Eis abaixo mais um
belíssimo texto [and painting] do meu querido e talentoso amigo Ygor Raduy. Quando o li,
senti como se suas palavras fossem arrancadas de meu próprio peito. Não
resisti a'
O AMOR INTEIRO
Amo-te inteiro, com
corpo, alma, ligamentos. Amo-te sem controle, inevitável. Estás em mim, como o
sangue flui em mim, corrente. Amo-te inteiro, até as profundezas, e sempre.
Amo-te completo e irrevogável – e és a peste em mim adormecida, és o incêndio,
a floração de tudo. E só quando estás presente estou presente; só quando
estás alegre estou alegre; só quando respiras eu respiro. Amo-te às pressas,
urgente. És o alento e a força – embora de nada desconfies. És a festa
onde meus olhos brincam, o abismo onde a minha carne cai. Eu perco o coração,
mas vou a ti com alegria. E embora o teu silêncio me aferroe, vou a ti. Vou a
ti, embora nada indique que venhas a mim; vou a ti, sem que jamais teu braço se
mova em minha direção. Pois amo-te inteiro. E algo em mim insiste que és o
único norte – algo em mim resiste e diz: “ama-o inteiro, com corpo, alma,
ligamentos”. E vou, obedeço, como quem vai ao mundo, já que aos meus olhos és o
próprio mundo. Se porventura de existir desistires, tudo desiste, tudo
cai, a luz declina, flores murcham, tudo é vulto. E eu não posso perder nem um
minuto teu, nem um sorriso teu posso perder, preciso de cada palavra, de cada
gesto teu, de cada respiração. Pois amo-te inteiro, até os subterrâneos. E cada
minuto sem ti é um minuto perdido. Cada passo, um passo em falso. Se estás
ausente, agonizo; se estás presente, gozo. E me perco de mim, e erro e lamento
e apago as luzes e choro pelos cantos. Mas se vens, a alma minha em festa,
bandeiras hasteadas, coro de vozes exultantes, luz. Pois amo-te inteiro, com o
corpo, com a alma, com os ligamentos.
words, Wörter, blood, Blut 2 | painting | ygor raduy
Não partas com teu reflexo/
Deixa-o espelhado em meu peito.
F. Garcia Lorca
[texto originalmente publicado em
7 comentários:
Não partas com teu reflexo
Deixa-o espelhado em meu peito
Entre mim e os mortos
Tenho um muro de pesadelos
A noite inteira, correndo
os marmelos de veneno
A névoa cobre em silêncio
teu corpo, vale cinzento
[ Lorca | "Da lembrança do amor"| Gazel VII | Divã do Tamarit | trechos ]
Tua lembrança não leves.
Deixa-a sozinha em meu peito,
[...]
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