Que figura fantástica! Num desses meus ataques de curiosidade, por conta de uma simples palavra, entrei no oráculo google e coloquei aquela palavrinha curiosa ali, a fim de fazer uma pesquisa. Eu procurava o significado específico do termo uneasiness (traduzido por inquietude, inquietação, intranqüilidade, desassossego, desconforto), visto que um texto sobre Locke me remetia ao significado que Malebranche dava a ele. Precisamente inquietude.
No entanto, minhas pesquisas levaram-me a encontrar o termo, não por acaso, em alguns links sobre Montaigne. E ali mergulhei. Li pequenos ensaios sobre ensaios. Uma coletânea. E foi inevitável. Ali, eu me identifiquei.
No entanto, minhas pesquisas levaram-me a encontrar o termo, não por acaso, em alguns links sobre Montaigne. E ali mergulhei. Li pequenos ensaios sobre ensaios. Uma coletânea. E foi inevitável. Ali, eu me identifiquei.
Já conhecia alguns Ensaios de Montaigne. Mas, ali, soube que foi ele quem criou o gênero Essays. Do alto da torre de seu castelo Montaigne recolheu-se em "uma melancólica disposição de espírito" e passou a escrever.
Nasceram os Ensaios: "uma expressão da alma humana, inacabada e insatisfeita, sucessivamente tentando, errando e aprendendo. Por meio do ensaio, imprime-se a imperfeição de maneira tão insistente que não mentiria se dissesse que ela é objeto de uma procura" (Dutra, Luíza M. Das amarras da liberdade. In: Ensaios em Arte final. BH: Fale/UFMG, 2002).
"Com total liberdade criativa, [Montaigne] lançou-se à saborosa tarefa de interpretar o mundo, elucidando suas facetas ao expor a própria visão da realidade. Nos Essays, ele inova, fazendo da digressão uma arte. O ensaio toma forma a partir daí, embora não possa ser facilmente caracterizado: um passeio por idéias e temas variados, que nunca encerra em si uma visão acabada do mundo, mas um sublime contemplar" (Horta, Ricardo Lins. Passeios Possíveis. In: Ensaios em arte final. BH: Fale/UFMG, 2002).
"Montaigne..., então, projetava-se em sua obra até que essa passava a se confundir com o próprio autor. Afinal, como ele próprio afirmou Je suis moi-même la matière de mon livre. Mosaico pessoal, impressionista e leve, que exprime a reação íntima de um indivíduo ante a realidade, ante os sentimentos ou ante as cotidianeidades da vida, sem estrutura clara ou preestabelecida, já que, também na vida, nada é assim tão claro e definido, ao contrário, o que não nos faltam são incertezas e indefinições.[...] E nesse trajeto rumo aos ensaios, é certo que de um aspecto jamais se poderá prescindir: a subjetividade. Após quatro longos séculos, o ensaio ainda pede, exige, que o autor se exponha, se mostre. É preciso que se esteja lá, no texto, ainda que o texto não trate de si”. Francisco, Denis Leandro. Ensaiando sobre Ensaio. In: Ensaios em arte final. BH: Fale/UFMG, 2002).
Depois de me reconhecer nos ensaios, do térreo de meu apartamentinho, abandonei por mais um tempo o texto de Locke e fui ler novamente alguns ensaios de Montaigne. Um deleite só!
O link no qual encontrei os (32) Ensaios em arte final (frutos de uma oficina de textos) organizados por Regina Lúcia Péret Dell’Isola, é:
http://www.letras.ufmg.br/site/publicacoes/download/ensaioemartes.pdf
2 comentários:
Marília
Parabéns pelo texto, oh querida filósofa.
Certamente não apenas eu, mas muitos de seus leitores e admiradores esperávamos pelo aparecimento de um novo post.
Eu gosto de uma passagem dos Ensaios em que Montaigne diz: “Em casa, passo muito tempo na biblioteca, de onde, de um golpe de vista, observo tudo o que ocorre em minha propriedade. Da entrada descortino o jardim, o galinheiro, o pátio e a maior parte dos cômodos. Ora folheio um livro, ora outro, sem ordem, ao acaso. Ora sonho, ora tomo notas ou dito, passeando, os devaneios que aqui se registram. Essa biblioteca situa-se no terceiro andar de uma torre. [...] Aí passo boa parte das horas e dos dias [...] Qualquer retiro exige um espaço para passear; meus pensamentos cochilam quando sento; meu espírito não anda sozinho, parece–me que o movimento é que o excita e força a trabalhar. [...] O cômodo, a não ser na parte que se encontram a mesa e a cadeira, tem uma forma circular, o que me permite ver todos os livros dispostos em cinco filas de prateleiras. [...] É meu covil; procuro fazer desse recanto um domínio pessoal, e subtraí-lo à comunidade conjugal e filial”.
Beijo.
Você demora, mas quando aparece, realmente escreve de forma sublime. Gostei muito do texto. E do comentário do Aguinaldo. Um beijo
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