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quinta-feira, novembro 15, 2018

La mort de l'amour



"O amor nunca morre de morte natural. Ele morre porque nós não sabemos como renovar a sua fonte. Morre de cegueira e dos erros e das traições. Morre de doença e das feridas; morre de exaustão, das devastações, da falta de brilho." 



Anaïs Nin | In: 'Henry & June' | L&PM Pocket | Porto Alegre | 2007



Teseo Screpolato by Igor Mitoraj


segunda-feira, agosto 20, 2018

Recordação


E tu esperas, aguardas a única coisa
que aumentaria infinitamente a tua vida;
o poderoso, o extraordinário,
o despertar das pedras,
os abismos com que te deparas.

Nas estantes brilham
os volumes em castanho e ouro;
e tu pensas em países viajados,
em quadros, nas vestes
de mulheres encontradas e já perdidas.

E então de súbito sabes: era isso.
Ergues-te e diante de ti estão
angústia e forma e oração
de certo ano que passou.



Memory | 1948 | Rene Magritte


Erinnerung

Und du wartest, erwartest das Eine,
das dein Leben unendlich vermehrt;
das Mächtige, Ungemeine,
das Erwachen der Steine,
Tiefen, dir zugekehrt.

Es dämmern im Bücherständer
die Bände in Gold und Braun;
und du denkst an durchfahrene Länder,
an Bilder, an die Gewänder
wiederverlorener Fraun.

Und da weißt du auf einmal: das war es.
Du erhebst dich, und vor dir steht
eines vergangenen Jahres
Angst und Gestalt und Gebet.


Rainer Maria Rilke | in Das Buch der Bilder | O livro das imagens | 1902 | tradução de Maria João Costa Pereira | Lisboa | Relógio D’Água | 2005

sexta-feira, agosto 17, 2018

Imóvel e perene



"Eu sou bela, ó mortais! como um sonho de pedra" (...), diz a Beleza, essa divindade impassível cujo "(...) olhar, largo olhar" é feito de "clarões eternais".


Baudelaire | A Beleza | In: As Flores do Mal | Tradução de Jamil Haddad | São Paulo | Max Limonad | 1981



Resting | 1876 | by Victor Gabriel Gilbert | 1847-1933 | oil on canvas

domingo, agosto 05, 2018

Diletantes, diletantes!





Os escritos filosóficos considerados menores de Arthur Schopenhauer, Parerga e Paralipomena [1851] (traduzido por Restos e Acessórios), traz um título bastante estranho, mas que se esclarece em seu subtítulo: "Pensamentos isolados, todavia ordenados sistematicamente, sobre diversos assuntos".

Pode-se dizer que essa obra é uma espécie de coletânea de pequenos ensaios filosóficos sobre temas variados. Nela, Schopenhauer discute questões fundamentais que já foram desenvolvidas em algumas de suas obras anteriores como, por exemplo, em O mundo como vontade e representação [1818] ou em Sobre o fundamento da moral [1840], mas discute também assuntos mais prosaicos como, por exemplo, em Sobre as mulheres, a natureza, o valor e a aptidão das mulheres - um escrito polêmico sobre o qual já  me meti a comentar aqui - o que, por sua vez, causou a fúria de grande parte do meu parco exército de leitores anônimos (cujos comentários ofensivos não foram publicados), e alguns pequenos debates interessantes.

Contudo, não vim aqui para falar sobre as mulheres, mas sim para apresentar uma curiosa passagem de A arte de escrever: uma pequena coletânea de cinco escritos extraídos dos Parerga e Paralipomena (na tradução de Pedro Süssekind) que a LP&M, em sua primeira edição, publicou em 2005. Em tais ensaios, Schopenhauer tece considerações a respeito de diversos assuntos relacionados à literatura. 

Ele critica de modo sempre muito contundente e, às vezes, até mesmo muito engraçado, mal-humorado (as usual), e, ainda, de modo injusto, a literatura de consumo, buscando identificar a decadência da literatura por intermédio de uma crítica aos escritores eruditos de sua época, sobretudo da Alemanha. Conforme Süssekind assinala, nestes curtos ensaios ele também defende "um outro tipo de produção literária que possa ser contraposto ao então vigente" (p.9). Mas o ponto aqui não é esse.





 Vamos à passagem:

"Diletantes, diletantes! - Assim os que exercem uma ciência ou uma arte por amor a ela, por alegria, per il loro diletto [pelo seu deleite], são chamados com desprezo por aqueles que se consagram a tais coisas com vistas ao que ganham, porque seu objeto dileto é o dinheiro que têm a receber. Esse desdém se baseia na sua convicção desprezível de que ninguém se dedicaria seriamente a um assunto se não fosse impelido pela necessidade, pela fome ou por uma avidez semelhante. O público possui o mesmo espírito e, por conseguinte, a mesma opinião: daí provém seu respeito habitual pelas 'pessoas da área' e sua desconfiança em relação aos diletantes. Na verdade, para o diletante, ao contrário, o assunto é o fim, e para o homem da área como tal, apenas um meio. No entanto, só se dedicará a um assunto com toda a seriedade alguém que esteja envolvido de modo imediato e que se ocupe dele com amor, con amore. É sempre de tais pessoas, e não dos assalariados, que vêm as grandes descobertas" (Schopenhauer | Sobre a erudição e os eruditos | § 6 | p.23).

Well, nada impede alguém da área de se ocupar de seu assunto com amor, e de um assalariado fazer grandes descobertas. Quer dizer, "alguém da área" e "ocupar-se de seu assunto com amor" não são coisas necessariamente excludentes, tampouco um "assalariado" fazer "grandes descobertas". Mas sabemos que Schopenhauer possui uma verve acalorada, considerada muitas vezes no mínimo politicamente incorreta, e o que ele quer mesmo dizer é que "para a imensa maioria dos eruditos, sua ciência é um meio e não um fim, [...] e que a verdadeira excelência só pode ser alcançada, em obras de todos os gêneros, quando elas forem produzidas em função de si mesmas e não como meios para fins ulteriores" (§ 4, p.21). 

No entanto, os fatos parecem contradizer essa teoria se pensarmos, por exemplo, nas condições sob as quais, de acordo com o que a história nos conta, muitas vezes, Balzac e Dostoiévski produziram suas obras, ou seja, para pagarem suas dívidas.  Talvez se Schopenhauer tivesse incluído um 'apenas', a frase acima citada teria soado melhor: "a verdadeira excelência só pode ser alcançada, em obras de todos os gêneros, quando elas forem produzidas em função de si mesmas e não [apenas] como meios para fins ulteriores". Pois nada impede que os artistas, literatos, escritores e filósofos se sustentem ou ganhem dinheiro com a arte e/ou a ciência que os envolvem con amore, ou com as quais eles se envolvem per amore. 


quarta-feira, julho 04, 2018

Existência


Não sei se és real. Há qualquer coisa em ti que depõe contra a tua existência. Talvez sejas mesmo irreal e só aos meus olhos sejas aquilo que tu és. De qualquer forma, só com os meus olhos posso ver-te – e nada garante que eles não estejam enganados. Quem sabe sejas tu um delírio meu, ou sejas onírico, ou mesmo alucinatório. Como posso eu provar a tua existência? Eu poderia tocar-te, mas quem garante que o meu tato seja mais confiável que a minha visão? Eu poderia com gosto provar da tua saliva, do teu suor ou do teu sangue, mas tampouco confio em meu paladar. Eu poderia ainda farejar-te, como fazem os cães, mas nada leva a crer que o meu olfato tenha mais acesso a ti do que os outros sentidos. Porém, quando escuto a tua voz, sei que alguma parte de ti deve existir, pois que tua voz me fala de arcaicas tempestades, tragédias há muito sepultadas, festejos de um deus estrangeiro e bárbaro, algo em tua voz me traz de volta à Hélade, a Atenas do século V a.C., estando tu misturado à plateia no teatro de Dioniso, quando Ésquilo encenava a Oresteia, ou quando Eurípedes a Fedra ou quando Sófocles o Oedipous Rex.

[ Ygor Raduy | in: Pequeno Manual de Coisas Absolutamente (In)Úteis | p.4 ]



male figure in red
by Ygor Raduy

quarta-feira, fevereiro 28, 2018

Hey


alguém aí 
teria a bondade
de me aplicar uma
anestesia geral
para aplacar 
essa minha dor
existencial?

.....................................
[marília côrtes / 2018]


quinta-feira, janeiro 25, 2018

Idealidade


Outro dia ouvi uma história ─ que poderia ser perfeitamente ilustrada por essa tela ─ demasiado representativa do poder que a poesia (ou mesmo a literatura em geral) tem de nos transportar para o mundo ideal. Mas para que a representação viesse ao encontro dessa história eu modificaria ligeiramente a interpretação apresentada aqui, a despeito das intenções do artista. Anyway, é uma belíssima tela! Enjoy !

The Sonnet | by George Washington Thomas Lambert | 1873-1930

terça-feira, dezembro 26, 2017

Resting


by Santiago Carbonell


"Deitava o corpo como em uma pintura clássica, de modo a acentuar os tremendos altos e baixos das curvas. Deitava-se de lado com a cabeça repousando no braço, a carne de tonalidades acobreadas distendendo-se de vez em quando, como se padecendo sob a dilatação erótica de carícias feitas por uma mão invisível."

[ Anaïs Nin | Delta deVênus | Tradução de Lúcia Brito | Porto Alegre | L&PM Pocket | p.192 ]

terça-feira, outubro 24, 2017

Instruções para o arquiteto


Há tempos transcrevi esse pequeno excerto da fala do personagem Dom Rigoberto de Mario Vargas Llosa. Deixei-o ali nos rascunhos para publicá-lo com alguns comentários. Hoje resolvi desengavetá-lo. Mas notei que estou completamente sem tempo (ou será preguiça? ou desculpa esfarrapada?) de tecer quaisquer considerações a respeito. Então, apenas observo que a passagem trata de Dom Rigoberto dizendo a seu arquiteto (que havia feito um pequeno projeto do qual ele não havia gostado) a concepção que tem acerca de um futuro lar para ele, sua esposa Lucrécia (a seus olhos uma verdadeira deusa-humana) e seu filho Fonchito (uma criança deveras singular que se pode chamar, digamos assim, de um "anjo-endemoniado"). Digo também que essa é uma das obras que já li, grifei, reli e transcrevi várias partes (por pura fruição estética meeesmo). A riqueza da trama, dos personagens, da linguagem e dos temas ali tratados e discutidos é es-tu-pe-fa-ci-en-te. Perspicácia, ironia, humor, sensualidade, inteligência e imaginação saltam aos olhos de qualquer leitor de gosto delicado (num sentido bem humeano).  No mundo de Dom Rigoberto ─ mundo no qual "seus caprichos governarão" (amei essa frase rs) ─ reinam os livros, as obras de arte, o conhecimento, a cultura, o erotismo, muitíssimo prazer e, sobretudo, Dona Lucrécia - a soberana de seus desejos. 

« La liseuse » par Jean-Jacques Henner


“Nosso mal entendido é de caráter conceitual. O senhor fez este bonito desenho de minha casa e de minha biblioteca partindo da suposição — muito difundida, lamentavelmente — de que em um lar o importante são as pessoas, em vez dos objetos. Não o critico por fazer seu esse critério, indispensável para um homem de sua profissão que não se resigne a prescindir dos clientes. Mas minha concepção de meu futuro lar é a oposta. A saber: nesse pequeno espaço construído que chamarei de meu mundo e que meus caprichos governarão, a prioridade básica caberá aos meus livros, quadros e gravuras; nós, as pessoas, seremos cidadãos de segunda. São esses quatro milhares de volumes e a centena de telas e estampas que devem constituir a razão primordial do desenho que lhe encomendei. O senhor subordinará a comodidade, a segurança e a conveniência dos humanos às daqueles objetos. [...] Confio em que o senhor não tome o que acaba de ler — a preponderância que concedo a quadros e livros sobre bípedes de carne e osso — por uma tirada de humor ou pose de cínico. Não é isso, mas sim uma convicção arraigada, consequência de experiências difíceis, mas, também, muito prazerosas. Não me foi fácil chegar a uma postura que contradizia velhas tradições — vamos chamá-las de humanísticas, com um sorriso nos lábios — de filosofias e religiões antropocêntricas, para as quais é inconcebível que o ser humano real, estrutura de carne e ossos perecíveis, seja considerado menos digno de interesse e de respeito do que o inventado, o que aparece (se lhe for mais cômodo, digamos refletido) nas imagens da arte e na literatura. Poupo-o dos detalhes desta história e o transfiro à conclusão a que cheguei e que agora proclamo sem rubor. O mundo de velhacos semoventes do qual o senhor e eu fazemos parte não é o que me interessa, o que me dá prazer e sofrimento, mas sim essa miríade de seres animados pela imaginação, pelos desejos e pela destreza artística, presente nesses quadros, livros e nessas gravuras que consegui reunir com paciência e amor de muitos anos."



Llosa, Mario Vargas | Os cadernos de dom Rigoberto | Tradução de Ana Angélica d'Avila Melo | Rio de Janeiro | Objetiva | 2009 | p.14



Allegory of Sculpture | Gustav Klimt | 1889


(ah... vale lembrar que embora a obra Os Cadernos possa ser lida independentemente da obra que a antecede, ou seja, O Elogio da Madrasta, convém ler essa primeiro, pois o desenrolar da primeira trama condiciona, num certo sentido, a futura relação entre os personagens da segunda).

sexta-feira, julho 28, 2017

Cumplicidade



[ Eve | by Anna Lea Merritt 1844-1930 ]

MAÇÃ

Como se esta, ela, não estando morta, porém vivacíssima, guarda a suculência e o ritmo – como guardas tu a plenipotência o ritmo da tua pulsação – ela, a fruta sobre a mesa, nem flor, nem luz, nem silêncio, porém delicadamente silenciosa, como tu és delicadamente silencioso quando te convém. Ela, que pendia de um galho da árvore do conhecimento, proibida, porém atraente e infinitamente sedutora – assim como tu pendes à minha frente, evidentemente dulcíssimo, sem que eu possa em ti cravar os dentes, ou melhor, lentamente passear em ti e ao teu redor. Ela, a fruta, ele, o ente, estando ambos secretamente semelhantes, secretamente cúmplices de um mesmo e inocente crime, qual seja, o de estarem simplesmente existentes, porém absolutamente inacessíveis.

[ Ygor Raduy ]

..................

(Trata-se, acima, de mais um verbete do 'Pequeno Manual de Coisas Absolutamente (Ir) Relevantes II', written by my dearest friend Ygor Raduy, que gentilmente me concedeu o privilégio e o prazer de torná-lo público, tal como, aos poucos, tenho feito). 

domingo, abril 30, 2017

Dispersa na imensidão


O confiteor do artista


Como são prementes os dias de outono! Ah! Prementes a ponto de machucar! Pois há certas sensações deliciosas cuja indefinição não exclui a intensidade; e não há nada mais pungente que a ponta do infinito.

Que delícia indizível ter o olhar disperso na imensidão do céu e do mar! Solidão, silêncio, inocência incomparável do azul! A vela de uma pequena embarcação que vibra no horizonte, e que pelo tamanho diminuto e isolamento imita minha existência irremediável, melodia monótona do marulho; todas essas coisas pensam através de mim, ou eu penso através delas (pois, na desmesura do devaneio, o eu se perde depressa!); essas coisas pensam, eu digo, mas musicalmente e de forma pitoresca, sem argúcias, sem silogismo, sem deduções.

Em todo o caso, esses pensamentos, saiam eles de mim ou se lancem das coisas, cedo se tornam intensos. A energia que há na volúpia cria um mal-estar e um suspense positivos. Meus nervos retesados não proporcionam senão sensações gritantes e dolorosas.

E eis que a vastidão do céu me oprime, sua translucidez me exaspera. A falta de sensibilidade do mar e o caráter imutável do espetáculo me revoltam... Ah! Deve-se sofrer eternamente, ou eternamente fugir do belo? Natureza, feiticeira sem piedade, rival sempre vitoriosa, larga-me! Chega de provocar os meus desejos e o meu orgulho! O estudo do belo é um duelo no qual o artista grita de susto antes de ser vencido. 

Baudelaire | O Spleen de Paris | Pequenos poemas em prosa | Tradução de Alessandro Zer | Porto Alegre | RS | L&PM Pocket | 2016  pp.17-18

[ by Hanna of Hanna & Hedvig ]


Well, ao pesquisar o significado da palavra "confiteor", encontrei também o poema na língua original. Antes tivesse ficado quieta, pois isso foi suficiente para eu querer modificar, em ao menos alguns pontos, a tradução do Zer. Acho que eu não traduziria, por exemplo, "pénétrantes" por "prementes". Tampouco "pénétrantes jusqu’à la douleur" por "Prementes a ponto de machucar", mas, talvez, "Penetrantes até a dor" ... literalmente, enfin, traduzir exige que façamos escolhas. E nem sempre fazemos as melhores. As dúvidas nos atormentam, as decisões aussi. Ganha-se aqui, perde-se ali.

- Ah, mas por que me ocupar disso agora? 


Le Confiteor de l'Artiste


"Que les fins de journées d’automne sont pénétrantes ! Ah ! pénétrantes jusqu’à la douleur ! car il est de certaines sensations délicieuses dont le vague n’exclut pas l’intensité ; et il n’est pas de pointe plus acérée que celle de l’Infini.

Grand délice que celui de noyer son regard dans l’immensité du ciel et de la mer ! Solitude, silence, incomparable chasteté de l’azur ! une petite voile frissonnante à l’horizon, et qui par sa petitesse et son isolement imite mon irrémédiable existence, mélodie monotone de la houle, toutes ces choses pensent par moi, ou je pense par elles (car dans la grandeur de la rêverie, le moi se perd vite !) ; elles pensent, dis-je, mais musicalement et pittoresquement, sans arguties, sans syllogismes, sans déductions.

Toutefois, ces pensées, qu’elles sortent de moi ou s’élancent des choses, deviennent bientôt trop intenses. L’énergie dans la volupté crée un malaise et une souffrance positive. Mes nerfs trop tendus ne donnent plus que des vibrations criardes et douloureuses.

Et maintenant la profondeur du ciel me consterne ; sa limpidité m’exaspère. L’insensibilité de la mer, l’immuabilité du spectacle me révoltent… Ah ! faut-il éternellement souffrir, ou fuir éternellement le beau ? Nature, enchanteresse sans pitié, rivale toujours victorieuse, laisse-moi ! Cesse de tenter mes désirs et mon orgueil ! L’étude du beau est un duel où l’artiste crie de frayeur avant d’être vaincu."



sábado, abril 08, 2017

Aspiração


"Aspiro a um repouso absoluto e a uma noite contínua. Poeta das loucas voluptuosidades do vinho e do ópio, não tenho outra sede a não ser a de um licor desconhecido na Terra e que nem mesmo a farmacopeia celeste poderia proporcionar-me; um licor que não é feito nem de vitalidade, nem de morte, nem de excitação, nem de nada. Nada saber, nada ensinar, nada querer, nada sentir, dormir e sempre dormir, tal é atualmente a minha única aspiração. Aspiração infame e desanimadora, porém sincera."

[Baudelaire 1867 | Proyectos de prólogos para "Flores do Mal" | Buenos Aires| 1944 | p.74 ]

[ Egon Schiele | 1890-1918 ]


sexta-feira, março 31, 2017

Amor

[ Vénus et Eros 1810 | Charles Paul Landon | 1760-1826 ]

"Se, ao menos, de leve tocar-te, ou nem isso, apenas tangenciar-te, se ao menos, num ínfimo instante, apossar-me de ti, aprisionar-te, encarcerar-te, ou nem isso, apenas de leve roçar-te, ou nem isso, apenas pressentir-te, predizer-te, prefigurar-te – ou quem sabe poder amaciar a tua dor, proteger-te, guardar-te, encerrar-te em uma cúpula onde mal algum possa alcançar-te, onde nada jamais possa ferir-te ou magoar-te, ali onde permaneçamos colados e calados, alados e intocados, ali onde permaneças tu comigo e eu permaneça contigo, sempre e sempre e sempre e sempre." 

[ Ygor Raduy | Amor | in: Pequeno Manual de Coisas Absolutamente (Ir)Relevantes ]

quarta-feira, novembro 16, 2016

Espelhado em meu peito


Eis abaixo mais um belíssimo texto [and painting] do meu querido e talentoso amigo Ygor Raduy. Quando o li, senti como se suas palavras fossem arrancadas de meu próprio peito. Não resisti a'

O AMOR INTEIRO
  
Amo-te inteiro, com corpo, alma, ligamentos. Amo-te sem controle, inevitável. Estás em mim, como o sangue flui em mim, corrente. Amo-te inteiro, até as profundezas, e sempre. Amo-te completo e irrevogável – e és a peste em mim adormecida, és o incêndio, a floração de tudo. E só quando estás presente estou presente;  só quando estás alegre estou alegre; só quando respiras eu respiro. Amo-te às pressas, urgente.  És o alento e a força – embora de nada desconfies. És a festa onde meus olhos brincam, o abismo onde a minha carne cai. Eu perco o coração, mas vou a ti com alegria. E embora o teu silêncio me aferroe, vou a ti. Vou a ti, embora nada indique que venhas a mim; vou a ti, sem que jamais teu braço se mova em minha direção. Pois amo-te inteiro. E algo em mim insiste que és o único norte – algo em mim resiste e diz: “ama-o inteiro, com corpo, alma, ligamentos”. E vou, obedeço, como quem vai ao mundo, já que aos meus olhos és o próprio mundo. Se porventura de existir desistires, tudo desiste,  tudo cai, a luz declina, flores murcham, tudo é vulto. E eu não posso perder nem um minuto teu, nem um sorriso teu posso perder, preciso de cada palavra, de cada gesto teu, de cada respiração. Pois amo-te inteiro, até os subterrâneos. E cada minuto sem ti é um minuto perdido. Cada passo, um passo em falso. Se estás ausente, agonizo; se estás presente, gozo. E me perco de mim, e erro e lamento e apago as luzes e choro pelos cantos. Mas se vens, a alma minha em festa, bandeiras hasteadas, coro de vozes exultantes, luz. Pois amo-te inteiro, com o corpo, com a alma, com os ligamentos.


words, Wörter, blood, Blut 2 | painting | ygor raduy


Não partas com teu reflexo/
Deixa-o espelhado em meu peito.
F. Garcia Lorca

[texto originalmente publicado em 

sábado, agosto 27, 2016

A vida como fenômeno estético

Uma vez comentei com uma amiga sobre algumas obras de arte extremamente belas e delicadas (criação de uma artista grega chamada Mantha Tsialiou) que conheci, por acaso, pelo facebook. Mostrei as fotos de algumas obras à minha amiga que, por sua vez, mostrou-me, ali também pelo facebook, as obras de um amigo dela chamado Ygor Raduy (já publiquei um poema dele aqui http://mariliacortes.blogspot.com.br/2016/08/na-borda-da-palpebra.html ). 

Bah... fiquei impressionada! Achei os desenhos e pinturas daquele rapaz, até então desconhecido pra mim, simplesmente maravilhosas, inquietantes, perturbadoras, especialmente suas figuras do abismo.

Não resisti e, completamente seduzida por aquelas obras, num impulso atrevido, enviei a ele uma solicitação de amizade pelo facebook. Digo impulso atrevido porque não costumo enviar convites de amizades a desconhecidos, e quase nem mesmo a conhecidos. Mas queria acompanhá-lo de perto. Tornamo-nos amigos "no face" (expressão engraçada, mas que está na boca de todos os seus usuários) e acabamos trocando algumas ideias numa conversa inbox tipo olá quem é você como chegou e o que faz aqui? Apresentei-me, falei um pouco do que percebia e sentia ao contemplar seus trabalhos e, a partir de então, passei a acompanhar as publicações não apenas de suas pinturas, mas também, para minha agradável surpresa, de seus textos literários e incrivelmente filosóficos.

Não tenho dúvidas de que ele tem uma extraordinária sensibilidade artística e filosófica, eu diria mesmo que ele é um artista genuinamente genial, bem ao modo como Schopenhauer fala da figura do artista-gênio no livro III de O mundo como vontade e representação, e bem ao gosto da tese de Nietzsche, em O Nascimento da Tragédia, segundo a qual a vida só tem sentido e pode ser justificada como fenômeno estético. Há claramente em suas obras uma fusão entre arte, filosofia e vida. Ele não apenas produz belas obras de arte, como também escreve maravilhosamente bem e, ainda, filosofa naturalmente. Tenho acompanhado seu facebook as an experiment, seus relatórios com diversos títulos e temas (relatório sobre nada muito importante, relatório sobre qualquer coisa, relatório com verdades definitivas, relatório sobre coisas esparsas), suas pinturas, desenhos e revisões de cânones, suas histórias esquisitas, seus exercícios de escrita, suas fotografias e reflexões em geral. Tudo é de uma tragicidade, riqueza e profundidade abissais.

Ao pensar sobre um tema caro à filosofia (e à vida de qualquer mortal-comum), isto é, a morte, vejam só o que ele escreve:


"Eu penso sobre a morte. Sem motivo algum, imagino que seja suave. Talvez seja macia como um acalanto é macio na infância. Talvez seja um envolver-se, um devolver-se, um deixar-se. Talvez morrer seja sedoso, como um imenso leito onde se repousa.  Talvez seja tentadora, a morte, como um mergulhar, um abandonar-se, um despir-se.  Para um corpo que vive, não há nada mais obsceno que a morte.  Mas já que sou humano, penso sobre ela. Será  a morte como um corte abrupto? Um baque? Um repentino desligar-se? Imagino a morte aveludada – talvez porque a vida seja tão áspera. A vida, aprendi, é dor. É o budismo que o diz. É a minha carne e o meu coração que o confirmam. Dor e Alegria, simultâneas. Mas a morte - talvez a morte seja a ausência, talvez o silêncio mais puro. Talvez seja o nada, talvez nela nos percamos de nós, talvez nos desliguemos – talvez seja um infinito esquecimento, um cessar, um interromper. A morte, eu imagino, é generosa, pois acolhe todo aquele que nela penetra. Quem está nela, já não sorri, já não goza, já não erra, já não avança, já não ama, já não sangra, já não arde. Meu único desejo é que na morte se possa ouvir Música. Não consigo suportar a ideia de um silêncio tão severo. Mas sei que a Música pertence à Vida. Quando a morte vem, a Música cessa. E há uma outra questão que me intriga: quando a morte vem, para onde vai o amor? É tão doloroso pensar que o amor também cessa quando a morte vem. Justo o amor, pelo qual juramos eterna sujeição, pelo qual derramamos sangue, suor, saliva, lágrima – é insuportável considerar que ele seja aniquilado pela câmara da morte, como um inseto.  Justo o amor, essa tina asquerosa e tóxica, dentro da qual chafurdamos. O amor, parente tão próximo do ódio. Eu pressinto que a morte não poupa nada, nem mesmo o amor, embora me doa esse pressentimento na alma como uma agulha dói quando enfiada na pele sem aviso."

(em http://streichspielen.blogspot.com.br/2010/05/sobre-morte.html)


Pois bem, posso reconhecer nessa reflexão alguns traços do pensamento de Epicuro (quanto à morte como dissolução e fim da consciência e, portanto, da dor e do sofrimento - um mergulho no nada) e Schopenhauer (no que respeita à sua teoria da prevalência do mal e do sofrimento na vida). E posso reconhecer, além de tudo isso e muito mais, um representante de uma nova geração de filósofos: "os filósofos do perigoso talvez a todo custo" - que Nietzsche prenuncia em Além do bem e do mal § 2, p.10-11).


[todos as obras de arte acima publicadas são de Ygor Raduy]

domingo, abril 10, 2016

Beleza e melancolia


Eis abaixo um exemplo do que Hume chama de "delicadeza do gosto" [delicacy of taste]: uma sensibilidade apurada para a beleza e para a deformidade nas ações, livros, obras de arte, ciências, etc... Refiro-me aqui, especialmente, à fusão entre pintura, música e poesia que o vídeo apresenta.

"Nada é tão benéfico ao temperamento quanto o estudo das belezas, seja da poesia, da eloquência, da música ou da pintura. Estas proporcionam uma certa elegância de sentimento estranha ao resto da humanidade. As emoções que elas excitam são suaves e ternas. Elas libertam a mente das pressões dos negócios e interesses; estimulam a reflexão; predispõem o espírito à tranquilidade; e produzem uma agradável melancolia que, de todas as disposições da mente, é a mais adequada ao amor e à amizade" (Essays I. Of the delicacy of taste and passion, #6).

Then, dear reader, para tornar teu domingo, tua vida e teu gosto mais delicados e sensíveis, take a look ... and... 


Don't explain


Edward Hopper & Nina Simone



quarta-feira, abril 16, 2014

Oh vida enigmática!


Hino à vida

Claro, como se ama um amigo
Eu te amo, vida enigmática –
Que me tenhas feito exultar ou chorar,
Que me tenhas trazido felicidade ou sofrimento,
Amo-te com toda a tua crueldade,
E se deves me aniquilar,
Eu me arrancarei de teus braços
Como alguém se arranca do seio de um amigo.
Com todas as minhas forças te aperto!
Que tuas chamas me devorem,
No fogo do combate, permite-me
Sondar mais longe teu mistério.
Ser, pensar durante milênios!
Encerra-me em teus braços:
Se não tens mais alegria a me ofertar
Pois bem – restam-te teus tormentos.

[Lou-Andreas Salomé]

Devo confessar, ainda que a contragosto de muitos, que embora eu estude Hume e outros filósofos criticados por Nietzsche, tenho uma forte identificação com este autor, especialmente no que diz respeito ao seu interesse e apreço pela relação entre a arte, a filosofia, a vida e o espírito trágico.

Ora, mas o que tem a ver falar de Nietzsche aqui se o poema é de Lou- Salomé? Pois bem, não estou aqui para falar propriamente de Nietzsche, mas sim e tão-somente apresentar o belo poema da escritora russa Lou Salomé [1861-1937] (o grande amor da vida de Nietzsche), considerada a primeira mulher moderna que existiu na face desse ínfimo planeta chamado Terra.

Lou entregara um exemplar deste poema como presente de despedida a Nietzsche ao deixar Tautenburg  ─ local onde passou as férias de verão com ele e sua irmã Elizabeth Nietzsche. A meu ver, o poema revela que, a despeito da relação Lou-Niezstche não ter dado certo ─ pois embora Lou admirasse Nietzsche em demasia, desejava ser apenas sua amiga ─ eles compartilhavam do mesmo espírito trágico, ou, digamos assim, do mesmo amor fati (revelado no poema acima).



[Aviso aos leitores navegantes que o poema pode ser encontrado em traduções ligeiramente diferentes. Como não entendo bulhufas de alemão nem de russo, tenho que me contentar (e confiar... sempre com aquele ceticismo mais do que recomendado) com a pesquisa que fiz pela internet, pois o poema não aparece completo na biografia que li durante minhas férias de verão 40 graus, em dezembro de 2013. Se algum ser bondoso e versado na língua original do poema, preocupado com a precisão da tradução (que é mesmo importante), quiser fazer alguma correção, sinta-se à vontade].

A referência da biografia de Lou-Andreas Salomé é a seguinte:
Peters, H.F. Lou: minha irmã, minha esposa. Tradução de Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1986, (com prefácio de Anaïs Nin).  

quarta-feira, abril 17, 2013

Nietzsche: o filósofo do perigoso talvez!

ECCE HOMO

[Nietzsche - 2010, by Alexandre Bellei] 


"Com todo o valor que possa merecer o que é verdadeiro, veraz, desinteressado: é possível que se deva atribuir à aparência, à vontade de engano, ao egoísmo e à cobiça um valor mais alto e fundamental para a vida. É até mesmo possível que aquilo que constitui o valor dessas coisas boas e honradas consista exatamente no fato de serem insidiosamente aparentadas, atadas, unidas, e talvez até essencialmente iguais a essas coisas ruins e aparentemente opostas. Talvez! ─ Mas quem se mostra disposto a ocupar-se de tais perigosos "talvezes"? Para isso será preciso esperar o advento de uma nova espécie de filósofos, que tenham gosto e pendor diversos, contrários aos daqueles que até agora existiram ─ filósofos do perigoso "talvez" a todo custo. ─ E, falando com toda a seriedade: eu vejo esses filósofos surgirem" (ABM. Dos preconceitos dos filósofos, § 2, p.10-11).

Escolhi essa passagem de Além do Bem e do Mal: Prelúdio a uma Filosofia do Futuro, uma das principais obras de Nietzsche, como ponto de partida e fio condutor do tema do próximo minicurso de Filosofia para Diletantes, promovido pela Aldeia Coworking de Londrina. O tema versa sobre aquilo que se pode encontrar de mais fundamental e saliente na filosofia de Nietzsche, ou seja, sua crítica à cultura. A meu ver, esta passagem já nos dá um pequeno indício do quanto Nietzsche é um autor très polemique, capaz de provocar um verdadeiro bouleversement em nossas cabeças. Posso garantir (e eu vou procurar mostrar) que muito do que ele diz é de revirar o estômago de qualquer cristão (e saibam que é possível dizer que, num certo sentido, é isso mesmo que ele quer). Aliás, nem é preciso ser cristão, basta ser, digamos assim, humano, ainda que alguns humanos escapem, pelo bem ou pelo mal, ao mal-estar que suas ideias podem provocar.

Por outro lado, Nietzsche (dotado de um virtuosismo sem igual no trato com sua língua materna) possui um poder encantatório, capaz de seduzir e enlevar os mais diversos tipos de leitor: filósofos, poetas, literatos, dançarinos, dramaturgos, artistas plásticos, mortais comuns... ora, o que faz com que Nietzsche seja tão lido e difundido? O que faz com que seus leitores oscilem entre o fascínio e a repulsa? Quem é esse filósofo artista dançarino bufão e dinamite, que propõe que transvaloremos nossos valores, se autodenomina o primeiro imoralista (EH, p. 101) e se julga a uma altura em que já não fala “com palavras, mas com raios” (EH, p.102)? Quem é esse autor subversivo que coloca a superação da compaixão entre as virtudes nobres (EH, p.51) e baila ora com ora sobre a nossa moral? Quem é esse virtuose da linguagem que em Assim Falou Zaratustra diz que de tudo o que se escreve aprecia  "somente o que alguém escreve com seu próprio sangue" (p.56)? Quem é esse "cara"  (ops, desculpem-me a intimidade) que diz ter se dado conta de que "Sócrates e Platão são sintomas de declínio" (CI II § 2), e ousa declarar que Leibniz e Kant são "dois grandes entraves à retidão intelectual da Europa" (EH, p.145)? Enfim, para encerrar essa primeira série de perguntas, lá vai... quem é essa nitroglicerina pensante que nos convida a dizer adeus às velhas verdades e anuncia, em A Gaia Ciência, que Deus está morto (GC § 125)? 

Nietzsche afirma: “reconhecer a inverdade como condição de vida: isto significa, sem dúvida, enfrentar de maneira perigosa os habituais sentimentos de valor; e uma filosofia que se atreve a fazê-lo se coloca, apenas por isso, além do bem e do mal” (ABM. Dos preconceitos dos filósofos, § 4, p.11). 

Pois bem, reconhecer a inverdade como condição de vida é, obviamente, reconhecer a mentira (e também, conforme veremos, a ilusão, a aparência, os véus e máscaras) como condição de vida. Hã? Será que ouvi direito? Como assim? O bem pode não ser mais bem e o mal pode não mais ser mal? Ops, sim! não! não é bem assim, talvez... calma... eu explico! ou ao menos arrisco!

Again: Ecce Homo!


Filosofia para Diletantes
Nietzsche Crítico da Cultura

A crítica da cultura empreendida por Nietzsche constitui-se num dos temas mais fundamentais de sua filosofia. Nietzsche pretende demolir os valores da tradição filosófica, em especial, aqueles implantados por Sócrates, isto é, a crença na racionalidade, no bem em si, na unidade do conhecimento, na objetividade e na verdade. No primeiro período de seus escritos, cujas obras compreendem os anos de 1869 a 1876, Nietzsche tematiza uma oposição entre arte e conhecimento deixando clara a sua posição: a arte é mais importante do que a ciência. A primeira direção da reflexão nietzscheana sobre a ciência é uma "investigação sobre as questões afins do conhecimento, do pensamento, do intelecto, da razão, da consciência e, sobretudo, da verdade" (cf. Machado: 1989, p.9). Criticar a ciência é, para Nietzsche, fundamentalmente, criticar a ideia de verdade, considerada como um valor superior, um ideal sagrado. Posteriormente, a reflexão nietzscheana seguirá uma segunda direção: buscará mostrar que, pelo fato de a ciência não estar isenta de juízos de valor, há um certo parentesco, uma relação de continuidade entre ciência e moral, porquanto é a moral que dá valor à ciência, isto é, valor ao conhecimento. A valorização da arte como atividade que dá acesso às questões fundamentais da existência é, para Nietzsche, a alternativa modelar que lhe permite pensar a renovação da cultura alemã de seu tempo.  Um mergulho em suas obras nos faz ver que, em geral, todas elas “incitam a uma inversão das valorações habituais e dos hábitos valorizados” (Humano Demasiado Humano. Prólogo, p.7), quer dizer, a uma transvaloração de todos os valores. Ele inicia sua transvaloração colocando sob suspeita todos os valores consagrados da moral, da religião, da ciência, da metafísica e, portanto, de toda a cultura denominada cultura superior, uma vez que, de acordo com Nietzsche, de uma perspectiva filosófica, todos os problemas da filosofia são problemas de valor. E, para ele, a medida de valor se estriba na pergunta: “Quanta verdade suporta, quanta verdade ousa um espírito” (Ecce Homo, p.39)? É o que vamos ver!

PROGRAMA
MÓDULO II

O minicurso está dividido em quatro encontros nas seguintes quartas-feiras:
08/05 - 15/05 – 22/05 – 05/06, das 20 às 22 horas, na Aldeia Coworking Londrina

1. Introdução: A crítica de Nietzsche aos valores da tradição filosófica (08/05)
1.1. O universo filosófico tradicional criticado por Nietzsche
1.2. Socratismo, Platonismo e Cristianismo

2. A relação entre arte e conhecimento (15/05)
2.1. A justificação da existência como fenômeno estético
2.2. O apolíneo e o dionisíaco

3. Além do Bem e do Mal: Prelúdio a uma Filosofia do Futuro (22/05)
3.1. A verdade como ideal sagrado da filosofia
3.2. A inversão do platonismo e a metáfora feminina da verdade

4. O projeto transvaloração de todos os valores (05/06).
4.1. Perspectivismo
4.2. Vontade de Poder
4.3. Eterno Retorno e Amor Fati

Abaixo, para os mais sedentos, referências de algumas importantes obras de Nietzsche.

NIETZSCHE, Friedrich. A Gaia Ciência. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
NIETZSCHE, F. Além do Bem e do Mal: Prelúdio a uma Filosofia do Futuro. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
NIETZSCHE, F. Assim Falou Zaratustra. Tradução de Mário da Silva. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1977.
NIETZSCHE, F. Aurora:Reflexão sobre os preconceitos morais. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
NIETZSCHE, F. Cinco Prefácios para cinco livros não escritos. Tradução de Pedro Süssekind. Rio de Janeiro: Sette Letras, 1996.
NIETZSCHE, F. Crepúsculo dos Ídolos ou como se filosofa com o martelo. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo. Companhia das Letras, 2006.
NIETZSCHE, F. Ecce Homo. Tradução de Paulo César de Souza.  2ª. ed. São Paulo: Max Limonad, 1986.
NIETZSCHE, F. Genealogia da Moral.  Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Brasiliense, 1987.
NIETZSCHE, F. Humano, Demasiado Humano I. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Cia. das Letras, 2000.
NIETZSCHE, F. O Anticristo. Ensaio de uma crítica do cristianismo. Tradução de Renato Zwick. Porto Alegre: L&PM POCKET, 2008.
NIETZSCHE, F. O Livro do Filósofo. Tradução de Ana Lobo. Porto : Rés, s.d.
NIETZSCHE, F O Nascimento da Tragédia ou Helenismo e Pessimismo. Tradução de J. Guinsburg. 2ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. 
NIETZSCHE, F. Os Pensadores. Tradução de Rubens Rodrigues Torres Filho. São Paulo: Nova Cultural, 1999.

A LP&M Pocket publicou várias obras importantes de Nietzsche a preços bem acessíveis

A obra citada sobre Nietzsche é de:
MACHADO, Roberto. Nietzsche e a verdade. São Paulo: Paz e Terra. Graal, 1999.

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