"Ela tentou permanecer calma, deixar as coisas acontecerem, e
procurou concentrar-se muito neste argumento de natureza racional: 'Com certeza,
se houver uma afeição constante, nossos corações não tardarão a se compreender.'”
(Anne Elliot, in Persuasão, de Jane Austin, p.261)
[photo by Uwe Steger]
5 comentários:
Ao adrentarmos a terceira idade nos tornamos melancólicos.
Caro anônimo (a)
Creio que num certo sentido você tem razão, embora eu não possa falar ainda com conhecimento de causa, uma vez que ainda não cheguei lá (terei de percorrer mais alguns anos).
Não atribuo a melancolia a um estado que decorre necessariamente da proximidade da tal terceira idade (qualificação que, desculpe-me dizer, acho de um tremendo mau gosto para a velhice). Mas sim a um estado de espírito comum às pessoas mais sensíveis e profundas, tal como já me pronunciei aqui mesmo no blog numa postagem intitulada “Sob a pena da morte”. Se tiver curiosidade, pode acessá-la no link http://mariliacortes.blogspot.com.br/2009/01/sob-pena-da-morte.html
Além disso, no caso dessa passagem de Jane Austin, em Persuasão, trata-se da personagem Anne Elliot (protagonista), tentando se persuadir (por meio de um argumento de ordem racional, como ela mesma diz), a ficar calma ao encontrar com o capitão Frederick Wentworth (o verdadeiro amor da vida dela) numa situação em que muitas coisas deveriam ser esclarecidas e acontecer para que não se perdessem novamente.
Apaixonaram-se quando jovenzinhos, mas foram impedidos de se casar. Anne teve de recusá-lo (o romance é ambientado no início do século XIX). A reaproximação, 8 anos depois, era delicada e difícil (ele era um homem muito magoado e também orgulhoso, mas dono de um caráter elevado, firme e constante).
Anne é bastante jovem, mas dona de uma argúcia sem igual para avaliar e perceber o caráter das pessoas que a cercavam, quer dizer, ela considerava o valor das pessoas pela qualidade do caráter que elas tinham ─ esse era o alvo principal de suas observações.
Diante da surpresa de ver chegar o capitão, Anne fica naturalmente ansiosa, tem medo de não conseguir conversar com ele, esclarecer o que precisa ser esclarecido, mas procura ficar calma e firmar sua convicção de que quando há uma afeição constante (que é o que caracteriza o amor verdadeiro) os corações daqueles que se amam não tardarão a se compreender.
Nessa passagem, ela se persuade a ter paciência e esperar, revelando, ao mesmo tempo, possuir a bem conhecida esperança de qualquer ser que ama e que, portanto, espera, um dia, se entender com o ser amado. Uma esperança que corre mais viva nas veias daquele que ama e sente também que ainda é amado.
Como você pode ver, se há alguma melancolia aqui (o que não vejo propriamente, a não ser na imagem da mulher andando pensativa e solitária na neblina), ela nada tem a ver com a velhice. Mas concordo com você que a velhice pode, em muitos casos, favorecer a melancolia.
Obrigada pela visita e comentário.
Parabéns Prof.Marília Ferraz! É por isso que a admiro há anos: pelo belos textos e pelos extraordinários argumentos, sem dizer na grande mestre que tu és!
tks rs... não precisa exagerar...
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