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quarta-feira, novembro 04, 2015

III Colóquio de Ética e Filosofia Política - UFFS




Programação dia 30.11.2015

Minicurso
Local: Auditório – Bloco B
14h00

Profa. Dra. Vanessa Fontana
A Ética na Fenomenologia de Husserl
Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste)

Conferência
Local: Auditório – Bloco B
19h30

Prof. Dr. Jaimir Comte
Anatomia Moral em Hume
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Programação dia 01.12.2015

Mesa
Local: Auditório – Bloco B 
16h00-18h00

Prof. Dr. Gonzalo Montenegro
"Três versões da ética em Deleuze: acontecimento, encontro e etologia"
Universidade Federal de Integração Latino-Americana (UNILA)

Prof. Dr. Ricardo Niquetti
Ética em Deleuze
Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS)

Conferência
Local: Auditório – Bloco B
19h30

Prof. Dr. Evandro Leonardi
Republicanismo em Maquiavel
Instituto Federal do Paraná (IFPR)

Programação dia 02.12.2015

Comunicações
16-19h
Local: Salas [a definir]

Conferência
Local: Auditório – Bloco B 
19h30

Profa. Dra. Marília Côrtes de Ferraz
‘Sense and Sensibility’ em O Cético de Hume

segunda-feira, outubro 26, 2015

ENEM 2015: Hume


Naturalmente, algumas pessoas vieram ontem me perguntar o que achei da questão sobre Hume na prova do ENEM 2015. Eu já havia tomado conhecimento da polêmica desencadeada por ela, mas não havia me habilitado a discuti-la (por pura preguicite aguda de domingão chuvoso rs). Bom, não deu pra escapar. Eis, então, a minha opinião:

A meu ver, a questão está mal formulada. Do contrário, não teria gerado tanta polêmica. E ela está mal formulada, arrisco a dizer, porque a terminologia empregada, extremamente imprecisa, dá margens a dúvidas em relação às alternativas de respostas. Vejam só... (prova retirada da internet):



Bom, as alternativas (C)(D) penso que estão fora de cogitação. Abstenho-me, por enquanto, de comentá-las. Só farei isso se alguém vier a defender que alguma delas possa ser considerada correta. A polêmica, pelo que vi no facebook, gira em torno das outras três, em virtude do emprego de alguns termos e expressões discutíveis.

A alternativa (A) “os conteúdos das ideias no intelecto têm origem na sensação” poderia ser considerada correta, embora o uso do termo intelecto não seja apropriado, uma vez que Hume não fala, salvo engano, em intelecto (no índex da EHU e THN não se encontra), e fale em faculdades intelectuais [intellectual faculties] da mente, incluindo aí a memória, a imaginação, a razão, o entendimento e, num certo sentido, também a vontade. No final do parágrafo 7 Hume fala “da única forma pela qual uma ideia pode ter acesso à mente, a saber, por um efetivo sentimento ou sensação” (IEH 2 #7), não obstante apresente, em seguida, um fenômeno contraditório, bastante singular, cito Hume, “que quase não vale a pena examiná-lo, e tampouco merece que, apenas por sua causa, venhamos a alterar nossa tese geral” (IEH 2 #8).

A alternativa (E) “as ideias têm como fonte específica o sentimento cujos dados são colhidos na empiria” também poderia ser considerada correta, ainda que pareça  não levar em conta as ideias complexas (sem mencionar a discussão que pode ser levantada em torno da origem da ideia de conexão necessária). Esta alternativa parece limitar a questão às ideias simples, que são cópias de impressões originais. De qualquer modo, a fonte primordial, quer dizer, a primeira fonte de uma ideia sempre será uma impressão original, um dado sensível. Hume diz: "quando analisamos nossos pensamentos ou ideias, por mais complexos e grandiosos que sejam, sempre verificamos que eles se decompõem em ideias simples copiadas de alguma sensação ou sentimento precedente” (IEH 2 #6). Isso significa que o termo “específico” não elimina propriamente a alternativa, pois, ao fim e ao cabo, a primeira impressão é a fonte original de uma ideia, ainda que algumas ideias possam ser derivadas das relações que estabelecemos entre elas.

Há também a polêmica acerca da alternativa usar, além do termo “específico”, também o termo “sentimento.” Acontece que Hume emprega sim o termo sentimento: "all the materials of Thinking are derived either from our outward or inward sentiment" (EHU 2 #5).

Alguém poderia argumentar que se é "sensação ou sentimento precedente" (na tradução do José Oscar de A. Marques; estou sem a do Aiex aqui) não é especificamente sentimento. Mas, pergunto, qual a diferença entre sensação e sentimento? Se há diferença, ela é extremamente sutil. Hume diz: “when we analyze our thoughts or ideas, however compounded or sublime, we always find, that they resolve themselves into such simple ideas as were copied from a precedent feeling or sentiment” (EHU 2 #6).

Não fica claro se ele está tomando os termos como sinônimos ou se seria um ou outro (no caso de não tomar como sinônimos). Aparentemente ele está concebendo os termos como sinônimos. Feeling pode ser traduzido tanto por sensação quanto por sentimento. Débora Danowski, ao traduzir o Tratado da Natureza Humana, assinala a dificuldade de traduzir Feeling (“a mais problemática”), no uso que Hume faz desse termo (p.9).

A alternativa (B) “o espírito é capaz de classificar os dados da percepção sensível” também não poderia ser facilmente descartada. O termo “classificar” poderia ser considerado adequado sim, na medida em que dizer que a mente (mind, traduzida aqui, a meu ver, inadequadamente, por espírito) é capaz de classificar os dados da percepção sensível ─ isso está correto. Pois o que significa classificar? No caso, aqui, basicamente dividir, misturar e compor: a ideia de sereia é composta da divisão ou decomposição da ideia de uma mulher e da ideia de um peixe. Somando-se duas das partes divididas dá-se origem à ideia de um outro objeto, quer dizer, de dois objetos primeiramente divididos e, depois, compostos ou misturados, forma-se a ideia de um terceiro objeto “sereia” , sendo cada qual classificado por um termo específico: temos então as classes do objeto “mulher”, do objeto “peixe” e do objeto “sereia”. Ou seja, a alternativa também poderia ser considerada correta se afrouxarmos o rigor do uso preciso dos termos que Hume emprega e das opções de tradução que os termos nos oferecem.




Então, se alguém me perguntasse qual seria a alternativa correta, eu diria que a questão deve ser anulada, pois está mal formulada, dando ensejo a dúvidas e a mais de uma alternativa razoavelmente consistente. Faltou, creio eu, um elemento indispensável na formulação da questão: o rigor filosófico no uso dos termos.

quarta-feira, novembro 26, 2014

V Encontro Hume - UFSC - 2015




Apresentação

David Hume (1711-1777) é considerado atualmente como um dos maiores, mais profundos, penetrantes e abrangentes filósofos do período moderno. Suas obras alcançaram grande sucesso em seu próprio tempo e continuam a despertar imenso interesse e a oferecer contribuições significativas para a reflexão filosófica atual. O V Encontro Hume pretende dar continuidade a uma série de eventos dedicados à filosofia de Hume, realizados nos últimos anos em diferentes instituições brasileiras. Essa série de eventos nasceu por iniciativa de estudantes de Pós-Graduação em filosofia, que promoveram o I Encontro Hume no Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro – IUPERJ, em 2009. Em 2010 foi realizado o II Encontro Hume na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e, em 2011, o III Encontro Hume, na UNISINOS (RS). O IV Encontro Hume, o mais recente da série, foi realizado na Universidade Estadual de Londrina (UEL) em 2013. Esses eventos têm representado um importante espaço para estudantes de pós-graduação e professores apresentarem e debaterem os resultados de suas pesquisas. Como resultado concreto da realização dessa série de eventos destaca-se a publicação de vários artigos em periódicos da área de filosofia.  O V Encontro Hume, a ser realizado na Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, de 08 a 10 de abril de 2015, tem por objetivo reunir estudantes de pós-graduação de diferentes programas de Pós-graduação do Brasil e professores que desenvolvam pesquisas sobre a filosofia de Hume. 


Comissão Organizadora
Jaimir Conte (UFSC) 
Flávio Miguel de Oliveira Zimmermann (UFFS)
Marília Côrtes de Ferraz (UEL)
Franco Nero Antunes Soares (IFRS)
Andreh Sabino Ribeiro (UFMG)
Ítalo Lemos (UFSC)

Comissão Científica
José Oscar de Almeida Marques (UNICAMP)
Andrea Cachel (UFJF)
André Luiz Olivier da Silva (UNISINOS)

Maria Isabel de M. Papaterra Limongi (UFPR)
Alexandre Meyer Luz (UFSC)

Participantes convidados
André Nilo Klaudat (UFRGS)
Marconi Pequeno (UFPB)
Silvio Chibeni (UNICAMP)
Lívia Guimarães (UFMG)
Sara Albieri (USP)



Chamada para Trabalhos

V Encontro Hume

Florianópolis, 08 a 10 de abril de 2015.
Local: Auditório do CFH – UFSC

Acessem o link:

www.encontroshume.blogspot.com



terça-feira, novembro 25, 2014

Artigos do IV Encontro Hume (UEL/2013)

Encontram-se já disponíveis na Revista Natureza Humana ─ Revista Internacional de Filosofia e Psicanálise - Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fenomenologia e da Sociedade Brasileira de Psicanálise Winnicottiana [ISSN 2175-2834], as publicações dos trabalhos apresentados no IV ENCONTRO HUME, realizado na Universidade Estadual de Londrina (UEL) em 03-05/09/2013.  São dez artigos distribuídos em dois volumes.

A primeira edição (vol. 15 n.1/2013) conta com os artigos de Andrea Cachel (UFJF), Andrea Faggion (UEL), Gabriel Bertin de Almeida (PUC/Londrina), Franco Nero Soares (IFRS) e Marília Côrtes de Ferraz (UEL). Acesso em:

A segunda edição (vol.15 n.2/2013) traz os artigos de André Luiz Olivier da Silva (UNISINOS), Hélio Rebello Cardoso Jr. (UNESP) e Gonzalo Montenegro (UNESP), Matheus de Mesquita Silveira (UNISINOS) e Adriano Naves de Brito (UNISINOS), Rômulo Martins Pereira (UFRS) e Lívia Guimarães (UFMG). Acesso em: 




Eis o resumo do meu artigo

"O final cut de Hume contra o argumento do desígnio"

Com base na crítica que Hume faz ao argumento do desígnio, especialmente nas partes 10 e 11 dos Diálogos sobre a Religião Natural, meu objetivo neste artigo é, a partir de uma análise da relação entre a existência do mal no mundo e a suposta existência de uma divindade possuidora dos atributos tradicionais do teísmo, defender a tese segundo a qual o tratamento que Hume dá ao problema do mal corresponde, digamos assim, à cartada final ─ o último e decisivo recurso que Philo (o personagem que articula essa crítica) aciona para mostrar que o argumento do desígnio não fornece bases suficientemente sólidas e consistentes para dar suporte à crença na existência de um Deus maximamente poderoso, justo e benevolente; e que, portanto, a existência do mal no mundo tem uma força argumentativa tal que a improbabilidade da existência de Deus é maior do que com base nos argumentos apresentados nas partes 2 a 8 dos Diálogos. Isso significa que eu tomo aqui o problema do mal como o maior problema para o teísta experimental — cuja argumentação pretende provar a existência de Deus a partir da observação dos fenômenos do mundo.

terça-feira, outubro 28, 2014

Ceticismo e Fideísmo em Hume

XVI Encontro Nacional de Filosofia da ANPOF
27 a 31 de outubro de 2014
Campos do Jordão/SP


Eis o resumo de meu trabalho

Ceticismo e Fideísmo em Hume

Nesta comunicação pretendo discutir se há boas razões para assumir a interpretação segundo a qual Hume ofereceria suportes teóricos ao fideísmo, isto é, à ideia de que a religião encontra na fé, e não na razão, uma base sólida para a sua validade - controvérsia que tem lugar especial em sua obra Diálogos sobre a Religião Natural. Para tanto, divido minha comunicação em três partes. Na primeira, considerando a combinação que Hume faz entre o fideísmo místico de Demea e o ceticismo de Philo, avalio a hipótese segundo a qual sua filosofia poderia autenticar o fideísmo, haja vista ser digno de nota que Philo (personagem mais frequentemente interpretado como porta-voz do próprio Hume), ao ressaltar os limites e incertezas da razão humana, abre espaço para que a fé religiosa possa ser fundamentada em seu ceticismo filosófico. Na segunda, procuro levantar algumas dificuldades à leitura fideísta para, em seguida mostrar, que o ataque cético de Hume às doutrinas e princípios religiosos pode e deve ser interpretado à luz de seu interesse em estabelecer uma consideração científica e secular da moralidade. Por fim, apresento e defendo a hipótese segundo a qual a filosofia de Hume, a despeito das várias passagens em que Philo professa, digamos assim, uma confissão de fé, interdita o acolhimento filosófico do fideísmo, embora não se deva afirmar que ele esteja definitivamente proscrito da compreensão que Hume tem acerca da religião. Isto porque embora o fideísmo não seja desejável, conforme deverei mostrar, ele pode sim ser entendido como teoricamente permissível. No entanto, ainda que o fideísmo possa ser permissível em termos especulativos, as crenças religiosas, no interior da filosofia moral de Hume, resultam ociosas e inoperantes. A bem da verdade, vale ressaltar que elas não apenas se apresentam ociosas e inoperantes, mas, numa compreensão mais acurada, deve-se reconhecer que elas provocam efeitos danosos à sociedade, especialmente nas formas supersticiosas e entusiastas.

quarta-feira, dezembro 05, 2012

Artigos do III Encontro Hume


Encontra-se disponível a primeira edição comemorativa aos 300 anos de David Hume publicada pela Revista Controvérsia (2011/3). Trata-se de uma edição especial que reúne alguns artigos apresentados no III Encontro Hume, ocorrido na UNISINOS em 11-13/05/2011. Essa edição conta com os artigos de André Luiz Olivier da Silva, Fábio Augusto Guzzo, Franco Nero Antunes Soares, José Oscar de Almeida Marques, Marco Antonio Oliveira de Azevedo e Marília Côrtes de Ferraz, e pode ser acessada diretamente no endereço http://revistas.unisinos.br/index.php/controversia/article/view/5234

Em breve será publicada a próxima edição (2012/1) contendo os demais artigos aprovados no III Encontro. No que se refere ao meu artigo, eis o resumo:


A voz articulada proveniente das nuvens e a biblioteca natural de Cleanthes nos Diálogos sobre a Religião Natural de Hume

RESUMO: Meu objetivo neste artigo visa a um exame dos curiosos exemplos que o personagem Cleanthes apresenta na parte III dos Diálogos Sobre a Religião Natural de Hume, a saber, i) o da voz articulada proveniente das nuvens (D 3 §2: 48) e, ii) o da biblioteca natural repleta de livros que se perpetuam da mesma maneira que os animais e vegetais, isto é, por descendência e propagação (D 3 §4: 49). Tais exemplos são, conforme veremos, experimentos mentais que Cleanthes oferece como réplica às primeiras objeções que Philo apresenta ao argumento do desígnio. Entre os comentadores de Hume, William Morris os toma como bizarros, irrelevantes e inconsistentes com a metodologia experimental de Cleanthes. E. Rabbitte afirma que os exemplos mostram que Cleanthes perdeu o ponto central da crítica de Philo, e se mostra simpático à interpretação de Kemp Smith segundo a qual o primeiro exemplo serve para ilustrar o fracasso de Cleanthes em reconhecer o ponto e a força da crítica de Philo à analogia implicada no argumento do desígnio, e o segundo para preparar o caminho de Philo para entrar com sua artilharia de contra-argumentos às teses de Cleanthes. Keith Yandell, por sua vez, defende que a estratégia de Cleanthes quanto a estes exemplos parece bastante apropriada. Diante deste cenário de interpretações diversas, além de tentar esclarecer o significado e relação desses exemplos com a crítica de Philo ao argumento do desígnio, pretendo mostrar que eles cumprem um papel crucial na estratégia argumentativa de Philo e Hume nos Diálogos como um todo, conforme Smith e Yandell sugerem.

Palavras-chave: religião natural, argumento do desígnio, crítica, analogia

segunda-feira, outubro 29, 2012

Adeus à racionalidade

Há alguns anos publiquei num post intitulado Operações do Universo Mental uma passagem da obra de Hume, intitulada Investigação sobre o Entendimento Humano, na qual ele chama a atenção para os poderes e limites do pensamento humano. Vou repetir o que escrevi ali para alcançar o ponto que me interessa aqui.


Diz Hume: “Nada, à primeira vista, pode parecer mais ilimitado que o pensamento humano, que não apenas escapa a todo poder e autoridade dos homens, mas está livre até mesmo dos limites da natureza e da realidade. Formar monstros e juntar as mais incongruentes formas e aparências não custa à imaginação mais esforço do que conceber os objetos mais naturais e familiares. E enquanto o corpo está confinado a um único planeta, sobre o qual rasteja com dor e dificuldade, o pensamento pode instantaneamente transportar-nos às mais distantes regiões do universo, ou mesmo para além do universo, até o caos desmedido onde se supõe que a natureza jaz em total confusão. Aquilo que nunca foi visto, ou de que nunca se ouviu falar, pode ainda assim ser concebido; e nada há que esteja fora do alcance do pensamento, exceto aquilo que implica uma absoluta contradição” (IEH 2 § 4: 25).


Creio que essa passagem pode ser explicada do seguinte modo: nossa mente, “constituída unicamente de percepções sucessivas” (TNH 1.4.6.4), tem em seu aparato cognitivo duas faculdades fundamentais: a da imaginação e a da memória. Com elas, a mente opera da seguinte forma: copia as ideias fornecidas pelos sentidos, armazena-as na memória - que funciona como um arquivo de dados (que se oferecem à mente), no caso aqui, como um arquivo de ideias. Daí a faculdade da imaginação serve-se dessas ideias armazenadas (e também daquelas que a mente constantemente copia das impressões e sensações), estabelecendo certas relações que, num jogo de reflexões e/ou associações, mistura, combina, separa, divide, transpõe, reduz ou estende essas ideias que, por sua vez, dão origem a novas impressões e ideias. Assim, mas evidentemente não de maneira tão simples, Hume nos mostra como a mente opera na aquisição do conhecimento das coisas e do mundo e, ainda, como ela ultrapassa “os limites da natureza e realidade” criando deuses, formando monstros e, se se quiser, as mais diversas barbaridades.

Pois bem, chamo agora a atenção para a afirmação de que não existe “nada que esteja fora do alcance do pensamento, exceto aquilo que implica uma absoluta contradição” (IEH 2 § 4: 25). Ora, como assim? O que é que implica absoluta contradição e que, por isso, está irremediável e decididamente fora do pensamento humano? Um exemplo esclarecedor (sarcástico e muito bem humorado) pode ser encontrado num livro sui generis intitulado: O porco filósofo: 100 experiências de pensamento para a vida cotidiana. A experiência de pensamento que vem aqui ao encontro dessa passagem é um diálogo entre Deus e um filósofo, cujo título é O círculo quadrado. Vamos lá:


“E Deus falou para o filósofo:
- Eu sou o Senhor teu deus, e sou Todo-poderoso. Não há coisa alguma que você possa dizer que não possa ser feita. É fácil!
E o filósofo falou para o Senhor:
- OK, oh, poderoso. Transforme tudo que é azul em vermelho e tudo o que é vermelho em azul.
O Senhor disse:
- Que se faça a inversão de cores! - E a inversão de cores foi feita, deixando completamente confusos os porta-bandeiras da Polônia e de São Marino.
Então o filósofo falou ao Senhor:
- Se quer me impressionar, faça um círculo quadrado.
E o Senhor falou:
- Faça-se um círculo quadrado. - E foi feito.
Mas o filósofo protestou.
- Isso não é um círculo quadrado, isso é um quadrado.
O Senhor ficou com raiva.
- Se eu digo que é um círculo, é um círculo. Cuidado com essa sua impertinência, ou posso parti-lo em pedacinhos.
Mas o filósofo insistiu.
- Eu não pedi para mudar o significado da palavra ‘círculo’ só para que ela passasse a significar ‘quadrado’. Eu queria um verdadeiro círculo quadrado. Admita... isso é algo que não pode fazer.
O Senhor pensou um pouco, então resolveu responder lançando sua vingança poderosa sobre a cabeça do filósofo metido a esperto” (Baggini: 2006: 77).

Conforme explica o autor desse diálogo zombeteiro (e que, para alguns, certamente soará profano), “o problema com coisas como círculos quadrados é que são logicamente impossíveis. Como um círculo é por definição uma forma de um lado, e o quadrado de quatro, e uma forma de quatro lados e de um lado é uma contradição de base [eu diria contradição nos/dos ou em termos], então um círculo quadrado é uma contradição de base e é impossível em todos os mundos possíveis. A racionalidade exige isso. Então, se quisermos dizer que a onipotência de Deus significa que ele pode criar formas como quadrados redondos”, teremos necessariamente de dar “adeus à racionalidade” (Baggini: 2006: 78).

Referências das obras aqui citadas:
HUME. Uma Investigação Sobre o Entendimento Humano (IEH). Tradução de José Oscar de Almeida Marques. São Paulo: Unesp, 1999. HUME. Tratado da Natureza Humana (TNH). Tradução de Déborah Danowski. São Paulo: Unesp, 2001. BAGGINI, Julian. O porco filósofo: 100 experiências de pensamento para a vida cotidiana. Tradução de Edmundo Barreiros. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2006. CHAGALL, Marc. Il cantico dei cantici IV (1958).

sexta-feira, janeiro 06, 2012

Diligência como um poder da alma


Sem querer ir muito fundo na questão (pois ela não caberia nesse tempinho que tenho agora, tampouco no espaço desse mero post), sempre que me debato com as dificuldades de levar a cabo a árdua tarefa de concluir minha tese, lembro de uma passagem em que Philo (o personagem cético dos Diálogos de Hume), ao discorrer sobre as quatro circunstâncias das quais “dependem todos ou a maior parte dos males que afligem as criaturas sensíveis” (D 11 §§ 5-13: 107: 113), afirma que, para remediar esses males, ele não exigiria que os seres humanos possuíssem as asas da águia, a velocidade do cervo, a força do boi, as garras do leão, a couraça do crocodilo ou do rinoceronte; e muito menos a sabedoria de um anjo ou querubim. Ele diz que ficaria contente em escolher a intensificação de um único poder ou faculdade de suas almas, ou seja, uma maior propensão para a operosidade e o trabalho, uma motivação e atividade mental mais vigorosa, e uma inclinação mais constante para o desempenho e a concentração (D 11 § 10: 110).

Caramba! Eu também ficaria bem contente. Sinto que o maior demônio da produção acadêmica é a inclinação natural à dispersão da mente (motivos não nos faltam), e que um poder maior de concentração seria uma verdadeira dádiva para as mentes daqueles que se encontram diante da necessidade de realizar tal tarefa.

[Hume, David. Dialogues Concerning Natural Religion. Edited by J. C. A. Gaskin. New York. Oxford University Press, 2008]

quinta-feira, dezembro 15, 2011

Incita-me


"É a sua vez, agora, de empunhar este pesado remo e esforçar-se para defender suas sutilezas filosóficas contra os ditames da simples razão e experiência" (D X # 37, p.42)


(Hume. Diálogos sobre a Religião Natural. Tradução de José Oscar de Almeida Marques. São Paulo: Martins Fontes, 1992).

[imagem: Monet. Rock Arch West of Etretat - The Manneport (1883)

quarta-feira, novembro 23, 2011

A debilidade, cegueira e estreiteza da razão humana


Putz... tá difícil! 
Penso, estudo, penso, penso, estudo, penso, e o máximo que consigo produzir são dúvidas, incertezas e infindáveis contradições...

[inspirada em Hume, David | Dialogues Concerning Natural Religion | Edited by J. C. A. Gaskin | New York | Oxford University Press | 2008]

O Pensador | Auguste Rodin | 1840-1917 ]


quarta-feira, março 16, 2011

Impressões, ideias e desculpas esfarrapadas

Bom, se me restam alguns leitores (ou leitoras) depois de tanto tempo de abandono, devo-lhes dizer:

Caros leitores, tenho um milhão de desculpas (a maioria bem ruinzinha) por tê-los abandonado. Sendo assim, em vez de ficar aqui apresentando desculpas esfarrapadas, vou tentar (sem garantia de conseguir) oferecer uma (e apenas uma) justificativa que seja boa para toda essa minha ausência.

É comum ouvirmos dizer que todo aquele que escreve e publica o que escreve (ou que faz da escrita o seu ofício), volta e meia passa por um período de bloqueio mental, uma espécie de paralisia imaginativa, infertilidade criativa, ou esterilidade de ideias. Mas todo esse tempo que fiquei afastada, que deixei de escrever aqui, não foi por conta de um período de bloqueio mental, pois minha mente continuou a trabalhar, e muito, com coisas que prestam, e um pouco também com coisas que não prestam. Quero dizer, minha mente pensou esse tempo todo (ainda que tenha pensado muitas bobagens).

Tampouco minha imaginação se encontrou paralisada, estéril ou vazia de ideias, pois, se Hume estiver certo quanto às nossas ideias serem cópias de impressões, minha mente está sempre repleta delas e nunca propriamente vazia. Isso porque eu sou (e todo eu seria) um feixe de diversas percepções, quer dizer, minha mente ou meu pensamento seria, digamos assim, um palco no qual se sucedem muitas ideias que, por sua vez, são cópias de minhas diversas impressões. Cada parte minha, cada sentido, cada poro meu está o tempo todo recebendo impressões, lendo e percebendo o mundo, isto é, formando ideias.

Nesse caso, acho que posso dizer que formei muitas ideias todo esse tempo (mas, ironicamente, não escrevi aqui nenhuma). Por quê? Por que não tive vontade? Não! Eu tive! Talvez uma vontade débil, mas tive. Por que então? O que me impediu? Preguiça? Essa é uma boa hipótese! Excesso de trabalho? Falta de tempo? Essas não me parecem muito boas! Dispersão pura? Essa certamente contribuiu bastante! Falta de coragem? Talvez! Escrever, emitir opiniões, torná-las públicas, requer coragem. Tática? Não creio! Tática para quê? Só se for para perder leitores (rsr). Obstáculo emocional? Humm... num certo sentido sim! Às vezes meu coração trava. Sim, eu escrevo com a cabeça, com a mente, com o cérebro, mas escrevo com o coração também (e os dedos, of course). What else? Faltou impulso, ímpeto, disposição? Sim, faltou! Viajou? Yes, viajei!


quarta-feira, março 09, 2011

Em comemoração aos 300 anos de David Hume

Grupo Hume convida para as conferências abaixo, dando início a uma série de atividades em comemoração aos 300 anos do nascimento de Hume:

"Rethinking Hume's Second Thoughts about Personal Identity"
Don Garrett (New York University)
10 de março, às 10:00, na sala 4090 - FAFICH/UFMG

"Humean Contractarianism"
Geoffrey Sayre-McCord (University of North Carolina at Chapel Hill)
11 de março, às 10:00, na sala 4090 - FAFICH/UFMG

Informações:

Não será necessária inscrição antecipada
Disponibilizaremos certificados aos presentes

quinta-feira, fevereiro 17, 2011

III Encontro Hume

CHAMADA DE TRABALHOS PARA O III ENCONTRO HUME


A Comissão Organizadora do III Encontro Hume convida os alunos de pós-graduação e pesquisadores da filosofia de Hume à submissão de trabalhos. O encontro será realizado entre os dias 11, 12 e 13 de maio de 2011 no campus da Unisinos, em São Leopoldo/RS. Os interessados deverão submeter um resumo de até 500 palavras em arquivo Word ou similar (fonte Arial, tamanho 12, espaço 1,5) para o e-mail: encontrohume@gmail.com . O título e o resumo deverão constar em página separada, com a devida identificação do problema e as linhas gerais do argumento que se pretende desenvolver. Na primeira página deverão constar os seguintes dados do proponente:

Nome completo;
Endereço eletrônico;
Endereço e telefone;
Título do trabalho;
Instituição de origem e titulação;
E realizar a inscrição no sítio www.unisinos.br/eventos/ , bem como o pagamento da taxa de inscrição (R$ 15,00).

A data limite para o envio dos resumos é 8 de abril de 2011 e o resultado será divulgado juntamente com a programação completa do evento no dia 6 de maio do corrente ano. A notificação sobre a aceitação de cada trabalho será enviada exclusivamente por e-mail a partir do dia 18 de abril de 2011. A aceitação do resumo possibilita ao proponente a apresentação oral de comunicação na data do evento, conforme programação a ser divulgada. O tempo para cada comunicação será de 20 min, com 10 min, para a discussão do trabalho. Após a realização do evento, haverá entrega de certificado para os apresentadores de comunicação e ouvintes devidamente inscritos.

COMISSÃO ORGANIZADORA

Andre Luiz Olivier da Silva (Unisinos)
Andrea Cachel (IFPR)
Anice Lima (UFMG)
Marília Côrtes de Ferraz (USP/FAPESP)
Carlos Lima (UFBA)
Thaís Cristina Cordeiro (UFPR)
Giovani Prezzi (Unisinos)

quinta-feira, setembro 30, 2010

Existência de Deus e Natureza Divina

RESUMO - ANPOF 2010
Águas de Lindoia - SP

[04/10/2010 - 08/10/2010]
Existência de Deus e Natureza Divina nos Diálogos sobre a Religião Natural de Hume: uma análise do argumento de Demea

Demea alega no início dos Diálogos sobre a Religião Natural (D) que não se discute entre pessoas razoáveis a existência de Deus, mas apenas a sua natureza.  Ele também sustenta que a existência de Deus é uma “verdade certa e auto-evidente” (D II: 27). Mas cabe perguntar: Demea se compromete ao longo dos Diálogos com a alegada verdade indubitável e auto-evidente? Acredito que não. Penso que o compromisso de Demea com o teísmo tradicional pode ser considerado um compromisso forte. Mas esse compromisso não deixa de ser afetado pela confusão de Demea entre argumentos a priori e a posteriori, embora pareça não ser afetado pelo fideísmo místico da existência de Deus como uma “verdade certa e auto-evidente”. Entendo que essa intervenção inicial de Demea, bem como de algumas outras declarações que parecem isoladas (conforme tentarei mostrar nesta comunicação), tem mais valor retórico do que propriamente argumentativo. Ademais, quanto à sua declaração (e também a de Fílon) de que a existência de Deus não está em questão, mas apenas a sua natureza, salta aos olhos que os Diálogos versam não só sobre a natureza de Deus, mas também sobre a sua existência. Tudo bem que os três personagens se apresentem de acordo quanto à proposição de que Deus existe. Mas se a existência de Deus fosse, de fato, uma “verdade certa e auto-evidente”, penso que não haveria tanta dificuldade, tampouco tanta discordância assim, nem seria necessário apresentar complexos argumentos e uma prova em favor dela. Nós a tomaríamos facilmente como certa e auto-evidente e discutiríamos apenas a sua natureza. Todavia, para que a discussão sobre a natureza divina faça sentido, é necessário assentar, com base em bons argumentos, a sua existência. E tanto Cleantes quanto Demea se esforçam para estabelecer as bases da existência divina confrontando as provas e argumentos que cada um julga mais apropriados a ela. O principal argumento de Demea a favor da existência de Deus pode ser assim resumido: a determinação da existência de algo somente pode ser pensada ou a partir do acaso, ou do nada, (ou, ainda, de uma causa que exista por si). Mas é absolutamente impossível que alguma coisa produza a si mesma ou seja causa de sua própria existência. O acaso (no sentido de ausência de causa, bem entendido) é uma palavra sem significado (cf. D IX: 119). Do nada, não pode ser, pois o nada não produz coisa alguma. Logo, um efeito singular deve ter sua causa última remetida à noção de um Ser necessariamente existente. Apenas um ser necessariamente existente pode trazer consigo a razão de sua existência e permitir, assim, que se torne significativa toda a sucessão de causas e efeitos particulares (cf. D IX: 119). Isto considerado, a comunicação tem como objetivo a descompactação deste argumento e o exame das críticas que Cleantes e Fílon fazem a ele, bem como de outras possíveis críticas às alegações em favor da existência de Deus sustentadas por Demea.

segunda-feira, julho 26, 2010

IV Colóquio Hume - UFMG



Entre os dias 03 e 06 de Agosto de 2010
acontecerá em Belo Horizonte, na UFMG, o IV Colóquio Hume

O Evento é promovido pelo GRUPO HUME UFMG/CNPq e pelo Programa de Pós Graduação em Filosofia da UFMG.

E eu não vou deixar de estar lá!
Eis a programação:

03 de Agosto – Terça-Feira
14:00 Inscrições
14:30 Abertura
Jorge Alexandre Barbosa Neves (Diretor da FAFICH)

15:00 -16:15 William Edward Morris (Illinois Wesleyan)
Hume’s Project in the Dialogues

16:15 Café
16:30 - 17:30 Marília Côrtes (USP/FAPESP)
O argumento evidencial do mal nos Diálogos de Hume

17:30 - 18:00 Matheus Batista dos Reis
Uma análise sobre os argumentos de Thomas Reid contra a via das ideias

18:00 - 18:15 Intervalo
18:15 - 19:30 Sara Albieri
A ser definido

04 de Agosto – Quarta-Feira
10:00 - 11:15 Charlotte Brown (Illinois Wesleyan)
Hume Against the Selfish Schools

11:15 - 11:30 Intervalo
11:30 - 12:45 André Klaudat (UFRGS)
Hume sobre prazer e valor e o desafio Kantiano

14:30 - 15:45 Adriano Naves de Brito (UNISINOS)
Hume and the Naturalization of Morality: apropos Values

15:45 - 16:00 Café
16:00 - 17:15 Leonardo de Mello Ribeiro
Um argumento do regresso humeano?

17:15 - 17:30 Intervalo
17:30 - 18:15 Renato Lessa (UFF)
A ser definido

05 de Agosto – Quinta-Feira
10:00 - 11:15 José Oscar de Almeida Marques (UNICAMP)
Necessidade e contrafatualidade no tratamento humeano da causação

11:15 - 11:30 Intervalo
11:30 - 12:45 Andrea Cachel (IFPR)
O padrão do gosto em Hume e a questão da regulação da crença pelo Juízo

12:45 - 14.30 Isabel Limongi (UFPR)
Notas sobre direito e política em Hume

14:30 - 15:00 Café
15:00 - 16:15 Cesar Kiraly
O suicídio como forma política e social no ceticismo de Hume

16:15 - 16:30 Intervalo
16:30 - 17:45 Marcos Balieiro
A ser definido

17:45 - 18:00 Intervalo
18:00 - 19:15 João Carlos Salles (UFBA)
Naturalismo e Filosofia em Hume

06 de Agosto – Sexta-Feira
10:00 - 11:15 David Owen (Arizona)
A ser definido

11:15 - 11:30 Intervalo
11:30 - 12:45 Lívia Guimarães
Hume and Feminism

12:45 - 14:30 Almoço
14:30 - 15.30 Anice Lima
Novos estudos humeanos: uma leitura

15:30 - 16:00 Café
16:00 - 17:15 João Paulo Monteiro (Universidade Nova de Lisboa)
Doubts about Induction

Maiores informações: http://www.grupohume.blogspot.com/

Apoio: Programa de Pós Graduação em Filosofia da UFMG; CAPES, FAPEMIG, PAIE, FAFICH

sexta-feira, abril 09, 2010

Teologia e Antropomorfismo

Eis o resumo da minha comunicação para o  II Encontro Hume que acontecerá entre os dias 19 e 21 de maio de 2010 na UFPr.

Teologia e antropomorfismo nos Diálogos sobre a Religião Natural de Hume

De acordo Demea, a defesa do argumento do desígnio, levada a cabo por Cleantes, carrega consigo o antropomorfismo e, por essa razão, seria possível afirmar a sua improcedência. Para Demea, “ao representarmos a Divindade como sendo tão inteligível e compreensível, e tão similar à mente humana, tornamo-nos culpados da mais grosseira e tacanha parcialidade e nos arvoramos em modelo de todo o Universo” (D III §12: 53). Ao procedermos assim, ilegitimamente inferiorizamos a divindade e elevamos os atributos humanos. Demea argumenta em favor de que todos os materiais do pensamento são provenientes somente de duas fontes: sentidos internos e sentidos externos, os quais compõem toda a bagagem do entendimento humano (D III §13: 54). Sendo assim, os materiais do nosso pensamento não se assemelham em aspecto algum a inteligências tão distintas e distantes como as que separam as inteligências humanas da inteligência divina. Na visão de Demea, “a debilidade de nossa natureza não nos permite apreender quaisquer ideias que tenham a mínima correspondência com a inefável grandiosidade dos atributos divinos” (D III §13: 55). Por conseguinte, não podemos dizer que Deus raciocina como nós, visto que nossos pensamentos são fugazes, vacilantes e incertos. Nossos padrões de verdadeiro ou falso não se aplicam aos juízos que fazemos sobre os atributos divinos. Sendo assim, não podemos descrever Deus com as mesmas palavras que usamos para falar de criaturas tão limitadas e corruptas como os seres humanos. Ora, que opções teríamos, então? Como pensar ou falar sobre Deus? Isto considerado, minha comunicação se concentrará na crítica de Demea ao antropomorfismo empreendida nos Diálogos, não obstante eu esteja ciente de que na História Natural da Religião podemos encontrar consideráveis desenvolvimentos acerca do tema. Essa restrição aos Diálogos se justifica em virtude de meu propósito. Pretendo discutir o papel que a crítica ao antropomorfismo desempenha na discussão sobre a validade do argumento do desígnio promovida nos Diálogos. Convém esclarecer que discutirei este ponto tomando como referência a participação do personagem Demea, embora a expectativa comum fosse, talvez, tomar como referência o personagem Fílon. Nesse caso, minha pretensão é dupla, pois viso não somente discutir o antropomorfismo nos Diálogos, mas também dar voz a Demea procurando trazer à superfície sua importância como personagem dos Diálogos.

terça-feira, abril 06, 2010

Programação do II Encontro Hume - UFPr

II Encontro Hume

19 de maio
14:00 - 15:00: Abertura - Isabel Limongi (UFPR)
Hume e o caráter histórico da justiça
15:00 - 15:30: Intervalo
15:30 - 16:00: Giovani Prezzi (UNISINOS)
Hume contra o egoísmo moral
16:00 - 16:30: André Olivier da Silva (UNISINOS)
Vontade e determinismo moral em Hume
16:30 - 17:00: Andreh Sabino Ribeiro (UFCE)
O composto força-direção da moralidade: sentimento e razão na teoria mental e social de Hume
17:00 - 17:30: Rogério Mascarenhas (UFBA)
O estatuto da imaginação na Teoria das Paixões de Hume
17:30 - 18:00: Debate

20 de maio
09:00 - 10:00 José Oscar de Almeida Marques (UNICAMP)
Princípio de razão suficiente e princípio de uniformidade na teoria humeana da causalidade
10:00 - 10:30: Intervalo
10:30 - 11:00 Cesar Kiraly (UFRJ)
A forma suicidária do pensamento em Montaigne e Hume
11:00 - 11:30: Hugo Viçoso (UFMG)
A filosofia como um antídoto para a superstição em Hume
11:30 - 12:00: Debate
12:00 - 14:00: Almoço
14:00 - 15:00: Eduardo Barra (UFPR)
Filosófica & Natural: a dupla identidade da causalidade no Tratato de Hume
15:00 -15:30: Intervalo
15:30 - 16:00 Andrea Cachel (IFPR)
Regras Gerais do Juízo na Investigação
16:00 - 16:30 Gustavo Oliveira Fernandes (UFSCar)
O estatuto da geometria e as ideias abstratas no Tratado da Natureza Humana
16:30 - 17:00 Matheus Batista dos Reis (UFMG)
Uma análise sobre os argumentos de Thomas Reid contra a “via das ideias”
17:00 - 17:30 Carlos Lima (UFBA)
Do Gosto em David Hume
17:30 - 18:00 Debate

21 de maio
14:00 - 14:30: Bruno Pettersen (UFMG)
As Vozes de Hume
15:00 - 15:30 Anice Lima de Araújo (UFMG)
Hume e o Ceticismo
15:30 - 16:00 Debate
16:00 - 16:30 Intervalo
16:30 - 17:30: Encerramento - Lívia Guimarães (UFMG)
Artifício e natureza no pensamento de Hume 

quarta-feira, março 17, 2010

From Hume to Kant: Towards a Semantic Interpretation of the Transcendental Analytic

Workshop
From Hume to Kant:
Towards a Semantic Interpretation of the Transcendental Analytic
Universidade Estadual de Campinas
3 a 6 de maio de 2010

Realização:
Departamento de Filosofia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas - UNICAMP
Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência - UNICAMP
Programa de Pós-Graduação em Filosofia – IFCH-UNICAMP
Seção de Campinas da Sociedade Kant Brasileira
GT/GP Criticismo e Semântica da ANPOF


Participantes confirmados:
Andrea Luisa Bucchile Faggion (UEM/UNICAMP)
Daniel Omar Perez (PUC-PR)
Eduardo Salles de Oliveira Barra (UFPR)
José Oscar de Almeida Marques (UNICAMP)
Júlio César Ramos Esteves (UENF)
Orlando Bruno Linhares (Universidade Mackenzie)
Robert Hanna (University of Colorado)
Zeljko Loparic (UNICAMP)

Chamada de trabalhos:
Os trabalhos, em extensão apropriada para uma comunicação de 30 minutos, devem ser enviados na íntegra para o endereço eletrônico andreafaggion@yahoo.com.br até o dia 31 de março de 2010. As propostas devem versar sobre as obras de Hume e/ou Kant. Os textos devem conter: título, nome do autor (e do orientador, quando for o caso), instituição, endereço eletrônico do autor, resumo, palavras-chave, desenvolvimento e referêncisa bibliográficas, sendo digitados em formato A4, espaço 1,5, fonte Times New Roman, 12. É desejável que haja também uma versão do texto em língua inglesa e será dada preferência aos autores que a providenciarem.

Observação: Embora a chamada de trabalhos solicite o texto completo serão aceitos também apenas os resumos.

segunda-feira, março 15, 2010

II Encontro Hume



O Encontro Hume visa a consolidar o campo da reflexão filosófica e o estudo da filosofia de David Hume no âmbito dos estudantes de graduação, mestrado e doutorado. O I Encontro aconteceu em Outubro de 2009 no IUPERJ e contou com a apresentação de 18 trabalhos de estudantes de diversos estados, entre os quais São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Fortaleza, Paraná, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, além dos professores Renato Lessa e César Kiraly (IUPERJ), Lívia Guimarães (UFMG) e Paulo Tunhas (Universidade do Porto, Portugal).

O II Encontro Hume acontecerá nos dias 19, 20 e 21 de maio de 2010 na UFPR em Curitiba. Os palestrantes convidados são: Eduardo Barra (UFPR), Isabel Limongi (UFPR), José Oscar de Almeida Marques (UNICAMP) e Lívia Guimarães (UFMG).

Haverá inscrições para apresentação de comunicações (graduandos, mestrandos e doutorandos) e para ouvintes. Para apresentar uma comunicação o proponente deverá enviá-la para o e-mail encontrohume@gmail.com juntamente com os seguintes dados:

• Nome
• E-mail
• Endereço e telefone
• Título do trabalho
• Resumo com no máximo 300 palavras
• Instituição de origem e titulação
• E realizar o pagamento da taxa de inscrição no valor de R$ 15,00

A data limite para o envio dos resumos é 30 de março de 2010 e o resultado será divulgado no dia 05 de abril. Os ouvintes deverão enviar os seguintes dados para o e-mail encontrohume@gmail.com

• Nome
• Email
• Endereço e telefone
• E realizar o pagamento da taxa de inscrição no valor de R$ 15,00.

O pagamento da inscrição deverá ser feito através de depósito bancário na conta corrente de Anice Lima de Araújo: nº 10948-7, Agência nº 3610-2 (Banco do Brasil) O comprovante deverá ser enviado para o email encontrohume@gmail.com (sugerimos scanner, foto ou o comprovante emitido pelo banco on-line) até o dia 30 de março. Haverá entrega de certificado para os apresentadores de comunicação e ouvintes devidamente inscritos.

Organização:

André Olivier (UNISINOS)
Andrea Cachel (IFPR)
Anice Lima (UFMG)
Marcos Balieiro (USP)
Marília Côrtes (USP/FAPESP)
Rogério Mascarenhas (UFBA)

Promoção: UFPR

quinta-feira, fevereiro 25, 2010

Resenha: Hume e a Epistemologia

Eis-me aqui para comunicar que já há algum tempo (final de 2009) foi publicada na Princípios Revista de Filosofia da UFRN (volume 16, número 25), uma resenha de minha autoria do livro Hume e a Epistemologia, de João Paulo Monteiro. Para acessá-la  é só clicar no link acima.