domingo, outubro 30, 2016

Gotas caídas


Gotas caídas! Saindo de minhas veias azuis!
Ó gotas de mim! Vagarosas gotas caídas,
Cândidas, caídas de mim, pingos, gotas de sangue,
De ferimentos feitos para libertar-vos, de quando estáveis aprisionadas,
De minha face, de minha testa e de meus lábios,
De meus peitos, de dentro de onde eu estava escondido, pressionadas para sair, gotas vermelhas, gotas de confissão,
Manchai cada página, manchai cada canção que entoo, cada palavra que digo, gotas de sangue,
Deixai que o vosso calor escarlate seja delas conhecido, deixai que brilhem,
Saturai-as convosco até que fiquem envergonhadas e úmidas,
Resplandecei sobre tudo o que já escrevi ou escreverei ainda, gotas de sangue,
Deixai que tudo seja visto em sua própria luz, gotas enrubescidas.



[Walt Whitman. in: Folhas de Relva]