Num desses felizes encontros casuais me deparei, ao entrar na USP, com uma mesa cheia de livros de filosofia expostos ali para vender. Uma tentação para quem gosta. Não resisti. Parei, toquei alguns, passei os olhos por aqui, por ali, respirei fundo (para sentir o cheiro daqueles livros novinhos), abri um, li partes, abri outros, devorei trechos, pensei: compro-ou-não-compro? Calculei os custos e benefícios e, controlada, comprei dois: um, dentre tantos que necessito: A Política de Aristóteles; e outro, que não conhecia, mas que me despertou uma curiosidade gostosa: o Discours sur le bonheur, de Madame Du Châtelet.
Quem seria essa mulher que escrevia, em meio a toda profusão grafomórfica sobre o assunto (muitos tratados, ensaios, cartas, poesias, teorias e teses sobre a felicidade já foram escritos) esse pequeno Discurso sobre a Felicidade - um tema que interessa a qualquer ser humano digno de assim ser chamado?
Penso que todos haverão de concordar com a máxima de que “todos os homens desejam ser feliz” e que, por isso, todos, de uma maneira ou de outra, buscam a felicidade. Porém, nem todos concordariam, como disse Aristóteles, quanto ao que seja a felicidade (EN I 1095a 20) e quais os meios para alcançá-la. Mas é notável que a idéia de felicidade reúne elementos comuns (e universais) facilmente aceitáveis para qualquer cabeça pensante (que pense minimamente bem, é claro!).
Por exemplo: a maioria das pessoas concordaria que a felicidade é um bem desejável, aliás, lembremos novamente Aristóteles, o bem mais desejável de todos (EN I 1097b 15), e que ela tem relação com ações, paixões, prazeres e dores, virtudes e vícios. Não são poucos os exemplos disso encontrados nas diversas obras sobre o tema.
Um exemplo dessa relação nos oferece Epicuro em sua Carta sobre a felicidade (a Meneceu): “De todas essas coisas, a prudência é o princípio e o supremo bem, razão pela qual ela é mais preciosa do que a própria filosofia; é dela que originaram todas as demais virtudes; é ela que nos ensina que não existe vida feliz sem prudência, beleza e justiça, e que não existe prudência, beleza e justiça sem felicidade. Porque as virtudes estão intimamente ligadas à felicidade, e a felicidade é inseparável delas”(p. 45-46).
Bom, o Discours sur le bonheur de Émilie du Châtelet [1706-1749] despertou minha curiosidade não só pelo tema (já que eu também persigo a felicidade, como todo e qualquer mortal comum), mas também porque foi escrito por uma mulher. E, pasmem, uma mulher do século XVIII, tempo em que a atividade filosófica era, raríssimas exceções, reservada aos homens.
Abri e avidamente devorei aquele livrinho: uma nova personagem da literatura filosófica francesa do século XVIII apresentava-se a mim, conhecida não só por sua personalidade e comportamentos inusitados para a época, mas também por sua erudição filosófica, literária e mesmo científica. Muito se tem a dizer sobre a vida e escritos dessa mulher que não caberia aqui nesse pequeno espaço. Por isso, limito-me a tecer apenas alguns comentários.
Segundo Elisabeth Badinter, que escreve um pequeno prefácio à tradução da obra, a pergunta que se coloca nesse pequeno discurso é: “como ser feliz neste mundo e, sobretudo, quando se trata de uma mulher que, apesar de excepcional, vê proibidas para si quase todas as ambições e glórias permitidas aos homens?”
Como se essas questões já não fossem suficientemente interessantes, é digno de nota que Du Châtelet estudou obstinadamente matemática, física e metafísica e foi considerada “a mais consistente e completa das ‘eruditas’ de sua época”, reconhecida (a contragosto de muitos) pelo mundo científico. Ademais, era uma amante (e notem, por favor, não uma esposa) apaixonada por ninguém mais ninguém menos do que Voltaire. Nesse sentido, deu o que falar, pois não só separou-se do marido e viveu por alguns anos um romance com Voltaire, como também, ao separar-se deste, alguns anos depois, “perdeu a cabeça” novamente por um jovem oficial da corte de Lorena chamado Saint-Lambert, dez anos mais novo do que ela, provocando assim um escândalo na sociedade ao engravidar dele aos 41 anos de idade.
Bom, façamos um recorte do que aqui interessa agora ser comentado, ou seja, ao menos algumas fontes e detalhes que podem, segundo Émilie, contribuir para a nossa felicidade.
Madame Du Châtelet diz que “devemos começar por nos dizer – e nos convencermos disso – que nada temos a fazer nesse mundo a não ser nos proporcionar sensações e sentimentos agradáveis. Os moralistas que dizem aos homens: reprimam suas paixões e controlem seus desejos se quiserem ser felizes, não conhecem o caminho da felicidade. Só se é feliz com os gostos e paixões satisfeitos; digo gostos, porque nem sempre se é suficientemente feliz com as paixões, e, na ausência de paixões, é preciso contentar-se com os gostos. Deveríamos, portanto, pedir paixões a Deus, caso ousássemos pedir-lhe algo” (pp. 4-5).
Curioso isso, pois vocês leitores não perguntarão a ela se as paixões não nos fazem mais infelizes do que felizes? Ça dépend, eu diria: é preciso qualificar as paixões. Émilie considera as paixões que contribuem para a nossa felicidade (as chamadas paixões virtuosas) e as que nos arrastam à infelicidade (paixões viciosas). Além disso, afirma : “... quanto menos nossa felicidade depende dos outros, mais nos é fácil ser feliz” (p.20). Nesse sentido, uma das paixões que Émilie considera virtuosa e menos dependente dos outros é a paixão pelo estudo:
“... por essa razão de independência, o amor pelo estudo é, de todas as paixões, a que mais contribui para nossa felicidade. No amor pelo estudo encontra-se encerrada uma paixão da qual uma alma elevada jamais é inteiramente isenta, a da glória; para a metade das pessoas, existe apenas essa maneira de conquistá-la, e a essa metade justamente a educação arrebata os meios de alcançá-la, tornando-lhe a fruição impossível” (p. 21).
É claro que essa paixão específica não captura a todos. É preciso ter inclinação para ela. Mas Du Châtelet observa que “o amor pelo estudo é menos necessário à felicidade dos homens que à das mulheres”. Ora, por quê? Primeiro é preciso lembrar que estamos no contexto do século XVIII, época em que as mulheres tinham poucos, digamos assim, instrumentos para alcançar a felicidade. Às “mal-nascidas” ou desprovidas de nobreza e riquezas, restavam-lhes o casamento, filhos e afazeres domésticos. E se a sorte não colocasse em sua vida um bom (pra não dizer excelente) casamento (e aqui não é fácil determinar o que significa um excelente casamento) e bons filhos, aí é que a felicidade tornar-se-ia mesmo impraticável. Já “os homens têm uma infinidade de recursos, que faltam inteiramente às mulheres, para serem felizes” (p. 21).
Certamente podemos empregar os verbos dessa última frase no passado, pois hoje, em pleno século XXI, as coisas não são mais assim. Atualmente a mulher conquistou muito do espaço que antes era reservado apenas aos homens. Aliás, permitam-me que eu me divirta um pouco rsrs, podemos constatar que, numa proporção sem precedentes, muitas mulheres superam em muito muitos homens (hehe, está aí Andrea Faggion que não me deixa mentir).
Mas voltemos ao século XVIII. Nessa época, os homens tinham muitos outros meios de se chegar à glória (uma paixão reconhecidamente das mais desejáveis). Eles podiam “tornar seus talentos úteis a seu país e servir seus concidadãos, por sua habilidade na arte da guerra, ou por talentos para o governo, ou ainda pelas negociações” - ambições, segundo Du Châtelet, “bem acima da glória que é possível se propor pelo estudo”. Já as mulheres eram “excluídas por sua condição, de qualquer espécie de glória”, mas quando, por acaso, se encontrava alguma que havia nascido com a alma elevada, só lhe restava o estudo para consolá-la de todas as exclusões e de todas as dependências às quais ela se encontrava condenada por condição (cf: p. 22). Era o caso dela.
É engraçado que esse quadro mudou muito, no sentido que indiquei acima, ou seja, de que as circunstâncias em que as mulheres vivem hoje já não limitam tanto os meios que elas têm de alcançar a felicidade. Mas nem por isso o amor ao estudo (válido evidentemente para aquelas que têm uma inclinação natural a ele) deixou de ser “um recurso seguro contra as desventuras” [...] “uma fonte inesgotável de prazeres” (p. 23-24). E nisso eu concordo com ela, embora eu pense também que o estudo (ou o conhecimento) contribui para que nos dispamos de muitas ilusões, um outro elemento que curiosamente Madame Du Châtelet afirma ser necessário para a felicidade.
Diz ela: “Para ser feliz é preciso desfazer-se dos preconceitos, ser virtuoso, gozar de boa saúde, ter gostos e paixões, ser suscetível de ilusões, pois devemos a maioria de nossos prazeres à ilusão, e infeliz de quem a perde. Em vez, portanto, de tentar fazê-la desaparecer com a chama da razão, tratemos de adensar o verniz com que ela reveste a maioria dos objetos; este é-lhe ainda mais necessário do que os cuidados e os adereços o são para nossos corpos” (p. 4).
É como se ela dissesse que certos objetos necessitassem de um verniz que escondesse suas imperfeições e misérias, um verniz que desse brilho e adornasse o que em si seria demasiadamente fosco e cru. Não sei se essa idéia cai bem à minha natureza, mas muitos dizem que, na medida do possível, quanto menos sabemos sobre a realidade das coisas, quanto mais ignorantes, mais facilmente somos felizes. Mas até onde sei, o estudo é um antídoto à ignorância e ilusão. Nesse caso, para não acusarmos Émilie de flagrante contradição, é preciso esclarecer o que ela entende por ilusão, pois, em geral, entende-se que a ilusão, se não se identifica com o erro, ao menos flerta com ele. Os filósofos vivem dizendo: ah... isso não passa de ilusão, associando-a ao erro. E Du Châtelet considera que “o erro jamais pode ser um bem, e certamente é um grande mal nas coisas de que depende a conduta da vida”(p. 11).
Émilie questiona se a ilusão é um erro e responde com um NÃO em alto e bom tom. Para ela, “a ilusão não nos faz ver os objetos inteiramente tal como devem ser para dar-nos sentimentos agradáveis”. O que a ilusão faz é acomodar os objetos à nossa natureza, tal como a ilusão de ótica que, embora não permita que vejamos os objetos tais como são, na verdade, não nos engana. A ótica nos faz ver os objetos “da maneira que é preciso que os vejamos para eles nos serem úteis” (pp. 15-16). Ops, como assim? Úteis? Acho que preciso de exemplos para entender isso.
Ela pergunta: “Por que razão eu rio mais do que ninguém no teatro de marionetes, senão porque me entrego mais do que qualquer outro à ilusão e, ao final de quinze minutos, acredito que é Polichinelo quem está falando? [...] que prazer teríamos com um outro espetáculo em que tudo é ilusão, caso não nos entregássemos a ele” (p.16)?
Bom, é verdade que se formos assistir a um espetáculo que se pretende ilusório (pois há aqueles que prezam o realismo), vestidos com uma armadura anti-ilusão, dizendo o tempo todo: bah, isso é pura ilusão! ele não atingirá seu fim, não cumprirá a sua função, não nos será útil, tampouco a nossa ida até lá. Nesse caso, parece-me que o que Émilie quer dizer é que a ilusão cumpre uma função na vida feliz. Qual seria essa função? Enganar-nos? Ora, mas o engano não é um erro? Não necessariamente. (Sinto que estou me enrolando rsrsr). Seria a de manter-nos acreditando que aquilo em que cremos é, sem dúvida, verdade mesmo? Ou, quem sabe, a de revestir, adornar ou adoçar a realidade amarga, nua e crua? Ich, percebam que dei voltas e acabei esbarrando no mesmo ponto.
Última tentativa de acomodar essa idéia. Recorro aqui à outra parte do Discours na qual Émilie fala de amor e ilusão.
“uma alma terna e sensível é feliz pelo simples prazer que experimenta amando; não quero dizer com isso que se possa ser perfeitamente feliz amando, conquanto não seja amado; mas digo que, embora nossas idéias de felicidade não se encontrem completamente ocupadas pelo amor do objeto que amamos, o prazer que sentimos em entregar-nos a toda a nossa ternura pode bastar para nos tornar felizes; e, caso essa alma tenha ainda a ventura de ser suscetível à ilusão, é impossível que não se acredite mais amada do que talvez o seja efetivamente; ela deve amar tanto, que ama por dois, e o calor de seu coração complementa o que realmente falta à sua felicidade” (p. 30).
Eis aí algo que não me desce bem novamente. De qualquer modo, vamos lá. Num certo momento do texto, Châtelet revela que foi feliz durante dez anos com o amor daquele que subjugara sua alma, mas que “quando a idade, as enfermidades e talvez também um pouco a facilidade do prazer reduziram-lhe o sabor” (p. 32), por um bom tempo não se apercebeu; amava por dois, e seu coração, isento de suspeita, usufruía o prazer de amar e a ilusão de se acreditar amada. Mas depois, perdeu essa condição “bem-aventurada”, claro, à custa de muitas lágrimas.
Percebo por que a idéia não me cai bem. Para que a ilusão possa valer como ingrediente de felicidade, é preciso que nunca a percamos, pois, uma vez perdida, adeus felicidade: quanto maior a felicidade ou o prazer que a ilusão nos proporciona, maior a dor e infelicidade ocasionada pela desilusão, pela perda daquilo que acreditávamos ser verdadeiro. Seria preciso, para conservar a felicidade, conservar a ilusão. Será que Émilie concordaria com isso? Talvez, ao menos é o que se depreende da seguinte passagem.
“Não sei, contudo, se alguma vez o amor já uniu duas pessoas feitas a tal ponto uma para a outra que jamais conheceram a saciedade do gozo, o arrefecimento motivado pela segurança, a índole e a insipidez geradas pela facilidade e pela continuidade de uma relação cuja ilusão jamais é destruída (pois onde ela entra mais do que no amor?) e cujo ardor, enfim, foi igual no deleite e na privação e pôde tolerar igualmente as desventuras e os prazeres” (grifo meu, p. 29).
5 comentários:
Marília, muito interessantes suas observações. Eu sou tão pé no chão... e perco as ilusões tão facilmente... Mas vamos conversar melhor acompanhadas de um cafezinho (rs). beijos
carina
Oi Ca, o ponto é mesmo interessante e difícil de precisar. Quantas colheres, xícaras ou gotas de ilusão você colocaria em sua receita de felicidade? Uma pitada, talvez? Sei não, melhor conversarmos acompanhadas de uma ou duas xícaras de caféxyz524hvj3código171 rsrsrs. bjos
Segue texto que coloquei no meu Blog.
Querida Marília
Primeiro, gostaria de dizer que achei belíssimo teu texto a respeito do Discurso sobre a felicidade de Émilie du Châtelet. E também gostaria de agradecer ao fato de você ter sido a responsável pela leitura que fiz do texto e pelo conhecimento que tive dessa senhora.
Diferentemente de você, tendo a simpatizar com a idéia da Marquesa sobre a relação entre felicidade e ilusão. Mas quero tentar ir além do que sugere a letra do texto. Tentarei pensar mais no “espírito” do texto. Vejamos. Ilusões de ótica são erros? Depende. Se pensarmos que nossos equipamentos biológicos responsáveis por nossa capacidade visual são por natureza deficientes, a ilusão de ótica deveria ser encarada como uma conseqüência inevitável de disfunções no sujeito observador. Esse sujeito observador, enquanto observa com suas imperfeitas capacidades visuais, objetivamente cai em erro diante de um observador hipotético dotado de capacidades visuais superiores, mas ele não está exatamente em erro do ponto de vista subjetivo. Ponto pacífico. Se afirmo que a noite faz um silencio absoluto, estou sendo conduzido pelos meus imperfeitos poderes auditivos, haja vista não poder captar muitos sons que escapam à limitada capacidade que tenho de escutar. Mas será um erro afirmar, do meu ponto de vista, que a noite está absolutamente silenciosa? Acho que não. Veja o caso de Deus. Afirmar que Deus existe é um erro ou uma ilusão? Parece-me apenas uma ilusão, muito mais do que um erro. Por quê? Porque ao afirmar que Deus existe – excluo aqui os fideistas, seres filosoficamente preguiçosos – estou supondo ser capaz de, com minha razão, chegar a alguma conclusão teísta ou deísta. Como é insolúvel a questão sobre se Deus existe ou não (admito isso sem discutir), afirmar que ele existe não poderá ser dito um erro (pode ser que ele exista). Parece-me muito mais uma ilusão. Mas talvez o caso de Deus seja menos ilustrativo da possível diferença entre erro e ilusão do que o caso da liberdade. Ninguém pode agir sem pressupor que depende de si, em algum sentido, fazer ou deixar de fazer o que ele faz ou se deixa de fazer. Do contrário, teríamos de sucumbir à completa inatividade. Mas não. Mesmo o fatalista não deixa de agir. Ele escolhe. Vamos supor que ele saiba ser impossível se livrar da ilusão de agir sob a idéia de liberdade, a qual ele teoricamente não aceita. Nesse caso, ele não decide se iludir com a liberdade que não acredita. Ele simplesmente não pode agir se não estiver mergulhado na ilusão da liberdade. Um mergulho que ele faz à revelia de qualquer deliberação.
Chego aqui a um ponto que me interessa e que já comentei contigo. O auto-engano. Esse curioso mecanismo, que quer se livrar de qualquer rédea que a lógica possa lhe impor, é constitutivo de nossa existência. Por exemplo, não somos sempre levados por uma deliberação à crença de que somos dotados de certas (boas) qualidades. Muitas vezes esse é um mecanismo inconsciente (nada a ver com o blábláblá freudiano) que garante nossa sobrevivência existencial. Um sujeito autoconfiante, crente que é um ser superior aos outros talvez não consiga fazer mais nada na vida se existisse um espelho da verdade para ele se olhar. Não se trata de não querer saber, mas do fato de que certos conhecimentos, certas realidades não terem lugar em determinados momentos ou mesmo em determinados cérebros.
O cérebro de um apaixonado, se lembrarmos Stendhal, acabará cristalizando o objeto de seu amor. Ora, a cristalização (cf. De l’amour) é um mecanismo de nosso espírito (cérebro) em que se projetam perfeições inexistentes no objeto de amor. E não se trata, como entendo, exatamente de pensar em todos os momentos que o amado ou a amada é um ser perfeito, mas de depositar nele(a) nossa esperança de felicidade, de crer que ele(a) promete felicidade. Ora, nenhum ser destituído de ilusão, poderá pensar que um outro ser possa lhe trazer felicidade. Que outro ser possui camadas sobre camadas de perfeições que o tornam “belo” e, por isso mesmo, pode nos transportar para uma esfera encantatória em que, por momentos, pensamos que nada mais precisamos além de sua presença, de seu calor, de seu hálito? Certamente pura ilusão. Porém, ilusão inescapável se nossos corações não se tornaram pedras. Peceba que falo em "momentos", pois há algo na ilusao que diz respieto ao desligamento dos botões do tempo. Não somos nós que apertamos o botão para que o tempo deixe de existir. Simplesmente o tempo deixa de existir e então ocorre o mergulho. E cremos, talvez com nossas mais poderosas forças, naquilo que a "suspensão do tempo" nos oferece. E nao será completamente ilusório pensar que nossa existência goze de algo fora do tempo? Naturalmente não teria sentido eu pensar: "sou feliz e sou iludido". O que corre parece ser algo como: "sou feliz". E depois: "eu era feliz (e iludido)".
Uma ultima observação. Você diz: “hoje, em pleno século XXI, [...] a mulher conquistou muito do espaço que antes era reservado apenas aos homens. Aliás, permitam-me que eu me divirta um pouco rsrs, podemos constatar que, numa proporção sem precedentes, muitas mulheres superam em muito muitos homens . Inclino-me a pensar que não muitas mulheres, hoje, superam muitos homens, mas apenas algumas mulheres superam muitos homens (talvez seja preconceito meu, mas acredito que se trata tão-somente de uma percepção diferente da tua). Penso que você passa uma idéia muito otimista sobre as diferenças entre homens e mulheres. Ao menos na academia, a impressão que tenho é que há poucas mulheres como você pensa. Portanto, são essas poucas que superam os muitos homens, isto é, a maioria, e é claro intelectualmente medíocres. O mesmo valeria para alguns homens que superam muitos.
Beijos.
* P.S. Bah, relendo o que escrevi, pude ver que ficou um mingau. Não gostei. Os parafusos ficaram soltos. Mas vou deixar assim mesmo. Quiçá tenha alguma utilidade para o inicio de uma discussão.
Parabéns pela análise, Marília. Li o livrinho hoje e gostei tbem. Achei a autora genial: antes de Nietzsche e de Hume atacou os filósofos que desprezam totalmente as paixões no cálculo da felicidade, denunciou a situação da mulher no séc. XVIII e apresentou algumas reflexões epistemológicas, como a da utilidade dos sentidos (mesmo que imperfeitos e ilusórios) para a manutenção da vida, coisa que Darwin aprofundará no século seguinte. Abraços, Flávio
Caro Flávio, muito legal seu comentário. Sua percepção é digna de nota. Quero me desculpar pela demora em publicar seu comentário e responder. Não sei o motivo, mas o blog passou a deixar de me comunicar quando há comentários e só hoje, por acaso, vi o seu. Um abraço...
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