Entra, amor, comigo na escuridão?
No vão onde hei eu de encerrar-me,o vão onde encerrados os meus flancos
e extinta a tua carne – ah maciez, ah invólucro.
Vens comigo ao longo despautério?
Vem, amor, jaze comigo sobre a terra,
deixa que o líquido doce do teu corpo
se misture ao meu líquido. Vens?
Convido-te ao desmonte, homem.
Convido-te à devastação – mas teus olhos…
Não, não teus olhos, não aqueles que
entrefechaste quando enfim te conheci.
Atravessa, amor, comigo estes umbrais.
Anoitece comigo e eu contigo me desfaço
e te desfazes comigo e desfazemo-nos
unos, perdidos, destituídos – mas juntos.
Decide, não há tempo. Deita comigo sobre
a umidez da terra? Abraça-me enquanto
ainda braços tens? Abre, amor, os teus umbrais
enquanto ainda resiste o meu tendão.
Sei que amargo, amor, é meu convite.
Mas vem, quero as folhas do teu coração
sucumbindo enquanto eu ardo e sucumbo
contigo e sucumbimos unos, indistintos.
Vem, que o teu desfazer-se é o meu,
que o meu desenfeixar-me é o teu
e somos um só feixe, amor, jungidos
à mesma sorte, morte, aniquilação. Vem.
[by Ygor Raduy]
[White Gauze | 1984 | by Robert Mapplethorpe]
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