salomé]

Devo confessar, ainda que a contragosto de muitos, que embora eu estude Hume e outros filósofos criticados por Nietzsche, tenho uma forte identificação com este autor, especialmente no que diz respeito ao seu interesse e apreço pela relação entre a arte, a filosofia, a vida e o espírito trágico.

Ora, mas o que tem a ver falar de Nietzsche aqui se o poema é de Lou- Salomé? Pois bem, não estou aqui para falar propriamente de Nietzsche, mas sim e tão-somente apresentar o belo poema da escritora russa Lou Salomé [1861-1937] (o grande amor da vida de Nietzsche), considerada a primeira mulher moderna que existiu na face desse ínfimo planeta chamado Terra.

Lou entregara um exemplar deste poema como presente de despedida a Nietzsche ao deixar Tautenburg  ─ local onde passou as férias de verão com ele e sua irmã Elizabeth Nietzsche. A meu ver, o poema revela que, a despeito da relação Lou-Niezstche não ter dado certo ─ pois embora Lou admirasse Nietzsche em demasia, desejava ser apenas sua amiga ─ eles compartilhavam do mesmo espírito trágico, ou, digamos assim, do mesmo amor fati (revelado no poema acima).



[Aviso aos leitores navegantes que o poema pode ser encontrado em traduções ligeiramente diferentes. Como não entendo bulhufas de alemão nem de russo, tenho que me contentar (e confiar... sempre com aquele ceticismo mais do que recomendado) com a pesquisa que fiz pela internet, pois o poema não aparece completo na biografia que li durante minhas férias de verão 40 graus, em dezembro de 2013. Se algum ser bondoso e versado na língua original do poema, preocupado com a precisão da tradução (que é mesmo importante), quiser fazer alguma correção, sinta-se à vontade].

A referência da biografia de Lou-Andreas Salomé é a seguinte:
Peters, H.F. Lou: minha irmã, minha esposa. Tradução de Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1986, (com prefácio de Anaïs Nin).  

terça-feira, maio 28, 2013

IV Encontro Hume

Chamada para Trabalhos


A Comissão Organizadora do IV Encontro Hume convida os alunos de pós-graduação e pesquisadores da filosofia de Hume à submissão de trabalhos. O encontro será realizado entre os dias 03, 04 e 05 de setembro de 2013 no campus da Universidade Estadual de Londrina (UEL), em Londrina/Pr. Os interessados deverão submeter um resumo de até 500 palavras em arquivo Word ou similar (fonte Arial, tamanho 12, espaço 1,5) para o e-mail: encontros.hume@hotmail.com  O título e o resumo deverão constar em página separada, com a devida identificação do problema e as linhas gerais do argumento que se pretende desenvolver. Na primeira página deverão constar os seguintes dados do proponente:

Nome completo;
Endereço eletrônico;
Endereço e telefone;
Título do trabalho;
Instituição de origem e titulação;

Realizar a inscrição no sítio http://www.uel.br/eventos/insc/?id=692 bem como o pagamento da taxa de inscrição (R$ 20,00).

A data limite para o envio dos resumos é 15 de julho de 2013 e o resultado será divulgado juntamente com a programação completa do evento no dia 10 de agosto do corrente ano. A notificação sobre a aceitação de cada trabalho será enviada exclusivamente por e-mail a partir do dia 25 de julho de 2013. A aceitação do resumo possibilita ao proponente a apresentação oral de comunicação na data do evento, conforme programação a ser divulgada. O tempo para cada comunicação será de 20 min, com 10 min, para a discussão do trabalho. Após a realização do evento, haverá entrega de certificado para os apresentadores de comunicação e ouvintes devidamente inscritos.

COMISSÃO ORGANIZADORA
Andre Luiz Olivier da Silva (Unisinos)
Andrea Cachel (IFPR/Unicamp)
Andrea Faggion (UEL)
Franco Nero Soares (UFRGS)
José Oscar de Almeida Marques (Unicamp)
Marília Côrtes de Ferraz (UEL/Unicamp)

[para melhor visualizar o cartaz clique sobre ele]

quarta-feira, abril 17, 2013

Nietzsche: o filósofo do perigoso talvez!

ECCE HOMO

[Nietzsche - 2010, by Alexandre Bellei] 


"Com todo o valor que possa merecer o que é verdadeiro, veraz, desinteressado: é possível que se deva atribuir à aparência, à vontade de engano, ao egoísmo e à cobiça um valor mais alto e fundamental para a vida. É até mesmo possível que aquilo que constitui o valor dessas coisas boas e honradas consista exatamente no fato de serem insidiosamente aparentadas, atadas, unidas, e talvez até essencialmente iguais a essas coisas ruins e aparentemente opostas. Talvez! ─ Mas quem se mostra disposto a ocupar-se de tais perigosos "talvezes"? Para isso será preciso esperar o advento de uma nova espécie de filósofos, que tenham gosto e pendor diversos, contrários aos daqueles que até agora existiram ─ filósofos do perigoso "talvez" a todo custo. ─ E, falando com toda a seriedade: eu vejo esses filósofos surgirem" (ABM. Dos preconceitos dos filósofos, § 2, p.10-11).

Escolhi essa passagem de Além do Bem e do Mal: Prelúdio a uma Filosofia do Futuro, uma das principais obras de Nietzsche, como ponto de partida e fio condutor do tema do próximo minicurso de Filosofia para Diletantes, promovido pela Aldeia Coworking de Londrina. O tema versa sobre aquilo que se pode encontrar de mais fundamental e saliente na filosofia de Nietzsche, ou seja, sua crítica à cultura. A meu ver, esta passagem já nos dá um pequeno indício do quanto Nietzsche é um autor très polemique, capaz de provocar um verdadeiro bouleversement em nossas cabeças. Posso garantir (e eu vou procurar mostrar) que muito do que ele diz é de revirar o estômago de qualquer cristão (e saibam que é possível dizer que, num certo sentido, é isso mesmo que ele quer). Aliás, nem é preciso ser cristão, basta ser, digamos assim, humano, ainda que alguns humanos escapem, pelo bem ou pelo mal, ao mal-estar que suas ideias podem provocar.

Por outro lado, Nietzsche (dotado de um virtuosismo sem igual no trato com sua língua materna) possui um poder encantatório, capaz de seduzir e enlevar os mais diversos tipos de leitor: filósofos, poetas, literatos, dançarinos, dramaturgos, artistas plásticos, mortais comuns... ora, o que faz com que Nietzsche seja tão lido e difundido? O que faz com que seus leitores oscilem entre o fascínio e a repulsa? Quem é esse filósofo artista dançarino bufão e dinamite, que propõe que transvaloremos nossos valores, se autodenomina o primeiro imoralista (EH, p. 101) e se julga a uma altura em que já não fala “com palavras, mas com raios” (EH, p.102)? Quem é esse autor subversivo que coloca a superação da compaixão entre as virtudes nobres (EH, p.51) e baila ora com ora sobre a nossa moral? Quem é esse virtuose da linguagem que em Assim Falou Zaratustra diz que de tudo o que se escreve aprecia  "somente o que alguém escreve com seu próprio sangue" (p.56)? Quem é esse "cara"  (ops, desculpem-me a intimidade) que diz ter se dado conta de que "Sócrates e Platão são sintomas de declínio" (CI II § 2), e ousa declarar que Leibniz e Kant são "dois grandes entraves à retidão intelectual da Europa" (EH, p.145)? Enfim, para encerrar essa primeira série de perguntas, lá vai... quem é essa nitroglicerina pensante que nos convida a dizer adeus às velhas verdades e anuncia, em A Gaia Ciência, que Deus está morto (GC § 125)? 

Nietzsche afirma: “reconhecer a inverdade como condição de vida: isto significa, sem dúvida, enfrentar de maneira perigosa os habituais sentimentos de valor; e uma filosofia que se atreve a fazê-lo se coloca, apenas por isso, além do bem e do mal” (ABM. Dos preconceitos dos filósofos, § 4, p.11). 

Pois bem, reconhecer a inverdade como condição de vida é, obviamente, reconhecer a mentira (e também, conforme veremos, a ilusão, a aparência, os véus e máscaras) como condição de vida. Hã? Será que ouvi direito? Como assim? O bem pode não ser mais bem e o mal pode não mais ser mal? Ops, sim! não! não é bem assim, talvez... calma... eu explico! ou ao menos arrisco!

Again: Ecce Homo!


Filosofia para Diletantes
Nietzsche Crítico da Cultura

A crítica da cultura empreendida por Nietzsche constitui-se num dos temas mais fundamentais de sua filosofia. Nietzsche pretende demolir os valores da tradição filosófica, em especial, aqueles implantados por Sócrates, isto é, a crença na racionalidade, no bem em si, na unidade do conhecimento, na objetividade e na verdade. No primeiro período de seus escritos, cujas obras compreendem os anos de 1869 a 1876, Nietzsche tematiza uma oposição entre arte e conhecimento deixando clara a sua posição: a arte é mais importante do que a ciência. A primeira direção da reflexão nietzscheana sobre a ciência é uma "investigação sobre as questões afins do conhecimento, do pensamento, do intelecto, da razão, da consciência e, sobretudo, da verdade" (cf. Machado: 1989, p.9). Criticar a ciência é, para Nietzsche, fundamentalmente, criticar a ideia de verdade, considerada como um valor superior, um ideal sagrado. Posteriormente, a reflexão nietzscheana seguirá uma segunda direção: buscará mostrar que, pelo fato de a ciência não estar isenta de juízos de valor, há um certo parentesco, uma relação de continuidade entre ciência e moral, porquanto é a moral que dá valor à ciência, isto é, valor ao conhecimento. A valorização da arte como atividade que dá acesso às questões fundamentais da existência é, para Nietzsche, a alternativa modelar que lhe permite pensar a renovação da cultura alemã de seu tempo.  Um mergulho em suas obras nos faz ver que, em geral, todas elas “incitam a uma inversão das valorações habituais e dos hábitos valorizados” (Humano Demasiado Humano. Prólogo, p.7), quer dizer, a uma transvaloração de todos os valores. Ele inicia sua transvaloração colocando sob suspeita todos os valores consagrados da moral, da religião, da ciência, da metafísica e, portanto, de toda a cultura denominada cultura superior, uma vez que, de acordo com Nietzsche, de uma perspectiva filosófica, todos os problemas da filosofia são problemas de valor. E, para ele, a medida de valor se estriba na pergunta: “Quanta verdade suporta, quanta verdade ousa um espírito” (Ecce Homo, p.39)? É o que vamos ver!

PROGRAMA
MÓDULO II

O minicurso está dividido em quatro encontros nas seguintes quartas-feiras:
08/05 - 15/05 – 22/05 – 05/06, das 20 às 22 horas, na Aldeia Coworking Londrina

1. Introdução: A crítica de Nietzsche aos valores da tradição filosófica (08/05)
1.1. O universo filosófico tradicional criticado por Nietzsche
1.2. Socratismo, Platonismo e Cristianismo

2. A relação entre arte e conhecimento (15/05)
2.1. A justificação da existência como fenômeno estético
2.2. O apolíneo e o dionisíaco

3. Além do Bem e do Mal: Prelúdio a uma Filosofia do Futuro (22/05)
3.1. A verdade como ideal sagrado da filosofia
3.2. A inversão do platonismo e a metáfora feminina da verdade

4. O projeto transvaloração de todos os valores (05/06).
4.1. Perspectivismo
4.2. Vontade de Poder
4.3. Eterno Retorno e Amor Fati

Abaixo, para os mais sedentos, referências de algumas importantes obras de Nietzsche.

NIETZSCHE, Friedrich. A Gaia Ciência. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
NIETZSCHE, F. Além do Bem e do Mal: Prelúdio a uma Filosofia do Futuro. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
NIETZSCHE, F. Assim Falou Zaratustra. Tradução de Mário da Silva. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1977.
NIETZSCHE, F. Aurora:Reflexão sobre os preconceitos morais. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
NIETZSCHE, F. Cinco Prefácios para cinco livros não escritos. Tradução de Pedro Süssekind. Rio de Janeiro: Sette Letras, 1996.
NIETZSCHE, F. Crepúsculo dos Ídolos ou como se filosofa com o martelo. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo. Companhia das Letras, 2006.
NIETZSCHE, F. Ecce Homo. Tradução de Paulo César de Souza.  2ª. ed. São Paulo: Max Limonad, 1986.
NIETZSCHE, F. Genealogia da Moral.  Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Brasiliense, 1987.
NIETZSCHE, F. Humano, Demasiado Humano I. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Cia. das Letras, 2000.
NIETZSCHE, F. O Anticristo. Ensaio de uma crítica do cristianismo. Tradução de Renato Zwick. Porto Alegre: L&PM POCKET, 2008.
NIETZSCHE, F. O Livro do Filósofo. Tradução de Ana Lobo. Porto : Rés, s.d.
NIETZSCHE, F O Nascimento da Tragédia ou Helenismo e Pessimismo. Tradução de J. Guinsburg. 2ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. 
NIETZSCHE, F. Os Pensadores. Tradução de Rubens Rodrigues Torres Filho. São Paulo: Nova Cultural, 1999.

A LP&M Pocket publicou várias obras importantes de Nietzsche a preços bem acessíveis

A obra citada sobre Nietzsche é de:
MACHADO, Roberto. Nietzsche e a verdade. São Paulo: Paz e Terra. Graal, 1999.

clique no cartaz para visualizar as informações sobre como se inscrever no curso 

quarta-feira, dezembro 05, 2012

Artigos do III Encontro Hume


Encontra-se disponível a primeira edição comemorativa aos 300 anos de David Hume publicada pela Revista Controvérsia (2011/3). Trata-se de uma edição especial que reúne alguns artigos apresentados no III Encontro Hume, ocorrido na UNISINOS em 11-13/05/2011. Essa edição conta com os artigos de André Luiz Olivier da Silva, Fábio Augusto Guzzo, Franco Nero Antunes Soares, José Oscar de Almeida Marques, Marco Antonio Oliveira de Azevedo e Marília Côrtes de Ferraz, e pode ser acessada diretamente no endereço http://revistas.unisinos.br/index.php/controversia/article/view/5234

Em breve será publicada a próxima edição (2012/1) contendo os demais artigos aprovados no III Encontro. No que se refere ao meu artigo, eis o resumo:


A voz articulada proveniente das nuvens e a biblioteca natural de Cleanthes nos Diálogos sobre a Religião Natural de Hume

RESUMO: Meu objetivo neste artigo visa a um exame dos curiosos exemplos que o personagem Cleanthes apresenta na parte III dos Diálogos Sobre a Religião Natural de Hume, a saber, i) o da voz articulada proveniente das nuvens (D 3 §2: 48) e, ii) o da biblioteca natural repleta de livros que se perpetuam da mesma maneira que os animais e vegetais, isto é, por descendência e propagação (D 3 §4: 49). Tais exemplos são, conforme veremos, experimentos mentais que Cleanthes oferece como réplica às primeiras objeções que Philo apresenta ao argumento do desígnio. Entre os comentadores de Hume, William Morris os toma como bizarros, irrelevantes e inconsistentes com a metodologia experimental de Cleanthes. E. Rabbitte afirma que os exemplos mostram que Cleanthes perdeu o ponto central da crítica de Philo, e se mostra simpático à interpretação de Kemp Smith segundo a qual o primeiro exemplo serve para ilustrar o fracasso de Cleanthes em reconhecer o ponto e a força da crítica de Philo à analogia implicada no argumento do desígnio, e o segundo para preparar o caminho de Philo para entrar com sua artilharia de contra-argumentos às teses de Cleanthes. Keith Yandell, por sua vez, defende que a estratégia de Cleanthes quanto a estes exemplos parece bastante apropriada. Diante deste cenário de interpretações diversas, além de tentar esclarecer o significado e relação desses exemplos com a crítica de Philo ao argumento do desígnio, pretendo mostrar que eles cumprem um papel crucial na estratégia argumentativa de Philo e Hume nos Diálogos como um todo, conforme Smith e Yandell sugerem.

Palavras-chave: religião natural, argumento do desígnio, crítica, analogia

quarta-feira, novembro 28, 2012

Amor Fati

Outro dia, ao passar algumas horas a divagar entre prosas e poesias, dei de cara com um poema do poèt maudit Du Bocage, dirigido a uma de suas musas que, aliás, chama-se Marília. Mera coincidência, todos dirão! E eu, é claro, concordo com todos: isso não tem a menor importância. Interessa-me aqui o que o poema diz, e não a quem ele se dirige. Trata-se do famoso e controverso embate entre razão e paixão - um tema bastante caro aos filósofos e literatos.

O título do post, amor fati, refere-se à expressão latina "amor ao destino" ou "amor ao fado". Significa, de uma perspectiva nietzscheana, a aceitação integral do destino, mesmo em seus aspectos mais trágicos, cruéis e dolorosos. Eis o poema:

Importuna Razão, não me persigas;
Cesse a ríspida voz que em vão murmura;
Se a lei de Amor, se a força da ternura
Nem domas, nem contrastas, nem mitigas;

Se acusas os mortais, e os não abrigas,
Se (conhecendo o mal) não dás a cura,
Deixa-me apreciar minha loucura,
Importuna Razão, não me persigas.

É teu fim, seu projecto encher de pejo
Esta alma, frágil vítima daquela
Que, injusta e vária, noutros laços vejo.

Queres que fuja de Marília bela,
Que a maldiga, a desdenhe; e o meu desejo
É carpir, delirar, morrer por ela.



Há quem rejeite as fortes paixões em nome de uma alma tranquila e bem equilibrada. Essa é a receita de felicidade dos sábios ─ uma receita razoável (e sábia). De fato, quando a paixão chega às raias da loucura e do dilaceramento, tendemos a evocar as mais retas e sóbrias razões para extirpá-la.

Ora, mas como esperar que a reta razão tenha algum poder sobre nós se estamos subjugados aos movimentos violentos de nossas paixões? Ah... isso requer um lento, longo e doloroso exercício de persuasão e autocontrole. A dificuldade é: sob turbulentas paixões, somos naturalmente fracos e insensatos. O "murmúrio da razão se mostra vão", como diz o poèt maudit.

Subjugado, tal como um vassalo, à impiedosa lei do amor e da ternura, Bocage deprecia os mecanismos racionais e, num ato de temeridade blasfematória, esconjura a razão a calar sua ríspida voz. À mercê do amor e da amada, ele clama à razão deixá-lo apreciar sua loucura: prefere arrancar os cabelos e delirar... delirar... delirar... até se entregar, de uma vez por todas, à total consumação de si próprio. Bocage não quer maldizer Marília, não quer desdenhá-la, tampouco fugir dela. O que ele quer mesmo é "morrer por ela". E é culpado, dizem alguns, de escolher não resistir a seu amor fatal. Pobre Bocage, pobre Marília, pobre raça de efêmeros mortais!

[marília côrtes | novembro |2012]

segunda-feira, outubro 29, 2012

Adeus à racionalidade

Há alguns anos publiquei num post intitulado Operações do Universo Mental uma passagem da obra de Hume, intitulada Investigação sobre o Entendimento Humano, na qual ele chama a atenção para os poderes e limites do pensamento humano. Vou repetir o que escrevi ali para alcançar o ponto que me interessa aqui.


Diz Hume: “Nada, à primeira vista, pode parecer mais ilimitado que o pensamento humano, que não apenas escapa a todo poder e autoridade dos homens, mas está livre até mesmo dos limites da natureza e da realidade. Formar monstros e juntar as mais incongruentes formas e aparências não custa à imaginação mais esforço do que conceber os objetos mais naturais e familiares. E enquanto o corpo está confinado a um único planeta, sobre o qual rasteja com dor e dificuldade, o pensamento pode instantaneamente transportar-nos às mais distantes regiões do universo, ou mesmo para além do universo, até o caos desmedido onde se supõe que a natureza jaz em total confusão. Aquilo que nunca foi visto, ou de que nunca se ouviu falar, pode ainda assim ser concebido; e nada há que esteja fora do alcance do pensamento, exceto aquilo que implica uma absoluta contradição” (IEH 2 § 4: 25).


Creio que essa passagem pode ser explicada do seguinte modo: nossa mente, “constituída unicamente de percepções sucessivas” (TNH 1.4.6.4), tem em seu aparato cognitivo duas faculdades fundamentais: a da imaginação e a da memória. Com elas, a mente opera da seguinte forma: copia as ideias fornecidas pelos sentidos, armazena-as na memória - que funciona como um arquivo de dados (que se oferecem à mente), no caso aqui, como um arquivo de ideias. Daí a faculdade da imaginação serve-se dessas ideias armazenadas (e também daquelas que a mente constantemente copia das impressões e sensações), estabelecendo certas relações que, num jogo de reflexões e/ou associações, mistura, combina, separa, divide, transpõe, reduz ou estende essas ideias que, por sua vez, dão origem a novas impressões e ideias. Assim, mas evidentemente não de maneira tão simples, Hume nos mostra como a mente opera na aquisição do conhecimento das coisas e do mundo e, ainda, como ela ultrapassa “os limites da natureza e realidade” criando deuses, formando monstros e, se se quiser, as mais diversas barbaridades.

Pois bem, chamo agora a atenção para a afirmação de que não existe “nada que esteja fora do alcance do pensamento, exceto aquilo que implica uma absoluta contradição” (IEH 2 § 4: 25). Ora, como assim? O que é que implica absoluta contradição e que, por isso, está irremediável e decididamente fora do pensamento humano? Um exemplo esclarecedor (sarcástico e muito bem humorado) pode ser encontrado num livro sui generis intitulado: O porco filósofo: 100 experiências de pensamento para a vida cotidiana. A experiência de pensamento que vem aqui ao encontro dessa passagem é um diálogo entre Deus e um filósofo, cujo título é O círculo quadrado. Vamos lá:


“E Deus falou para o filósofo:
- Eu sou o Senhor teu deus, e sou Todo-poderoso. Não há coisa alguma que você possa dizer que não possa ser feita. É fácil!
E o filósofo falou para o Senhor:
- OK, oh, poderoso. Transforme tudo que é azul em vermelho e tudo o que é vermelho em azul.
O Senhor disse:
- Que se faça a inversão de cores! - E a inversão de cores foi feita, deixando completamente confusos os porta-bandeiras da Polônia e de São Marino.
Então o filósofo falou ao Senhor:
- Se quer me impressionar, faça um círculo quadrado.
E o Senhor falou:
- Faça-se um círculo quadrado. - E foi feito.
Mas o filósofo protestou.
- Isso não é um círculo quadrado, isso é um quadrado.
O Senhor ficou com raiva.
- Se eu digo que é um círculo, é um círculo. Cuidado com essa sua impertinência, ou posso parti-lo em pedacinhos.
Mas o filósofo insistiu.
- Eu não pedi para mudar o significado da palavra ‘círculo’ só para que ela passasse a significar ‘quadrado’. Eu queria um verdadeiro círculo quadrado. Admita... isso é algo que não pode fazer.
O Senhor pensou um pouco, então resolveu responder lançando sua vingança poderosa sobre a cabeça do filósofo metido a esperto” (Baggini: 2006: 77).

Conforme explica o autor desse diálogo zombeteiro (e que, para alguns, certamente soará profano), “o problema com coisas como círculos quadrados é que são logicamente impossíveis. Como um círculo é por definição uma forma de um lado, e o quadrado de quatro, e uma forma de quatro lados e de um lado é uma contradição de base [eu diria contradição nos/dos ou em termos], então um círculo quadrado é uma contradição de base e é impossível em todos os mundos possíveis. A racionalidade exige isso. Então, se quisermos dizer que a onipotência de Deus significa que ele pode criar formas como quadrados redondos”, teremos necessariamente de dar “adeus à racionalidade” (Baggini: 2006: 78).

Referências das obras aqui citadas:
HUME. Uma Investigação Sobre o Entendimento Humano (IEH). Tradução de José Oscar de Almeida Marques. São Paulo: Unesp, 1999. HUME. Tratado da Natureza Humana (TNH). Tradução de Déborah Danowski. São Paulo: Unesp, 2001. BAGGINI, Julian. O porco filósofo: 100 experiências de pensamento para a vida cotidiana. Tradução de Edmundo Barreiros. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2006. CHAGALL, Marc. Il cantico dei cantici IV (1958).